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Acordo de Copenhague
aumentará CO2, diz grupo
Metas voluntárias e buracos legais põem o mundo rumo a 3C de aquecimento
Segundo autores de artigo na "Nature", trajetória de emissões é como "correr na direção de um penhasco e esperar parar na beirinha"
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um grupo de pesquisadores
da Alemanha acaba de pôr em
números algo que todo mundo
já sabia: o Acordo de Copenhague é incapaz de manter o
aquecimento global em 2C,
seu objetivo declarado. Na verdade, argumentam, ele pode
produzir o efeito inverso: fazer
as emissões globais subirem e
com elas os termômetros.
A conta foi feita por Joeri Rogelj, Malte Meinshausen e colegas, do Instituto de Pesquisa de
Impactos Climáticos de Potsdam, e publicada na edição de
hoje do periódico "Nature".
Os cientistas se basearam nas
promessas de corte de emissões feitas até o último dia 13
por 76 países que aderiram ao
acordo, produzido na cúpula do
clima de dezembro passado.
A conferência na Dinamarca
terminou sem um acordo global e legalmente vinculante de
corte de emissões de gases-estufa para o período 2013-2020.
Produziu um documento frouxo, sem metas de longo prazo,
no qual os países anotariam
seus compromissos voluntários de redução para 2020.
"Como não sabíamos que
propostas os países inscreveriam, não tínhamos como saber
qual seria o nível real de ambição do Acordo de Copenhague", disse Meinshausen à Folha. "Sabemos agora, e ele calha
de ser inadequado para cumprir a meta de 2C."
Os alemães inseriram os valores mínimos e máximos das
propostas num modelo computacional de resposta do clima a
emissões de origem humana.
A conclusão é que, se o acordo for seguido, o mundo chegará a 2020 com emissões anuais
de 47,9 bilhões a 53,6 bilhões de
toneladas de gás carbônico
equivalente (a soma das emissões de todos os gases-estufa
"convertidas" em CO2).
No entanto, para ter uma
chance igual ou maior do que
50% de manter o aquecimento
num máximo de 2C -nível
considerado seguro, as emissões anuais máximas teriam de
ser de 44 bilhões de toneladas.
Deixa que eu deixo
A trajetória insustentável do
acordo se coloca por duas razões. Primeiro, o voluntarismo
do texto faz os países inscreverem como metas aquilo que demanda o menor esforço. Japão
e Noruega são os únicos países
ricos que apresentaram propostas nos valores recomendados pelo IPCC (painel do clima
da ONU), de corte de 25% a
40% no CO2 em relação aos níveis de emissão de 1990.
Depois, por sua natureza jurídica frouxa, o acordo não
proíbe o uso de créditos de carbono em excesso gerados pelo
Protocolo de Kyoto. Meinshausen estima que haja 12 bilhões
de toneladas de gás carbônico
em créditos "ocos", ou seja, que
não corresponderam a um esforço de redução de emissões
-são apenas um truque contábil de Kyoto para facilitar o
cumprimento das metas.
O modelo dos alemães estima que esses "buracos" no
acordo dão uma chance maior
do que 50% de que o aquecimento ultrapasse os 3C em
2100. "Se nos próximos dez
anos o Acordo de Copenhague
for tudo o que temos, então teremos travado o mundo numa
trajetória de emissões relativamente alta até lá", diz Meinshausen. "Emitir 48 bilhões de
toneladas de CO2 equivalente
em 2020 é o mesmo que correr
na direção de um penhasco e
torcer para parar na beirinha."
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