São Paulo, quinta-feira, 23 de setembro de 2004

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CLIMA 2

Após quebra de plataforma de gelo, rios congelados fluem mais rápido e derretem; efeito estufa é causa, diz cientista

Geleiras antárticas aceleram rumo ao mar

ESA
Larsen B se rompe, em 2002


CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA

O rompimento de uma imensa represa de gelo na Antártida, em 2002, está fazendo com que geleiras da região acelerem seu escoamento para o mar. O problema foi detectado ao mesmo tempo por dois grupos independentes de cientistas, e é mais um indicativo forte do impacto do aquecimento global nas zonas polares.
Dois estudos realizados por pesquisadores da Argentina, do Chile e dos EUA com base em dados de satélite e publicados ontem mostram que quatro rios de gelo que desembocavam na plataforma Larsen B, na península Antártica, aceleraram seu fluxo em até oito vezes desde que a plataforma se desintegrou, em março de 2002. Os cientistas afirmam que a Larsen B, uma língua de gelo flutuante duas vezes maior que a cidade de São Paulo, represava as geleiras, contendo seu escoamento.
As geleiras, cujo fluxo total é de 27 quilômetros cúbicos (ou 23 trilhões de litros) por ano, também estão ficando mais finas, o que significa que algo está causando seu derretimento. A região da península Antártica, uma das áreas mais sensíveis da Terra ao aquecimento global, já esquentou 3C nos últimos 50 anos (a média do planeta foi 0,6C). Estima-se que a península já tenha perdido 7% de sua cobertura de gelo.
O derretimento de geleiras continentais é um dos fatores que contribuem para a elevação no nível do mar, hoje em torno de 2 milímetros por ano. Cientistas estimam que, até 2100, essa elevação irá destruir regiões costeiras, com prejuízo a cidades como o Rio de Janeiro e Nova York.
Segundo o glaciologista Robert Thomas, da Nasa (agência espacial dos EUA) e do Centro de Estudos Científicos de Valdívia, Chile, co-autor de um dos estudos que saíram ontem na revista "Geophysical Review Letters" (www.agu.org/journals/gl), as quatro geleiras são pequenas demais para afetar significativamente o nível do mar. "Elas provavelmente fariam uma diferença pequena", disse Thomas à Folha.
Por outro lado, afirmou, os estudos mostram de forma contundente que a Antártida responde rápido ao aquecimento global. "O oceano mudou naquela região e causou o colapso da plataforma", disse. "A Larsen B quebrou em apenas duas semanas."


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