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Comissão do acidente com foguete
VLS deve prorrogar investigações
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
A comissão de investigação do
acidente que matou 21 pessoas no
Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, deve prorrogar por mais 30 dias o prazo para
apresentar suas conclusões finais.
Segundo a Folha apurou com
engenheiros do IAE (Instituto de
Aeronáutica e Espaço), não haveria ainda material suficiente para
apresentar um relatório satisfatório e completo. As causas que levaram ao surgimento de uma corrente elétrica que disparou um
dos motores do primeiro estágio
do VLS-1 (Veículo Lançador de
Satélites) e provocou o incêndio
fatal, há exatos dois meses, ainda
não foram esclarecidas pelos investigadores.
Apesar da integração de três
cientistas de fora do projeto na
comissão estabelecida pela Aeronáutica, o ambiente das investigações continua sendo sigiloso.
Quando o prazo foi prorrogado
pela primeira vez, há um mês, foi
dito que haveria informes públicos periódicos do progresso das
investigações. Segundo disse na
época Fernando Rizzo, engenheiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e um dos
três convidados de fora do projeto
a integrar a comissão, a idéia de
relatos periódicos sugerida pelo
trio havia sido acatada pela comissão. Desde então, o grupo de
investigadores não voltou a se
manifestar publicamente.
Dois pesos
Para efeito de contraste, a comissão independente criada nos
Estados Unidos para investigar o
acidente com o ônibus espacial
Columbia realizava audiências
públicas semanais e mantinha um
site atualizado na internet, com
documentos e laudos. O site do
VLS foi desativado, e na página da
Força Aérea Brasileira na internet
(www.fab.mil.br) tampouco há
dados atualizados.
A comissão está sob o comando
do brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto do Nascimento, vice-diretor do CTA (Centro Técnico
Aeroespacial), instituição-mãe do
IAE, órgão responsável pelo projeto do VLS. Vários dos membros
da comissão são gerentes do projeto, o que estaria causando mal-estar durante a coleta de depoimentos para a investigação.
Segundo a Folha apurou, Mauro Dolinsky, um dos membros da
comissão e vice-diretor da operação de lançamento do VLS que resultou no acidente de Alcântara,
teria confrontado um dos funcionários do CTA após um depoimento à comissão considerado
desfavorável. A atitude foi debatida internamente e chegou aos ouvidos de Couto. Dolinsky, que
continua trabalhando na comissão, se recusou a falar com a Folha para dar sua versão dos fatos.
Couto está tendo de administrar
os problemas inerentes à formação da comissão, da qual não participou. Ele "herdou" a atual equipe, estabelecida antes que ele fosse nomeado para presidi-la. Desde então, tem convidado mais técnicos e engenheiros para integrá-la. Para ampliar o sucesso das investigações, a comissão foi dividida em quatro, e cada uma das subunidades deve estudar um aspecto do acidente: técnico, operações, materiais e fator humano.
Apesar do caráter ainda inconclusivo nas investigações, no IAE
estão sendo conduzidos estudos
para a reconstrução da torre de
lançamento do VLS, que pode ou
não ter tido relação com o acidente de 22 de agosto. Após os protestos de alguns engenheiros, a direção do IAE teria lavado as mãos,
segundo a Folha apurou, diante
de uma determinação que teria
vindo "de cima" (de Brasília).
Nos dias logo após a tragédia, o
presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a intenção de promover um novo lançamento do
VLS até o final de seu mandato. A
idéia foi reforçada ontem por
uma declaração do ministro da
Defesa, José Viegas, que anunciou
que o quarto protótipo da série
deve ser lançado até 2006.
Participação ucraniana
Segundo Viegas, será incorporada ao veículo tecnologia ucraniana. Ontem, em Brasília, os dois
países assinaram um convênio de
cooperação técnica espacial no
valor de US$ 160 milhões.
Cientistas e técnicos brasileiros
participarão da construção do
Cyclone-4, um veículo lançador
de satélites ucraniano de grande
porte, e da adaptação necessária
ao Centro de Lançamento de Alcântara para permitir decolagens
do foguete a partir daquela base.
A idéia é criar uma joint venture
Brasil-Ucrânia para promover
lançamentos comerciais.
"A tecnologia ucraniana não
muda o nosso programa espacial,
mas acrescenta um capítulo importante na afirmação de Alcântara como um centro internacional de lançamentos e cria a oportunidade de um intercâmbio específico na área de lançadores",
afirmou Viegas.
O presidente Lula afirmou ontem que a melhor expressão dos
acordos entre Brasil e Ucrânia são
as cooperações na área espacial.
Lula criticou países que têm políticas armamentistas e que desrespeitam as determinações dos organismos multilaterais. Lula discursou antes de almoçar, no Itamaraty, com o presidente da
Ucrânia, Leonid Kuchma.
No total, sete acordos foram firmados entre Brasil e Ucrânia, dois
deles ligados à área espacial.
Colaborou a Sucursal de Brasília
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