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Para cientista, brasileiros eram "desprezívei"
DA SUCURSAL DO RIO
Se a floresta tropical brasileira provocou "deleite" em Charles Darwin, o naturalista não
teceu muitos elogios aos brasileiros. "Miseráveis" e "desprezíveis" foram algumas das classificações dadas por ele durante a sua temporada no país.
Logo no início, no Rio, Darwin se queixava da burocracia
para conseguir a autorização
para viajar pelo interior do Estado, exigida aos estrangeiros.
No dia 6 de abril, ele escreveu: "Nunca é muito agradável
submeter-se à insolência de
homens de escritório, mas aos
brasileiros, que são tão desprezíveis mentalmente quanto são
miseráveis as suas pessoas, é
quase intolerável. Contudo, a
perspectiva de florestas selvagens zeladas por lindas aves,
macacos e preguiças, lagos, roedores e aligatores fará um naturalista lamber o pó até da sola
dos pés de um brasileiro".
Durante a viagem, queixa-se
da falta de opções de comida na
estalagem em Maricá . "À medida que a conversa prosseguia, a
situação geralmente se tornava
lastimável", escreveu, queixando-se das repetidas respostas
"Oh, não, senhor" após pedir
peixe, sopa e carne seca. "Se tivéssemos sorte, depois de esperar umas duas horas, conseguíamos aves, arroz e farinha."
Até o Carnaval baiano o incomodou. "As ameaças consistiam em sermos cruelmente
atingidos por bolas de cera
cheias de água (...) Achamos
muito difícil manter nossa dignidade andando pelas ruas."
Durante a viagem, Darwin
relata com horror as condições
a que os escravos eram submetidos. Relata o caso em que um
dono de fazenda, em razão de
uma briga, "estava prestes a tirar todas as mulheres e crianças da companhia dos homens
e vendê-las separadamente
num leilão". "Não creio que tivesse ocorrido ao proprietário
a idéia de desumanidade de separar trinta famílias".
"Ele tinha um posicionamento preconceituoso. Apesar
de ser abolicionista, ele tinha
uma visão aristocrata", disse Ildeu Moreira, do Ministério da
Ciência e Tecnologia.
(IN)
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