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ANÁLISE
Um golpe duro para o programa espacial
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O dia é de lamentar pelos técnicos e engenheiros que perderam a
vida durante o processo de preparação do lançamento do terceiro
protótipo do VLS-1. Mas, amanhã, quando a fumaça baixar, o
acidente promete deixar mais cicatrizes do que se pode imaginar
no programa espacial brasileiro.
Se a operação tivesse prosseguido e o lançador voado -mesmo
que de forma errática e com uma
explosão prematura em pleno ar,
como ocorrera nas duas vezes anteriores-, não haveria trauma
incontornável. O programa já
previa quatro vôos de qualificação, e problemas são justamente o
que os especialistas mais esperam
nessas tentativas.
Mas não. O foguete explodiu
antes do lançamento, envolto numa aura de mistério criada pela
divulgação difusa feita pela Aeronáutica, matando dezenas de pessoas. Já seria de preocupar a potencial perda de apoio político para o projeto, em razão do acidente. Mas o mais grave é, por razões
de engenharia, a perda humana.
Projetos como o VLS são tocados com o que seu orçamento
-instável e escasso ao longo dos
últimos anos- permite. Muitos
dos engenheiros envolvidos são
os únicos especialistas de sua área
com capacitação para perseguir
essa difícil meta de abrir uma rota
independente para o Brasil no espaço. E ainda não se sabe quantas
dessas peças insubstituíveis foram perdidas em meio ao fogo de
Alcântara. Possivelmente muitas.
É uma questão de soberania e
independência seguir em frente, a
despeito do que ocorreu ontem.
Mas só o futuro dirá quanto tempo será preciso para restaurar as
perdas naquela plataforma. Seguramente mais do que levaria para
construir e testar o quarto protótipo, que, a propósito, já tem algumas de suas peças produzidas e
aguardando a fase de montagem.
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