|
Texto Anterior | Índice
Humanos não ficaram na Beríngia por 20 mil anos, diz estudo
Para grupo brasileiro, modelo de povoamento das Américas em três etapas ainda é válido, o problema é saber com precisão as idades de todas migrações
EDUARDO GERAQUE
ENVIADO ESPECIAL A SALVADOR
Em se tratando da história da
ocupação humana das Américas a discórdia científica está
sempre presente. Desta vez, o
grande problema é o número
de anos que os humanos teriam
ficado estacionados na Beríngia -zona atualmente submersa que ligava os continentes
asiático e americano.
Para Sandro Bonatto, geneticista da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do
Sul, e seus colaboradores está
errado quem defende que os
humanos permaneceram uns
20 mil anos estacionados na
mesma região, depois de terem
deixado a Ásia e antes de migrarem em definitivo para o norte
da América do Norte.
"Hoje nós sabemos, via dados
genéticos, que eles ficaram um
tempo parados na Beríngia.
Mas só dá para dizer que isso foi
por mais de 5 mil anos", disse
Bonatto à Folha. O cientista
explicitou sua desconfiança em
apresentação feita no 54º Congresso Brasileiro de Genética,
realizado na semana passada
em Salvador (BA).
Segundo o grupo gaúcho, que
também publicou um artigo
sobre o mesmo tema na revista
científica "PLoS One" do dia 17
de setembro, isso não invalida
o modelo de ocupação das
Américas conhecido no meio
científico como o do de três estágios. Porém, ainda faltam dados para que todas as datas das
migrações sejam estabelecidas.
A crítica científica feita por
Bonatto em Salvador é destinada a um trio de cientistas da
Universidade da Flórida
(EUA). Foram os três que calcularam, no início deste ano, a
estadia dos humanos na Beríngia em 20 mil anos.
Porém, o mesmo grupo, em
outro artigo também publicado
na "PLoS One" na semana passada, reconhece os erros de cálculo. Eles admitiram terem
usado, por engano, amostras de
não americanos na pesquisa.
"Sobre os três estágios, é possível dizer que os humanos começaram a migrar na Ásia há
mais de 40 mil anos e, depois,
entraram nas Américas há 18
mil anos", diz Bonatto. Segundo o cientista, o grande problema é dizer quando o segundo
estágio (a chegada na Beríngia)
realmente teria começado.
Mesmo errando no cálculo
dos 20 mil anos, o grupo da
Flórida, no seu mais recente
artigo, estima a permanência
na Beríngia entre 30 mil e 16
mil anos. A discórdia, portanto,
ainda não acabou.
Índios do Chaco
A bióloga Sídia Callegari-Jacques, da UFRGS (Universidade
Federal do Rio Grande do Sul),
também usou sua apresentação
no Congresso de Genética para
levantar outro debate.
Para ela, existem dados genéticos suficientes para afirmar
que a América do Sul tem três
grupos gênicos de índios.
Além dos grupos bastante conhecidos da zona andina e da
zona amazônica, Callegari-Jacques afirma que existe possivelmente um terceiro, no centro-sul da América do Sul, onde
está o Chaco argentino.
"E alguns marcadores genéticos mostram que os índios
desse grupo do Chaco estão
mais perto dos indígenas dos
Andes do que dos amazônicos."
Texto Anterior: Aquecimento pára LHC por dois meses Índice
|