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AMAZÔNIA
ONGs pedem ao Banco Mundial que evite abrir precedente para financiar atividades de alto impacto ambiental
Chefe do Bird se diz preocupado com soja
DA REDAÇÃO
O presidente do Bird (Banco
Mundial), James Wolfensohn,
disse ontem a ambientalistas brasileiros estar "preocupado com a
introdução da soja" na Amazônia
e disse que irá analisar pedido feito por eles de exigir avaliação ambiental rigorosa de um projeto do
banco para financiar a expansão
da lavoura em Mato Grosso.
Durante uma teleconferência
com representantes do Fórum
das ONGs brasileiras, que reúne
19 entidades, Wolfensohn afirmou que se sentaria com colegas
do banco e do IFC (braço do Bird
que cuida de financiamento à iniciativa privada) para "discutir a
classificação desse projeto".
A Folha adiantou no último domingo que as ONGs tentam convencer o Banco Mundial a classificar de forma diferente um pedido
de financiamento de US$ 30 milhões do Grupo André Maggi
-de propriedade da família do
governador do Estado, Blairo
Maggi- para expandir em 250
mil toneladas anuais a produção
de soja no leste de Mato Grosso.
A categoria proposta pelos ambientalistas é a A (alto risco ambiental). O pedido feito pela empresa ao IFC propõe que o projeto
seja posto na categoria B (menor
risco). A proposta deve ser votada
amanhã pelo Conselho do IFC.
Nos últimos dois meses, as
ONGs escreveram a Wolfensohn
duas vezes pedindo que o banco
reavaliasse o projeto. "Só ontem
[anteontem] tomei conhecimento de sua carta", afirmou.
O Grupo Maggi afirma que a expansão da soja não é um fator de
alto risco ambiental. Os sojicultores geralmente ocupam áreas nas
quais a floresta já havia sido derrubada -primeiro seletivamente, para a extração de madeira, depois em corte raso, para pasto. "A
soja praticamente não abre fronteira", disse à Folha o diretor ambiental da Maggi, Ocimar Villela.
Ele afirma que o grupo empresarial nunca foi consultado pelas
ONGs sobre a reclassificação do
pedido de financiamento, mas
que já havia sido comunicado pelo próprio IFC que o projeto estava sendo reavaliado. "Nunca nos
chamaram para conversar."
Para Roberto Smeraldi, da ONG
Amigos da Terra, a questão diz
menos respeito ao Grupo Maggi
que ao Bird, que tem um registro
histórico de financiamentos a
projetos social e ambientalmente
danosos no passado.
"Ao dizer que pode emprestar
[dinheiro] para a Maggi na categoria A, [o banco] pode emprestar também para a Bunge ou para
a Cargill, por que não?" Segundo
Smeraldi, isso pode criar "um
precedente para soja, algodão e
até gado na Amazônia".
Villela diz que a questão do precedente é relativa. "Primeiro, é
preciso saber de que parte da
Amazônia se está falando."
A área para a qual se pleiteia o financiamento, o leste de Mato
Grosso, compreende as cabeceiras do rio Xingu e o próprio Parque Indígena do Xingu. Ela está
na chamada mata amazônica de
transição, o ecossistema mais
ameaçado da Amazônia.
A conta de Smeraldi é que uma
expansão de 250 mil toneladas de
soja ao ano -equivalentes a 80
mil hectares de plantações novas- necessitaria de até 300 mil
hectares de propriedades, para
cumprir a exigência de reserva legal. "Ali, para instalar propriedades de 300 mil hectares, ou você
entra em áreas novas ou desloca
pecuária", disse.
(CLAUDIO ANGELO)
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