São Paulo, sábado, 23 de fevereiro de 2008

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Resfriamento global é mito, diz estudo

Pesquisa afirma que o suposto consenso entre os cientistas sobre o esfriamento do planeta nos anos 1970 nunca existiu

Apenas sete artigos de 72 publicados na época viam risco de nova era glacial; fato é apontado por céticos para criticar efeito estufa

DOYLE RICE
"DO USA TODAY"

O suposto consenso científico sobre o "resfriamento global" da década de 1970 -freqüentemente apontado pelos céticos do aquecimento global como uma prova de que os climatologistas não conseguem se entender- é um mito, segundo uma pesquisa que avaliou a literatura científica daquela época.
Os anos 1970 foram uma década incomumente fria. Jornais e revistas como o "The New York Times" e a "National Geographic" publicaram artigos na época especulando sobre as causas desse resfriamento e a possibilidade de uma nova era glacial.
Mas Thomas Peterson, do Centro Nacional de Dados Climáticos dos EUA, revisitou dezenas de artigos científicos validados (que passaram por "peer-review", ou revisão por outros cientistas) de 1965 a 1979 e descobriu que apenas sete apoiavam o resfriamento global, enquanto 44 previam aquecimento. Peterson diz que 20 outros artigos eram neutros em suas avaliações de tendências climáticas.
"Não havia consenso científico nos anos 1970 de que a Terra estava para entrar numa era glacial", afirma o novo estudo.
"Uma revisão da literatura sugere que, ao contrário, até mesmo naquela época o aquecimento global dominava o pensamento dos cientistas sobre as forças mais importantes que moldavam o clima da Terra em escalas de tempo perceptíveis aos humanos."
Peterson, que também contribuiu com o relatório de 2007 do IPCC (Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática), disse que ficou "surpreso" ao ver que a noção de aquecimento dominava tanto a literatura naquela época.
Relatórios científicos divulgados ao longo da última década, em especial os do IPCC, têm alertado, um após o outro, que as atividades humanas estão esquentando o planeta ao aumentarem as concentrações de gases de efeito estufa no ar.

Céticos
Os céticos da noção de mudança climática causada por humanos têm argumentado que a mudança climática é cíclica e não impulsionada pela queima de combustíveis fósseis como o petróleo, o carvão mineral e o gás natural. Peterson ressalta em seu estudo que as preocupações com a fria década de 1970 se tornaram depois representativas de uma suposta divisão científica sobre o aquecimento global.
Aquela década foi especialmente fria, em particular no hemisfério Norte. Nos Estados Unidos, os invernos de 1977 a 1979 foram três dos 11 mais frios desde que os registros de temperatura começaram a ser feitos, nos anos 1890. O inverno de 1978-1979 até hoje é o mais frio já registrado no país.

Notícia fria
Assim como é difícil para as pessoas hoje pensarem em aquecimento global no meio do inverno, também era difícil para o público e para os meios de comunicação nos países ricos focalizar em um mundo que se aquecia enquanto as pessoas se viam mergulhadas em invernos tão rigorosos.
No entanto, como Peterson aponta em seu estudo, "mesmo uma olhada apressada na cobertura da imprensa sobre o tema revela que, assim como não havia consenso entre os cientistas, tampouco havia consenso entre os jornalistas".
Alguns pesquisadores manifestaram dúvidas sobre o novo levantamento. "O estudo não coloca a década de 1970 em seu contexto climatológico", diz Pat Michaels, estudioso ambiental do Instituto Cato, em Washington.
"Os registros de temperatura que nós tínhamos na época mostravam um resfriamento muito agudo da década de 1940 até o meio da década de 1970", afirma. "E os cientistas tentaram explicar aquilo como uma conseqüência da poluição [partículas de enxofre, principalmente] que impedia a radiação solar de chegar à superfície."
"Naquela época, os cientistas achavam que o efeito resfriador da poluição era mais forte que o efeito de aquecimento do dióxido de carbono [o principal gás de efeito estufa]", continua.
Mas Robert Henson, jornalista do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica e autor de "O Guia Geral da Mudança Climática", afirma: "Esta é uma parte importante da história da ciência, e Peterson e seus colegas fizeram um excelente trabalho ao escavá-la."
O estudo também tem como co-autores William Connoly, do Serviço Antártico Britânico, e Jon Fleck, do Albuquerque Journal. Ele será publicado no "Boletim da Sociedade Meteorológica Americana".


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