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CLIMA 1
Estudo sugere que efeito estufa deve causar emissão de carbono estocado no solo da tundra, agravando o problema
Ártico é bomba-relógio, afirma pesquisa
FERNANDA CALGARO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
Uma pesquisa conduzida ao
longo de mais de 20 anos e que
acaba de ser concluída revelou
que a tundra, ecossistema de vegetação rasteira do Ártico, deve
virar mais uma fonte de carbono
para a atmosfera no futuro devido
ao aquecimento global.
Estima-se que o carbono armazenado no solo da tundra represente um terço do estoque global e
seja equivalente a dois terços da
quantidade existente na atmosfera. Uma liberação repentina desse
estoque agravaria ainda mais o
desastre mundial previsto pelos
cientistas com o efeito estufa, fazendo a temperatura média do
planeta em 2100 subir além dos
mais de 2C estimados.
O estudo consistiu na fertilização do solo com nitrogênio e fósforo, elementos importantes para
o desenvolvimento da vegetação,
numa estação de pesquisas no Estado americano do Alasca.
Na experiência, desenvolvida
para simular o aumento na quantidade de nutrientes disponível no
solo que ocorre com a elevação de
temperatura, as plantas cresceram melhor e armazenaram mais
carbono -algo que os pesquisadores já previam-, mas quantidade significativa do carbono do
solo foi perdida para a atmosfera.
O experimento, publicado hoje
na revista científica britânica "Nature" (www.nature.com), foi
conduzido pela equipe da pesquisadora Michelle Mack, da Universidade da Flórida, nos EUA.
A fertilização foi a maneira encontrada para reproduzir o que
aconteceria com o aquecimento
da atmosfera, já que não seria
possível elevar a temperatura de
fato na área do experimento.
O solo cheio de nutrientes fez
com que as plantas da tundra se
desenvolvessem mais, "seqüestrando" assim mais dióxido de
carbono da atmosfera para fazer a
fotossíntese e fixando o carbono
nas raízes e nas folhas.
No entanto, a mesma fertilização também aumentou a atividade das bactérias do chão, que passaram a decompor matéria orgânica em ritmo acelerado. O que se
observou foi uma perda significativa do carbono do solo para a atmosfera -2 kg por metro quadrado ao longo de 20 anos.
A perda de carbono e nitrogênio
de camadas mais profundas do
solo para a atmosfera foi substancial e superou a fixação daquele
elemento pelas plantas.
Efeito estufa
E no contexto de aquecimento
global, quanto mais dióxido de
carbono (CO2) na atmosfera, mais
se agrava o efeito estufa, que é o
fenômeno decorrente da alta concentração de gases como o CO2 e o
metano (CH4), que formam uma
"capa" em torno da Terra. Esses
gases têm a capacidade de absorver a radiação infravermelha (calor) emitida pelo planeta, impedindo que ela se dissipe e elevando a temperatura da Terra.
Até agora, achava-se que a tundra fosse uma solução para o problema. A expectativa dos pesquisadores era que maiores concentrações de gás carbônico e maiores temperaturas fossem estimular as plantas do Ártico, transformando toda a região num "ralo"
para o carbono em excesso lançado na atmosfera pela queima de
combustíveis fósseis.
"Essa pesquisa é extremamente
importante, pois mostra que às
vezes o senso comum não funciona quando lidamos com complexos ecossistemas terrestres", afirma o físico Paulo Artaxo, da Universidade de São Paulo.
O mecanismo da perda de carbono do solo ainda não é claro.
Uma das hipóteses é que tenha
havido um aumento da taxa de
decomposição de material orgânico pela ação acelerada das bactérias do solo, mais eficazes quando há mais nutrientes, como o nitrogênio. "O próximo passo será
entender o porquê de o nitrogênio ter um efeito tão forte sobre
essas bactérias", afirmou Mack.
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