São Paulo, segunda-feira, 23 de setembro de 2002

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Número de genes tem nova revisão

DO ENVIADO A ÁGUAS DE LINDÓIA

Quando as revistas científicas "Nature" e "Science" publicaram o rascunho do genoma humano, no ano passado, muitos se espantaram com o baixo número de genes estimados para o Homo sapiens: algo em torno de 30 mil, menos até que no genoma do arroz. Um grupo de pesquisadores americanos, contudo, aposta nos dados experimentais para virar o jogo e prevê nada menos que 70 mil genes no DNA humano.
"Devemos publicar um artigo até o ano que vem mostrando que o número de genes é muito maior", afirmou Saurabh Saha, da Universidade Johns Hopkins, Estados Unidos, durante o 48º Congresso Nacional de Genética.
Para o pesquisador, as estimativas do consórcio público Projeto Genoma Humano e da empresa Celera minimizaram o impacto das diferentes formas de expressão gênica, ou seja, a maneira como os genes funcionam em cada tipo de tecido humano.
"Não é que eles não tenham levado isso em conta, mas o tipo de tecido que você usa cria um viés muito grande na diversidade de genes que estão realmente ativos", afirmou à Folha o cientista.
"Os autores do rascunho do genoma começaram com um número de genes já conhecidos e, com base neles, usaram o computador para estimar quantos genes faltavam", explica Emmanuel Dias Neto, da USP. "O problema é que existem muitas variações no genoma real que não se encaixam nos critérios que eles usaram."
Para corrigir essa deficiência, Saha e seus colegas da Johns Hopkins estão desenvolvendo mecanismos para usar o transcriptoma (o conjunto dos genes efetivamente ativos) para descobrir novos genes. "Estamos usando RNA mensageiro (molécula na qual os genes ativos são transcritos) de tecido fetal, por exemplo, que deve expressar cerca de 60% de todos os genes humanos", conta.
O grupo de Saha, que é coordenado por Victor Velculescu, criou uma nova forma de Sage (análise serial de expressão gênica, na sigla em inglês) que consegue atribuir com mais segurança o trecho de RNA mensageiro aos genes correspondentes. A Sage já é usada para esse propósito, mas ela funciona criando "etiquetas" com apenas 14 bases ou "letras" químicas de DNA -o que pode gerar ambiguidades e atribuir uma sequência a mais de um gene.
Usando uma nova enzima para criar etiquetas maiores, com 21 "letras", Saha e seus colegas desenvolveram o chamado "long Sage", que tem um grau de certeza superior a 90% na identificação de genes, segundo ele. A técnica já permitiu a descoberta de centenas de novos genes e, para o pesquisador, deve ajudar a definir de vez quantos deles existem de fato no DNA humano. (RJL)


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