São Paulo, quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

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Plano para clima custará €3 por semana a europeus

UE diz que medida vai onerar seu setor produtivo e promete "proteger" empresas se acordo global contra efeito estufa não vingar

Christophe Karaba/Efe
Torres de resfriamento de usina nuclear em Cattenom, França; tecnologia não emite carbono


DA REDAÇÃO

Os cidadãos da UE (União Européia) terão de desembolsar 3 cada um por semana para ajudar a bancar o plano do bloco de países contra o aquecimento global. O valor estimado do projeto, que prevê um corte de 20% na emissão de gases de efeito estufa até 2020 (em relação aos níveis de 1990), foi anunciado ontem.
Em entrevista coletiva, o presidente da Comissão Européia, José Manuel Durão Barroso, anunciou que o plano deve consumir em média 0,5% do PIB da UE anualmente -um preço que considerou barato, porque o custo de não fazer nada seria muito maior.
"Todo dia o preço do petróleo e da gasolina sobe, e o custo real do pacote [o plano da UE contra o efeito estufa] cai", disse. "Ao invés de custos, deveríamos estar falando de ganhos para a União Européia."
Segundo Durão Barroso, boa parte do plano será bancada por meio da taxação de indústrias poluidoras, sobretudo no setor de energia. O sistema tributário usado para isso será o "cap-and-trade" (no qual emissões acima de uma certa quota são comercializadas).
A usinas movidas a combustíveis fósseis deverão ter de desembolsar cerca de 50 bilhões por ano para poder funcionar. Esse dinheiro deverá servir, entre outras coisas, para estimular a construção de usinas de geração de energia por meio de fontes renováveis.
A taxação e a conversão tecnológica farão o preço da eletricidade subir em média 15%, estima a UE. Haverá metas obrigatórias de cortes de emissão para os 27 países do bloco, mas a distribuição será desigual. Nações ocidentais mais ricas terão cortes mais profundos para permitir que as do Leste europeu tenham seu crescimento menos comprometido.

Proteção comercial
O presidente da Comissão Européia deu destaque em seu discurso ao fato de que todas essas medidas devem onerar o setor produtivo nos países do bloco. Isso pode comprometer a competitividade de produtos europeus no mercado externo, caso os parceiros comerciais do bloco não entrem em acordo sobre um pacto global para reduzir as emissões de gases-estufa em tempo hábil.
"Se não fizermos progresso com esse acordo global, nós vamos proteger as empresas européias", disse Durão Barroso, dando sinal de que poderão surgir barreiras para importação. "Se eles [outros países] acham que nossas medidas são protecionistas, por favor façam o mesmo. Tentem atingir as mesmas metas."
A UE diz que deve aumentar para 30% sua meta de corte até 2020, se outros países concordarem com um plano global com meta de 20%.
De acordo com o plano europeu, as fontes de energia renovável deverão representar 20% matriz energética em 2020. Hoje elas são 8,5% apenas. A mudança representará o corte de 900 milhões de toneladas de CO2.
Fontes de energia como vento, sol e biocombustíveis movimentam um volume total de 30 bilhões hoje na europa. Expandir o setor custará 18 milhões por ano, mas resultará em economia de energia e mais empregos, afirma Durão Barroso. A UE projeta uma estimativa de receita de 15 bilhões para o setor em 2016.
A porcentagem de biocombustíveis na matriz energética de transporte deverá ser de 10% até o fim do período do plano, mas leis exigirão que sua produção tenha de ser "ambientalmente neutra".

Insuficiente
O plano europeu para cortes de emissões foi considerado relativamente tímido por ONGs ambientalistas. "As partes promissoras desse pacote energético acabam sendo ocultadas por uma meta para gases-estufa que está bem abaixo do necessário", diz Sonja Meister, da Amigos da Terra. "Reduzir os gases estufa em 20% simplesmente não é o suficiente."
O IPCC (painel do clima da ONU) estima que as emissões globais de gases-estufa têm de cair pela metade até 2050. Se isso não for feito, o aumento da temperatura média do globo deve ultrapassar os 2C, limite considerado "perigoso".
O Greenpeace criticou a meta para biocombustíveis no setor de transporte, alegando que essa fonte, na Europa, é mais adequada para eletricidade.


Com agências internacionais


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