São Paulo, quarta-feira, 24 de julho de 2002

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PALEONTOLOGIA

Para sul-africano Phillip Tobias, primeiros ancestrais da espécie humana moravam em florestas úmidas

Água ajudou a evolução do homem, diz pesquisador

France Presse - 9.dez.1998
Phillip Tobias mostra fóssil ao presidente Thabo Mbeki (à esq.)


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

Os ancestrais do homem não se tornaram verdadeiramente humanos somente depois que desceram das árvores e passaram a viver nas savanas africanas, mas graças ao seu convívio em ambientes aquáticos. O mais novo achado fóssil, um crânio de 7 milhões de anos do Chade, reforçaria essa hipótese, pois está em um lugar que hoje é deserto, mas que era floresta úmida no passado.
A defesa dessa hipótese minoritária entre os pesquisadores das origens humanas foi feita por um dos mais prestigiados membros dessa comunidade: o sul-africano Phillip Vallentine Tobias, 76, que está em visita ao Brasil. Tobias fará amanhã de manhã palestra sobre o tema na abertura do 24º Congresso Pan-Americano de Anatomia, no Rio de Janeiro.
Tobias é diretor da unidade de pesquisa em paleoantropologia da Universidade de Witwatersrand, Johannesburgo, África do Sul. Ele participou de descobertas seminais na área, como a descrição de um hominídeo do mesmo gênero que o homem atual, batizado de Homo habilis, feita com outro nome famoso na paleontologia, Louis Leakey, em um artigo na revista científica britânica "Nature" em abril de 1964.
As hipóteses tradicionais afirmam que o ser humano descende de ancestrais hominídeos que viviam nas árvores. Em dado momento, uma espécie de hominídeo passou a viver nas savanas, e o processo de adaptação envolveu tanto a postura ereta e andar com dois pés -o bipedalismo- como também o aumento progressivo do tamanho do cérebro.
Houve autores, como o alemão Max Westenhofer e o britânico Alister Hardy, que se opuseram a essa hipótese da evolução na savana, contrapondo a ela a teoria do "macaco aquático". Eles foram ridicularizados. "O próprio nome da teoria era infeliz, fez as pessoas rirem", afirma Phillip Tobias.
Ele não defende totalmente a teoria, mas acha que vários dos seus aspectos precisam ser considerados. Por exemplo, o fato de o ser humano ser um "macaco pelado", se comparado com seus primos, chimpanzés e gorilas; as características de suas glândulas de suor; ou a presença de uma camada de gordura sob a pele, são todos aspectos de anatomia que favorecem o convívio com a água.

Toumai
Tobias é cauteloso quanto à colocação do fóssil achado no Chade na linhagem humana, ou mesmo entre os hominídeos em geral. Batizado de Sahelanthropus tchadensis, ou Toumai, o fóssil foi achado pela equipe chadiana-francesa liderada por Michel Brunet, da Universidade de Poitiers.
"Estamos esperando uma descrição mais completa. Mas, se de fato for um hominídeo, ele também vivia em uma região de floresta, próximo da água", diz o pesquisador sul-africano.
Outro fóssil importante para ajudar a explicar a transição da vida nas árvores para o chão e o bipedalismo foi achado pela equipe de Tobias e seu colega Ron Clarke. Foi batizado de "little foot" (pé pequeno) e parece pertencer a um gênero de hominídeos mais distante do homem atual, o Australopithecus.
Os dois não têm pressa em batizar o achado, feito há alguns anos na mesma região, Sterkfontein, onde o antecessor de Tobias, Raymond Dart, achou em 1924 o primeiro dos crânios de um "homem-macaco", chamado Australopithecus africanus.



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