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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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Dois primeiros corpos chegaram a São Luís às 21h40; violência da explosão arremessou-os para fora da plataforma, diz legista

Número de mortos ainda pode aumentar

DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
DA AGÊNCIA FOLHA

O coordenador de comunicação da operação VLS-1, major Gustavo Krüger, disse ontem, no aeroporto de São Luís (MA), que o número de mortos na explosão do terceiro protótipo do foguete brasileiro pode ser maior que os 16 oficialmente confirmados.
Às 21h40, foram desembarcados no aeroporto de São Luís os restos de dois corpos atingidos pela explosão do VLS-1, na base de Alcântara. Segundo José Ribamar Cruz Ribeiro, diretor do Instituto de Criminalística do Maranhão, eles chegaram a ser lançados para fora da área da plataforma, com o impacto. A equipe do instituto está ajudando no trabalho de identificação dos corpos.
Ainda de acordo com Cruz Ribeiro, as buscas de outros corpos foram suspensas à noite em razão da falta de segurança e da temperatura elevada no local da explosão. O diretor disse que podiam ser ouvidos estalos na torre de lançamento do VLS.
"Pode haver mais desaparecidos", disse o major Krüger. "Desaparecidos" também foi o termo que ele usou para se referir aos 16 técnicos de nível médio e superior cuja morte já foi anunciada. Segundo Krüger, os mortos não eram do Maranhão. A maioria deles seria de São José dos Campos, mas o major não precisou quantos nem revelou seus nomes.
O assessor da Secretaria de Segurança Pública José Raimundo de Souza informou que o governo do Maranhão emprestou ao Centro de Lançamento dois helicópteros e um avião monomotor para auxiliar no resgate dos corpos e das vítimas em estado grave.
O Hospital Centro Médico, em São Luís (MA), foi alertado pela base de Alcântara, no final da tarde, para que ficasse de prontidão para atender aos feridos. De acordo com a Secretaria de Segurança Pública do Maranhão, civis e militares estão entre as vítimas.
O presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), disse ter visto da varanda de sua casa em São Luís o clarão da explosão. "Fui para a varanda mostrar ao governador do Amapá, Waldez Goés da Silva, onde ficava a base de Alcântara. No exato momento em que eu apontava na direção dela, vi um cogumelo imenso e muito sólido. A fumaça era branca e havia fogo saindo de um único ponto."
Krüger disse que ainda não era possível determinar se o combustível sólido do foguete pegou fogo ou não. "Nós nem iniciamos ainda o trabalho para detectar os motivos do acidente. Nossa primeira preocupação é localizar os funcionários das equipes que trabalhavam no foguete na hora em que ocorreu a explosão", afirmou.

Em São José dos Campos
Familiares de uma das vítimas do acidente em Alcântara começaram a ser informados por oficiais do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), em São José dos Campos, por volta das 19h.
Uma mulher aparentada a um dos desaparecidos na explosão, o engenheiro do IAE (Instituto de Aeronáutica Espacial órgão ligado ao CTA) Gines Ananias Garcia, disse que os dois oficiais informaram primeiro que a vítima estava desaparecida e que poderia estar entre os mortos.
A movimentação de familiares era intensa em frente à casa de Garcia, na Vila Adyanna, bairro de alto padrão de São José dos Campos, por volta das 21h. A expectativa era em relação a como e quando o corpo seria transportado de São Luís para São José.
Em Alcântara, os moradores viveram ontem momentos de angústia depois da explosão do terceiro protótipo do VLS-1.
"Nas ruas, as pessoas se questionavam sobre o que poderia ter acontecido de verdade. As informações chegavam de todos os lados, e nada era confirmado para a população local", contou no início da noite de ontem, por telefone, da cidade maranhense, Carlos Aparecido Fernandes, 39.
De acordo com o major Krüger, havia 230 pessoas diretamente envolvidas na operação. Ontem, porém, parte da equipe estava de folga na base. Segundo o major, apenas funcionários da manutenção estavam trabalhando ontem -e com uma equipe reduzida, por causa do risco do serviço. Ele disse também que não há risco para a população do município de Alcântara.
Em relação ao lançamento do VLS-1, programado para acontecer entre amanhã e a segunda-feira, o acidente inviabilizou totalmente o projeto de colocar no ar o foguete, que havia sido produzido em São José dos Campos (SP).
"Não há condição alguma de a programação do lançamento ser mantida. O VLS foi totalmente destruído", justificou Krüger. Até o final da noite de ontem, o Ministério da Defesa e o Comando da Aeronáutica não haviam se manifestado sobre a possibilidade de ter ocorrido uma sabotagem.
"Tudo o que dissermos agora será mera especulação. É justamente isso que queremos evitar. Só vamos falar alguma coisa quando tivermos a certeza do que realmente aconteceu", informou a assessoria de comunicação da base de lançamento maranhense.
(ELIANE MENDONÇA, FÁTIMA LESSA E EDUARDO SCOLESE)


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