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São Paulo, quinta-feira, 24 de julho de 2003

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GEOLOGIA

Tragédia do gênero já teria ocorrido no Jurássico

Explosão vulcânica pode causar megaefeito estufa, diz pesquisa

MARCUS VINICIUS MARINHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma grande erupção vulcânica tem o potencial de jogar tanto gás carbônico na atmosfera que levaria à extinção grande parte das espécies da Terra. Isso é o que sugere o estudo da equipe de Hans Keppler, da Universidade de Tübingen, na Alemanha.
Segundo Keppler, as grandes quantidades de carbono que existem no manto superior terrestre (camada abaixo da crosta, de 35 a 440 km de profundidade) devem estar concentradas na forma de carbonatos, e não dissolvidas nas rochas do manto, como se acreditava anteriormente.
A descoberta é alarmante, pois os carbonatos se decompõem facilmente, liberando gás carbônico. Como sugere Keppler, se uma área rica em carbonato do manto terrestre entrar em contato com magma e uma posterior erupção acontecer, grandes quantidades de gás carbônico poderão ser lançadas de uma vez na atmosfera.
"Um aumento súbito na quantidade global de gás carbônico resultaria em um efeito estufa de grandes proporções. Isso levaria a um aumento repentino da temperatura, o que afetaria a maioria dos ecossistemas e poderia levar à extinção em massa", disse à Folha Keppler, 41. Um evento assim, sugere o autor, já aconteceu no início do Período Jurássico (há cerca de 200 milhões de anos).
No manto terrestre, o carbono está em maior quantidade que na atmosfera e na biosfera, sugerem análises de rocha proveniente de erupções. Até agora, no entanto, não se sabia ao certo a forma na qual ele se encontra. A hipótese mais aceita, antes do estudo da equipe de Keppler, era a de que ele estivesse dissolvido em minerais com base em silício, como a olivina (mistura de silicatos de magnésio e ferro), principal componente do manto superior.
Como a olivina não se dissolve bem no magma, nesse caso não haveria risco de injeção de carbono subterrâneo na atmosfera. Infelizmente, a equipe de Keppler provou que a olivina não é a "casa" do carbono no manto.

Solubilidade
Para tirar a prova sobre a forma na qual o carbono está, a equipe de Keppler resolveu medir sua solubilidade em sólidos como a olivina, reproduzindo as condições de pressão e temperatura do manto superior.
A solubilidade medida pela equipe de Keppler foi muito pequena, cerca de um centésimo do necessário para que todo o carbono lá disponível estivesse dissolvido no minério.
O grupo de Keppler testou, então, a solubilidade do carbono em outras formas de mineral presentes no manto e chegou à seguinte conclusão: o carbono deve estar em reservatórios próprios, separados do resto das rochas do manto, na forma de carbonatos.
Se o magma de erupções vulcânicas de larga escala entrar nesses reservatórios ricos em carbono, gás carbônico pode ser formado e depois empurrado até a atmosfera. Em grandes quantidades, o gás causaria um efeito estufa de enormes proporções.
O estudo foi publicado na edição de hoje da revista "Nature" (www.nature.com).


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