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Resfriamento global é mito, diz estudo
Pesquisa afirma que o suposto consenso entre os cientistas sobre o esfriamento do planeta nos anos 1970 nunca existiu
Apenas sete artigos de 72
publicados na época viam
risco de nova era glacial;
fato é apontado por céticos
para criticar efeito estufa
DOYLE RICE
"DO USA TODAY"
O suposto consenso científico sobre o "resfriamento global" da década de 1970 -freqüentemente apontado pelos
céticos do aquecimento global
como uma prova de que os climatologistas não conseguem se
entender- é um mito, segundo
uma pesquisa que avaliou a literatura científica daquela época.
Os anos 1970 foram uma década incomumente fria. Jornais e revistas como o "The
New York Times" e a "National
Geographic" publicaram artigos na época especulando sobre as causas desse resfriamento e a possibilidade de uma nova era glacial.
Mas Thomas Peterson, do
Centro Nacional de Dados Climáticos dos EUA, revisitou dezenas de artigos científicos validados (que passaram por
"peer-review", ou revisão por
outros cientistas) de 1965 a
1979 e descobriu que apenas sete apoiavam o resfriamento
global, enquanto 44 previam
aquecimento. Peterson diz que
20 outros artigos eram neutros
em suas avaliações de tendências climáticas.
"Não havia consenso científico nos anos 1970 de que a Terra
estava para entrar numa era
glacial", afirma o novo estudo.
"Uma revisão da literatura
sugere que, ao contrário, até
mesmo naquela época o aquecimento global dominava o
pensamento dos cientistas sobre as forças mais importantes
que moldavam o clima da Terra
em escalas de tempo perceptíveis aos humanos."
Peterson, que também contribuiu com o relatório de 2007
do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), disse que ficou "surpreso"
ao ver que a noção de aquecimento dominava tanto a literatura naquela época.
Relatórios científicos divulgados ao longo da última década, em especial os do IPCC, têm
alertado, um após o outro, que
as atividades humanas estão
esquentando o planeta ao aumentarem as concentrações de
gases de efeito estufa no ar.
Céticos
Os céticos da noção de mudança climática causada por
humanos têm argumentado
que a mudança climática é cíclica e não impulsionada pela
queima de combustíveis fósseis
como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural. Peterson
ressalta em seu estudo que as
preocupações com a fria década de 1970 se tornaram depois
representativas de uma suposta divisão científica sobre o
aquecimento global.
Aquela década foi especialmente fria, em particular no
hemisfério Norte. Nos Estados
Unidos, os invernos de 1977 a
1979 foram três dos 11 mais
frios desde que os registros de
temperatura começaram a ser
feitos, nos anos 1890. O inverno
de 1978-1979 até hoje é o mais
frio já registrado no país.
Notícia fria
Assim como é difícil para as
pessoas hoje pensarem em
aquecimento global no meio do
inverno, também era difícil para o público e para os meios de
comunicação nos países ricos
focalizar em um mundo que se
aquecia enquanto as pessoas se
viam mergulhadas em invernos
tão rigorosos.
No entanto, como Peterson
aponta em seu estudo, "mesmo
uma olhada apressada na cobertura da imprensa sobre o tema revela que, assim como não
havia consenso entre os cientistas, tampouco havia consenso entre os jornalistas".
Alguns pesquisadores manifestaram dúvidas sobre o novo
levantamento. "O estudo não
coloca a década de 1970 em seu
contexto climatológico", diz
Pat Michaels, estudioso ambiental do Instituto Cato, em
Washington.
"Os registros de temperatura
que nós tínhamos na época
mostravam um resfriamento
muito agudo da década de 1940
até o meio da década de 1970",
afirma. "E os cientistas tentaram explicar aquilo como uma
conseqüência da poluição [partículas de enxofre, principalmente] que impedia a radiação
solar de chegar à superfície."
"Naquela época, os cientistas
achavam que o efeito resfriador
da poluição era mais forte que o
efeito de aquecimento do dióxido de carbono [o principal gás
de efeito estufa]", continua.
Mas Robert Henson, jornalista do Centro Nacional de
Pesquisa Atmosférica e autor
de "O Guia Geral da Mudança
Climática", afirma: "Esta é uma
parte importante da história da
ciência, e Peterson e seus colegas fizeram um excelente trabalho ao escavá-la."
O estudo também tem como
co-autores William Connoly,
do Serviço Antártico Britânico,
e Jon Fleck, do Albuquerque
Journal. Ele será publicado no
"Boletim da Sociedade Meteorológica Americana".
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