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São Paulo, quarta-feira, 22 de outubro de 2003

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Comissão do acidente com foguete VLS deve prorrogar investigações

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A comissão de investigação do acidente que matou 21 pessoas no Centro de Lançamento de Alcântara, no Maranhão, deve prorrogar por mais 30 dias o prazo para apresentar suas conclusões finais.
Segundo a Folha apurou com engenheiros do IAE (Instituto de Aeronáutica e Espaço), não haveria ainda material suficiente para apresentar um relatório satisfatório e completo. As causas que levaram ao surgimento de uma corrente elétrica que disparou um dos motores do primeiro estágio do VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites) e provocou o incêndio fatal, há exatos dois meses, ainda não foram esclarecidas pelos investigadores.
Apesar da integração de três cientistas de fora do projeto na comissão estabelecida pela Aeronáutica, o ambiente das investigações continua sendo sigiloso.
Quando o prazo foi prorrogado pela primeira vez, há um mês, foi dito que haveria informes públicos periódicos do progresso das investigações. Segundo disse na época Fernando Rizzo, engenheiro da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e um dos três convidados de fora do projeto a integrar a comissão, a idéia de relatos periódicos sugerida pelo trio havia sido acatada pela comissão. Desde então, o grupo de investigadores não voltou a se manifestar publicamente.

Dois pesos
Para efeito de contraste, a comissão independente criada nos Estados Unidos para investigar o acidente com o ônibus espacial Columbia realizava audiências públicas semanais e mantinha um site atualizado na internet, com documentos e laudos. O site do VLS foi desativado, e na página da Força Aérea Brasileira na internet (www.fab.mil.br) tampouco há dados atualizados.
A comissão está sob o comando do brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto do Nascimento, vice-diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), instituição-mãe do IAE, órgão responsável pelo projeto do VLS. Vários dos membros da comissão são gerentes do projeto, o que estaria causando mal-estar durante a coleta de depoimentos para a investigação.
Segundo a Folha apurou, Mauro Dolinsky, um dos membros da comissão e vice-diretor da operação de lançamento do VLS que resultou no acidente de Alcântara, teria confrontado um dos funcionários do CTA após um depoimento à comissão considerado desfavorável. A atitude foi debatida internamente e chegou aos ouvidos de Couto. Dolinsky, que continua trabalhando na comissão, se recusou a falar com a Folha para dar sua versão dos fatos.
Couto está tendo de administrar os problemas inerentes à formação da comissão, da qual não participou. Ele "herdou" a atual equipe, estabelecida antes que ele fosse nomeado para presidi-la. Desde então, tem convidado mais técnicos e engenheiros para integrá-la. Para ampliar o sucesso das investigações, a comissão foi dividida em quatro, e cada uma das subunidades deve estudar um aspecto do acidente: técnico, operações, materiais e fator humano.
Apesar do caráter ainda inconclusivo nas investigações, no IAE estão sendo conduzidos estudos para a reconstrução da torre de lançamento do VLS, que pode ou não ter tido relação com o acidente de 22 de agosto. Após os protestos de alguns engenheiros, a direção do IAE teria lavado as mãos, segundo a Folha apurou, diante de uma determinação que teria vindo "de cima" (de Brasília).
Nos dias logo após a tragédia, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva manifestou a intenção de promover um novo lançamento do VLS até o final de seu mandato. A idéia foi reforçada ontem por uma declaração do ministro da Defesa, José Viegas, que anunciou que o quarto protótipo da série deve ser lançado até 2006.

Participação ucraniana
Segundo Viegas, será incorporada ao veículo tecnologia ucraniana. Ontem, em Brasília, os dois países assinaram um convênio de cooperação técnica espacial no valor de US$ 160 milhões.
Cientistas e técnicos brasileiros participarão da construção do Cyclone-4, um veículo lançador de satélites ucraniano de grande porte, e da adaptação necessária ao Centro de Lançamento de Alcântara para permitir decolagens do foguete a partir daquela base. A idéia é criar uma joint venture Brasil-Ucrânia para promover lançamentos comerciais.
"A tecnologia ucraniana não muda o nosso programa espacial, mas acrescenta um capítulo importante na afirmação de Alcântara como um centro internacional de lançamentos e cria a oportunidade de um intercâmbio específico na área de lançadores", afirmou Viegas.
O presidente Lula afirmou ontem que a melhor expressão dos acordos entre Brasil e Ucrânia são as cooperações na área espacial. Lula criticou países que têm políticas armamentistas e que desrespeitam as determinações dos organismos multilaterais. Lula discursou antes de almoçar, no Itamaraty, com o presidente da Ucrânia, Leonid Kuchma.
No total, sete acordos foram firmados entre Brasil e Ucrânia, dois deles ligados à área espacial.


Colaborou a Sucursal de Brasília


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