|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
AMBIENTE
Pesquisa usou simulações
Amazônia absorve gás carbônico, diz estudo
MARCELO LEITE
EDITOR DE CIÊNCIA
As revistas científicas internacionais de primeira linha continuam de olho na Amazônia. Agora é um artigo apontando a enorme capacidade de absorção de gases do efeito estufa pela floresta
que encontra guarida na revista
"Nature" (www.nature.com).
Trata-se de uma boa notícia: a
floresta amazônica, a maior do
mundo tropical, continuará contribuindo para atenuar o efeito estufa por pelo menos um século.
Em janeiro, a revista britânica e
sua concorrente norte-americana
"Science" (www.sciencemag.org)
haviam publicado artigos com
previsões catastróficas de desmatamento na região, em consequência de obras de infra-estrutura -como estradas- previstas
no plano Avança Brasil, do governo federal brasileiro.
Desta vez, não será possível alegar que os autores não são brasileiros nem contam com o aval do
Instituto Nacional de Pesquisa da
Amazônia (Inpa), de Manaus, como tentou fazer o Ministério da
Ciência e Tecnologia com o norte-americano William Laurance.
Niro Higuchi, um dos quatro pesquisadores que assinam o artigo
"Sumidouro de carbono por um
século", também é do Inpa.
Higuchi colaborou com pesquisadores da Califórnia (Jeffrey
Chambers, Edgard Tribuzy e Susan Trumbore) para construir um
modelo de computador capaz de
simular a absorção de gás carbônico (CO2) pela floresta.
Ao crescer, as árvores funcionam como uma esponja de proporções continentais (4 milhões
de quilômetros quadrados só no
Brasil, metade do território nacional). Sugam parte do CO2 lançado
na atmosfera pela homem, com a
queima de combustíveis fósseis.
Usado pelas plantas como matéria-prima da fotossíntese, o CO2 é
fixado na forma de biomassa
(principalmente madeira).
O CO2 que não é absorvido permanece na atmosfera e funciona
como os painéis de vidro de uma
casa de vegetação. Deixa passar a
energia solar em direção ao solo,
mas impede sua reflexão de volta
ao espaço. O calor aprisionado esquenta a atmosfera, fenômeno
conhecido como efeito estufa.
Desenvolvimento limpo
Há muita discussão sobre o papel das florestas tropicais nessa
dinâmica planetária. Intactas,
ajudam a combater o efeito estufa. Derrubadas e queimadas, liberam ainda mais gás carbônico na
atmosfera, contribuindo para
agravar o aquecimento global.
Com base nisso, alguns ambientalistas e pesquisadores defendem
que países como o Brasil sejam remunerados para diminuir o desmatamento, com base no chamado Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (MDL). Ele faz parte do Protocolo de Kyoto, tratado
internacional que prevê reduções
na emissão de CO2 por países ricos, mas ainda não entrou em vigor. O governo brasileiro é contra.
O artigo "pode ser lido como argumento para conservar as florestas tropicais, independentemente
do MDL", disse Higuchi, por e-mail, à Folha. "O Brasil poderia
usar o MDL para diminuir (ou até
zerar) o desmatamento."
Pelos cálculos de Higuchi e colegas, se cada tonelada de carbono
absorvida pela floresta valer US$
10, a floresta amazônica poderia
gerar um rendimento de até US$
2 bilhões a US$ 3 bilhões por ano.
É bom a Amazônia também começar a ficar de olho nas revistas
científicas internacionais.
Texto Anterior: Biotecnologia: Nasce o primeiro clone animal brasileiro Próximo Texto: Paleoantropologia: Achado novo fóssil de hominídeo Índice
|