São Paulo, sábado, 22 de agosto de 2009

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Traje-robô ligará cérebro e máquina, diz brasileiro

Neurocientista Miguel Nicolelis, radicado nos EUA, apresenta esboço de aparelho que poderá devolver locomoção a paralisados

DO ENVIADO A ÁGUAS DE LINDOIA

Miguel Nicolelis, o neurocientista brasileiro que quer criar próteses robóticas diretamente integradas ao cérebro de pessoas com dificuldades de locomoção, apresentou um primeiro rascunho desse projeto ambicioso na reunião da Fesbe no interior paulista. A ideia, diz ele, é criar um exoesqueleto -um traje-robô que seria ao mesmo tempo as pernas e braços do paralisado.
Para isso, Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke (EUA) e no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (RN), está colaborando com o especialista em robótica Gordon Cheng. "O Gordon, aliás, veio só duas vezes ao Brasil, mas já pegou o espírito", brincou Nicolelis, mostrando uma concepção artística do exoesqueleto, que lembra vagamente um Robocop verde-amarelo.
O pesquisador já demonstrou ser possível criar uma conexão direta entre cérebro e máquinas por meio de eletrodos, os quais podem "ler" a atividade dos neurônios e interpretá-la como um sinal para mover membros robóticos.
A intenção agora, afirma, é refinar o "fechamento" desse circuito, mandando informações do futuro exoesqueleto para o cérebro, como o tato de um braço ou de uma perna reais. Isso vai ser possível, em parte, com microestimulação neuronal, ou seja, a aplicação de eletrodos diretamente no cérebro do paciente.
Nicolelis e seu grupo dizem que conseguiram captar sinais de 10 mil neurônios individuais -o maior número registrado até agora. "Mas a gente deve apostar num sistema misto, com sensores, por exemplo, nas juntas dos membros do exoesqueleto. Eles seriam equivalentes aos nossos reflexos", conta.
Recebido como celebridade no evento -os pedidos de fotos e autógrafos com estudantes quase impediram que falasse com jornalistas-, Nicolelis reiterou a intenção de que o primeiro a usar o exoesqueleto seja um brasileiro, mas disse que ainda não era possível falar em datas para o teste.
Como indicação do que estava por vir, ele projetou um vídeo de uma das macacas de seu laboratório andando numa esteira e enviando suas ondas cerebrais para fazer um robô caminhar no Japão. Trata-se de um exemplo do que Nicolelis chama de "escalagem de força" -uma macaquinha fazendo um robô de 150 kg andar.
Questionado sobre se temia o uso militar se suas pesquisas, respondeu: "Por que vocês da Folha são tão negativos?"
Em seguida, pegou uma tampa de caneta e exemplificou: "Existem 20 e tantas maneiras de matar uma pessoa usando isso aqui. Mas eu também posso usar a caneta para fazer uma traqueostomia e salvar vidas. É a mesma coisa com essa tecnologia. Tenho certeza de que a gente vai salvar vidas muito antes de tirá-las com a conexão cérebro-máquina." (RJL)


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