|
Próximo Texto | Índice
NANOTECNOLOGIA
Circuito se baseia em proteína envolvida na fotossíntese; sistema se mantém estável sem uso de água
Cientistas usam espinafre em placa solar
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma equipe formada por pesquisadores de três instituições
americanas afirma ter criado a
primeira placa solar baseada em
um dos sistemas energéticos primordiais da natureza: a fotossíntese. O experimento foi publicado
na revista "NanoLetters", da Sociedade Americana de Química.
Os cientistas usaram cloroplastos do espinafre como base para
criar um nanocircuito, denominado Photosystem 1, ou PS1. O
circuito tem de 10 a 20 nanômetros de diâmetro -só para dar
uma idéia do tamanho, seriam
necessários 100 mil desses sistemas para preencher uma única
cabeça de alfinete.
O espinafre foi escolhido por ser
uma planta extremamente eficiente no trabalho de fotossíntese:
a capacidade de produzir energia
desse vegetal é alta se comparada
a seu tamanho e peso, diz o grupo.
Estudos anteriores já mostraram que sistemas artificiais baseados em cloroplastos podem ser
usados pelo homem para captar a
energia solar. Mas até hoje só se
obteve resultados satisfatórios em
soluções aquosas, nas quais as
proteínas vegetais responsáveis
pela síntese da luz solar encontram uma situação similar à observada na natureza.
Acontece que água e componentes eletrônicos raramente se
misturam com sucesso. Então,
como aplicar tais sistemas na prática, para fornecer energia a aparelhos como telefones celulares?
Era preciso "secar" o sistema fotossintético, sem perder estabilidade nem capacidade no processo.
Estabilidade
É onde entra o trabalho de Shuguang Zhang, do Centro de Engenharia Biomédica do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Ele descobriu que algumas
proteínas -como a responsável
pela captação da luz no espinafre- podem ser mantidas estáveis e funcionais em placas sólidas
por algumas semanas quando é
usada uma determinada solução
de peptídeos, que nada mais são
do que pedaços de proteínas.
Os cientistas acreditam que tal
solução contenha algumas moléculas de água (assim como sementes possuem óleo em seu interior para garantir a sobrevivência em ambientes inóspitos) em
quantidade suficiente para "enganar" a proteína e manter o sistema estável.
Para montar a placa, eles prenderam os nanocircuitos de espinafre com uma fina camada de
ouro, que orienta as reações químicas. O sistema foi disposto sobre uma placa de metal, com um
material semicondutor orgânico
no meio para impedir curtos-circuitos. Na parte de cima, os cientistas usaram uma placa de vidro
transparente, coberta por uma liga condutora normalmente usado em aparelhos fotossensíveis.
Produtividade
A placa construída pela equipe
está ainda não parece interessante
para ser produzida em escala industrial: ao estimular o sistema
com laser, a energia obtida sustenta circuitos abertos de apenas 1
Volt, e somente 12% da luz absorvida foi convertida. Porém, os
pesquisadores esperam elevar o
índice de conversão para 20% ou
mais ao criar placas com diversas
camadas dos nanocircuitos.
Além da equipe do MIT, liderada por Zhang e Marc Baldo, do
Departamento de Engenharia
Elétrica e Ciência da Computação, também assinam o trabalho
pesquisadores da Universidade
do Tennessee e do Laboratório de
Pesquisa Naval dos EUA.
O interesse do Pentágono se estende ao financiamento: tanto a
Agência da Defesa de Projetos
Avançados de Pesquisa quanto o
Departamento da Força Aérea para Pesquisa Científica fornecem
verbas para o trabalho, além da
Fundação Nacional de Ciência.
(CRISTINA AMORIM)
Próximo Texto: Amazônia: Chefe do Bird se diz preocupado com soja Índice
|