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Traje-robô ligará cérebro e máquina, diz brasileiro
Neurocientista Miguel Nicolelis, radicado nos EUA, apresenta esboço de aparelho que poderá devolver locomoção a paralisados
DO ENVIADO A ÁGUAS DE LINDOIA
Miguel Nicolelis, o neurocientista brasileiro que quer
criar próteses robóticas diretamente integradas ao cérebro de
pessoas com dificuldades de locomoção, apresentou um primeiro rascunho desse projeto
ambicioso na reunião da Fesbe
no interior paulista. A ideia, diz
ele, é criar um exoesqueleto
-um traje-robô que seria ao
mesmo tempo as pernas e braços do paralisado.
Para isso, Nicolelis, que trabalha na Universidade Duke
(EUA) e no Instituto Internacional de Neurociências de Natal Edmond e Lily Safra (RN),
está colaborando com o especialista em robótica Gordon
Cheng. "O Gordon, aliás, veio
só duas vezes ao Brasil, mas já
pegou o espírito", brincou Nicolelis, mostrando uma concepção artística do exoesqueleto, que lembra vagamente um
Robocop verde-amarelo.
O pesquisador já demonstrou ser possível criar uma conexão direta entre cérebro e
máquinas por meio de eletrodos, os quais podem "ler" a atividade dos neurônios e interpretá-la como um sinal para
mover membros robóticos.
A intenção agora, afirma, é
refinar o "fechamento" desse
circuito, mandando informações do futuro exoesqueleto
para o cérebro, como o tato de
um braço ou de uma perna
reais. Isso vai ser possível, em
parte, com microestimulação
neuronal, ou seja, a aplicação
de eletrodos diretamente no
cérebro do paciente.
Nicolelis e seu grupo dizem
que conseguiram captar sinais
de 10 mil neurônios individuais
-o maior número registrado
até agora. "Mas a gente deve
apostar num sistema misto,
com sensores, por exemplo, nas
juntas dos membros do exoesqueleto. Eles seriam equivalentes aos nossos reflexos", conta.
Recebido como celebridade
no evento -os pedidos de fotos
e autógrafos com estudantes
quase impediram que falasse
com jornalistas-, Nicolelis reiterou a intenção de que o primeiro a usar o exoesqueleto seja um brasileiro, mas disse que
ainda não era possível falar em
datas para o teste.
Como indicação do que estava por vir, ele projetou um vídeo de uma das macacas de seu
laboratório andando numa esteira e enviando suas ondas cerebrais para fazer um robô caminhar no Japão. Trata-se de
um exemplo do que Nicolelis
chama de "escalagem de força"
-uma macaquinha fazendo um
robô de 150 kg andar.
Questionado sobre se temia o
uso militar se suas pesquisas,
respondeu: "Por que vocês da
Folha são tão negativos?"
Em seguida, pegou uma tampa de caneta e exemplificou:
"Existem 20 e tantas maneiras
de matar uma pessoa usando
isso aqui. Mas eu também posso usar a caneta para fazer uma
traqueostomia e salvar vidas. É
a mesma coisa com essa tecnologia. Tenho certeza de que a
gente vai salvar vidas muito antes de tirá-las com a conexão
cérebro-máquina."
(RJL)
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