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São Paulo, sábado, 23 de agosto de 2003

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ANÁLISE

Um golpe duro para o programa espacial

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O dia é de lamentar pelos técnicos e engenheiros que perderam a vida durante o processo de preparação do lançamento do terceiro protótipo do VLS-1. Mas, amanhã, quando a fumaça baixar, o acidente promete deixar mais cicatrizes do que se pode imaginar no programa espacial brasileiro.
Se a operação tivesse prosseguido e o lançador voado -mesmo que de forma errática e com uma explosão prematura em pleno ar, como ocorrera nas duas vezes anteriores-, não haveria trauma incontornável. O programa já previa quatro vôos de qualificação, e problemas são justamente o que os especialistas mais esperam nessas tentativas.
Mas não. O foguete explodiu antes do lançamento, envolto numa aura de mistério criada pela divulgação difusa feita pela Aeronáutica, matando dezenas de pessoas. Já seria de preocupar a potencial perda de apoio político para o projeto, em razão do acidente. Mas o mais grave é, por razões de engenharia, a perda humana.
Projetos como o VLS são tocados com o que seu orçamento -instável e escasso ao longo dos últimos anos- permite. Muitos dos engenheiros envolvidos são os únicos especialistas de sua área com capacitação para perseguir essa difícil meta de abrir uma rota independente para o Brasil no espaço. E ainda não se sabe quantas dessas peças insubstituíveis foram perdidas em meio ao fogo de Alcântara. Possivelmente muitas.
É uma questão de soberania e independência seguir em frente, a despeito do que ocorreu ontem. Mas só o futuro dirá quanto tempo será preciso para restaurar as perdas naquela plataforma. Seguramente mais do que levaria para construir e testar o quarto protótipo, que, a propósito, já tem algumas de suas peças produzidas e aguardando a fase de montagem.


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