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Criador do projeto aposta em falha humana como causa do acidente
PLÍNIO FRAGA
DA REPORTAGEM LOCAL
O criador do projeto do Veículo
Lançador de Satélites (VLS) acredita que a razão do acidente foi
uma falha humana na operação
de um dos motores e diz ser mínima a possibilidade de sabotagem.
"No momento, pode parecer
uma opinião leviana, mas acho
que certamente houve uma falha
humana. Pela experiência de mais
de 30 anos, acredito que houve falha de manuseio. O acidente não
foi no ponto crítico usual, que é o
lançamento", afirma o major-brigadeiro reformado Hugo de Oliveira Piva, 76.
O VLS brasileiro foi contestado
por países desenvolvidos por
abrir a possibilidade de o país
usar sua tecnologia em mísseis
balísticos, mas Piva não acredita
em sabotagem do programa.
"Possibilidade existe, mas é
muito pouco provável. São centenas de equipamentos sofisticados
que têm de trabalhar com precisão. Se desregulados, poderiam
causar problemas sérios. Mas não
acredito", declara o brigadeiro.
Piva calcula que a destruição do
VLS deve atrasar em ao menos
um ano o projeto. "Tenho medo
dos imediatistas que podem dizer
que não devemos mais investir no
programa. Se formos um país que
pretende desenvolver alta tecnologia, a falha atual seria até um incentivo para continuarmos."
O brigadeiro relativiza a terceira
falha ocorrida no projeto. "Até
1984, o programa espacial brasileiro não tinha falha nenhuma.
Houve essas três, mas o programa
dos Estados Unidos, o da Rússia
ou o da França também tiveram
dezenas de falhas. O nosso ainda é
um recorde de segurança", diz.
Piva já foi apelidado de "Von
Braun brasileiro", numa referência ao engenheiro espacial alemão
Wernher von Braun (1912-1977),
que criou o míssil balístico para os
nazistas na Segunda Guerra e
morreu trabalhando para o Exército americano e a Nasa. Ele diz
que um acidente sempre afeta a
imagem de um programa.
"Ainda mais com tantas mortes
trágicas. Mas a base de Alcântara
permanecerá sendo um excelente
ponto de lançamento por suas
qualidades técnicas", diz o brigadeiro, responsável pela escolha da
cidade maranhense quando comandava o Centro Técnico Aeroespacial, no regime militar.
O brigadeiro comandou também a aproximação do Brasil com
o Iraque nos anos 80, já sob a administração de Saddam Hussein,
o que levou os americanos a suspeitarem de uma parceria para a
construção de uma bomba atômica conjunta. Piva sempre negou
que fosse essa a proposta do acordo com o Iraque.
Segundo ele, o objetivo oficial
era o desenvolvimento de um
míssil ar-ar (armamento de
aviões para serem usados contra
outros aviões), de alcance restrito
a 8 quilômetros. O Brasil entrava
com a tecnologia, e o Iraque, com
os petrodólares.
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