São Paulo, terça-feira, 23 de julho de 2002

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BIOLOGIA

Prática amplia a velocidade

Espermatozóides se unem para ir ao óvulo

RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os espermatozóides de um minúsculo rato silvestre europeu descobriram a fórmula para chegarem antes dos rivais ao destino final, o óvulo da rata: eles nadam abraçados até o alvo.
Os espermatozóides em bando conseguem uma velocidade até 50% maior do que aqueles que nadam desacompanhados, segundo um estudo feito por cientistas da Europa e da Austrália.
Os espermatozóides ficam ligados por uma espécie de gancho na cabeça pela cauda. Os cientistas relataram in vitro a formação desses "trens" fertilizadores.
A dúvida é saber se o "trem" é eficaz na fertilização, pois apenas um espermatozóide vai fazê-lo, ao tocar no óvulo e iniciar uma reação que libera enzimas que permitem a entrada.
Depois de consumada a fertilização, os outros espermatozóides também sofrem a reação, mas já são incapazes de penetrar o óvulo.
"Pelo menos in vitro, os trens se dispersam após 30 minutos. Nós achamos que isso é o resultado de algum espermatozóide passando pela reação. Isso deixa alguns com os acrossomos [região onde ficam as enzimas que permitem a entrada] intactos", diz Harry Moore, da Universidade de Sheffield, Reino Unido, co-autor do estudo, publicado na revista "Nature" (www.nature.com).
Ou seja, apesar de não ser todo o trem que penetra no óvulo, pelo menos um "passageiro" (ou o primeiro da fila) pode ser capaz de realizar a fertilização.
O ratinho em questão, da espécie Apodemus sylvaticus, tem em torno de 21 gramas e seus testículos podem representar até mesmo 5% do seu peso. Essa proporção enorme -o mesmo que um homem de 100 kg ter testículos de 5 kg-, é necessária pela altíssima competição sexual na espécie.
As fêmeas frequentemente copulam com diversos machos, por isso a competição para deixar mais filhotes se estendeu também para os espermatozóides. Com frequência, células de diferentes ratos competem no aparelho sexual feminino ao mesmo tempo.
Moore e seus colegas desenvolveram a hipótese de que a evolução do "trem" tenha surgido de uma conjunção de dois fatores: a competição entre machos e a forma da cabeça do espermatozóide.
"Outros cientistas sugeriram que haveria espermatozóides kamikazes, que matariam o rival. Há evidência disso em alguns animais invertebrados, mas pouca evidência em mamíferos ainda."
O fenômeno poderia ser um caso de comportamento "altruísta", no qual alguns espermatozóides perderiam a chance de fertilização, mas ainda assim passariam seus genes por seus "irmãos".



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