São Paulo, segunda-feira, 22 de março de 2010

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Cavalo-marinho macho controla aborto

Peixe do sexo masculino carrega ovos em bolsa no ventre, mas pode retirar nutrientes dos filhotes em vez de nutri-los

Mecanismo garantiria que apenas prole mais saudável fosse parida; achado revela conflito de interesse entre sexos ditos "cooperativos"

Nick Ratterman/Divulgação
O macho da espécie Syngnathus scovelli, que 'engravida’...
Nick Ratterman/Divulgação
... e a fêmea, que deposita ovos na bolsa do companheiro

DA REPORTAGEM LOCAL

Parecia um caso raro e reconfortante de feminismo no reino animal: o macho que ficava "grávido", tirando esse peso dos ombros da fêmea. Mas pesquisadores nos EUA acabam de demonstrar que o suposto altruísmo dos cavalos-marinhos do sexo masculino é acompanhado pela manipulação e pelo aborto seletivo dos embriões que eles carregam na barriga.
"O que antes era visto como uma parceria igualitária entre machos e fêmeas, ambos investindo pesado em seus filhotes, tomou as feições de um conflito sexual oculto", resume Anders Berglund, do Departamento de Ecologia e Evolução da Universidade de Uppsala (Suécia), que comentou a descoberta para a revista científica "Nature".
As revelações sobre a verdadeira face da gravidez nesses peixes foram publicadas na mesma edição da "Nature" por dois cientistas da Universidade A&M do Texas, Kimberly Paczolt e Adam Jones. A dupla estudou um tipo esguio de cavalo-marinho, a espécie Syngnathus scovelli, ou peixe-cachimbo. A suspeita de que algo não muito agradável estaria ocorrendo em algumas gestações veio da constatação de que o papai grávido tanto pode enviar nutrientes para os embriões quanto sugar substâncias dos filhotes, o que poderia lhes fazer mal.
Em laboratório, os cientistas manipularam os acasalamentos da espécie. Na natureza, cada macho recebe os ovos de apenas uma fêmea por gestação, embora cada fêmea possa "engravidar" vários machos. Já nos aquários da universidade, tanto machos quanto fêmeas ficavam com apenas um parceiro. A gravidez era monitorada e havia uma rodada seguinte, na qual havia uma nova gestação.
Os pesquisadores verificaram, primeiro, que as ninhadas maiores e mais saudáveis vinham quando os machos se acasalavam com fêmeas grandes e de boa saúde. Viram também que, quando o macho se unia a uma dessas fêmeas de "alta qualidade" e depois tinha de se acasalar com uma menorzinha, acabavam nascendo muito menos filhotes da união.
Ao que parece, afirmam eles, os "grávidos" usam mecanismos de aborto seletivo para eliminar ou absorver os ovos pouco viáveis e garantir o maior número possível de filhotes de alto nível. (REINALDO JOSÉ LOPES)


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