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BIOTECNOLOGIA
Planta foi transformada com gene do Japão capaz de conferir resistência contra bactéria do cancro cítrico
Paraná desenvolve laranja transgênica
ISABEL GERHARDT
DA REPORTAGEM LOCAL
A pesquisa de combate ao cancro cítrico, uma das principais
doenças que atacam os pomares
de laranja no país, avançou com o
anúncio feito ontem, no Paraná,
da obtenção da primeira laranja
transgênica nacional.
A laranja-pêra, principal variedade de laranja usada na produção de suco, foi transformada
com um gene retirado de uma espécie de mosca-varejeira, a Sarcophaga peregrina. O gene contém
a "receita" de uma pequena proteína, um peptídeo chamado sarcotoxina, com ação bactericida. A
substância é especialmente eficiente contra a bactéria Xanthomonas citrii, agente causador do
cancro cítrico.
Segundo Luiz Gonzaga Esteves
Vieira, do Iapar (Instituto Agronômico do Paraná), um dos principais autores da pesquisa, um
dos méritos do estudo foi a eficiência na transformação de plantas. "Conseguimos de 15% a
18%", disse Vieira à Folha por telefone. Normalmente esse tipo de
experimento só é bem-sucedido
em 0,1% a 1% dos casos.
O outro diferencial do trabalho
do Iapar é o tipo de tecido de laranja utilizado para produzir a
planta transgênica, que os cientistas chamam de maduro. Ou seja,
já capaz de originar plantas aptas
para a produção de frutos, por intermédio de enxertos.
Interação com o Japão
O gene da sarcotoxina foi cedido ao Iapar por meio de um acordo com o Instituto Nacional de
Recursos Agrobiológicos do Japão. O gene está ligado a uma pequena sequência de DNA com o
código de um peptídeo-sinal, encarregado de guiar a sarcotoxina
para o espaço intercelular.
Antes de atacar a parede celular
da planta, é nesse espaço entre as
células que as bactérias ficam alojadas. Uma vez que a sarcotoxina
esteja presente no local, a eficiência de combate às bactérias seria
muito maior, crêem os cientistas.
O gene da sarcotoxina e o trecho
do peptídeo-sinal estão sob a influência de uma outra sequência
de DNA, chamada de promotor
constitutivo. Isso significa que o
gene será ativado em todos os tecidos da planta, inclusive nos frutos, que serão transformados em
suco. Segundo Vieira, testes de laboratório com células de mamíferos não revelaram efeitos tóxicos .
"De qualquer forma, esse peptídeo é facilmente degradável pela
ação de proteases (proteínas que
destroem outras proteínas) presentes nas células", diz o cientista.
As plantas do Iapar já estão em
casa de vegetação. A equipe de
Vieira irá testá-las agora para saber o grau de resistência à bactéria
do cancro cítrico. "Em seis meses
deveremos ter essa resposta", diz.
O pesquisador afirma que todos
os experimentos vêm sendo conduzidos dentro das normas de
biossegurança estabelecidas pela
CTNBio (Comissão Técnica Nacional de Biossegurança). Ou seja,
eles seguem as normas legais sobre os efeitos da introdução do
gene nas plantas e os relacionados
com a segurança alimentar e ambiental, objeto de toda a polêmica
sobre os transgênicos.
Quando indagado quanto à
possibilidade de interação com o
projeto genoma da Xanthomonas
citrii, conduzido pela Fapesp
(Fundação de Amparo à Pesquisa
do Estado de São Paulo), Vieira
afirma que os resultados conseguidos pelo grupo do Paraná poderão facilitar a aplicação prática
dos dados obtidos em São Paulo.
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