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Cientista brasileiro paga até 10 vezes mais por material
Insumos importados demoram em média seis meses para chegar ao laboratório
Pesquisa apresentada
ontem em encontro de
biólogos quantificou pela
primeira vez o impacto da
burocracia nas importações
GIOVANA GIRARDI
ENVIADA ESPECIAL A ÁGUAS DE LINDÓIA
O pesquisador brasileiro que
precisa importar insumos gasta
em média três vezes mais -e
em alguns casos dez vezes- do
que o produto vale por causa de
impostos e custos de estocagem em portos e aeroportos.
Esse foi um dos principais resultados de uma pesquisa que
buscou quantificar pela primeira vez as dificuldades que os
cientistas têm em trazer para o
país ingredientes básicos para
suas pesquisas. Os dados foram
apresentados ontem durante a
reunião anual da Fesbe (Federação de Sociedades de Biologia
Experimental), em Águas de
Lindóia, interior paulista.
No levantamento, todos os
pesquisadores ouvidos disseram ter necessidade de importar material para as suas pesquisas e também foram unânimes em dizer que, no mínimo,
levam um mês para recebê-lo.
Os que conseguem começar a
trabalhar neste prazo, no entanto, são minoria -apenas
17% dos cem entrevistados.
"Pela primeira vez conseguimos traduzir em números a angústia dos pesquisadores", explicou Mauro Rebello, pesquisador da Universidade Federal
do Rio de Janeiro e um dos organizadores da pesquisa.
A burocracia e o desempenho
da Anvisa (Agência Nacional de
Vigilância Sanitária) continuam sendo, para a maioria, os
principais entraves para a importação. Quase metade dos
entrevistados (49%) pagaram
em ágio três vezes o valor dos
insumos importados. No caso
de 11% deles, o valor foi de 10
vezes mais.
É o caso por exemplo de um
participante do levantamento.
Ele contou no questionário que
ao comprar um produto que
custava R$ 16, ele acabou gastando R$ 182. A maioria apontou ainda a ineficiência do sistema que deveria facilitar a vida
do pesquisador, o Importa Fácil, do CNPq. O sistema permite importar sem pagar impostos, mas acaba não sendo muito
útil, visto que não serve para
material perecível, como enzimas. Só que esta é a necessidade de 67% dos entrevistados.
Na tentativa de driblar os
muitos problemas, os pesquisadores tentam de tudo. "Já
aprendi que em vez de colocar
no formulário a palavra toxina,
é melhor colocar que se trata de
um peptídio sintético, aí passa", comentou um cientista
meio revoltado durante a apresentação, que reuniu pouco
mais de 30 cientistas e representantes do CNPq e da Anvisa.
"Na dúvida, eu comecei a trazer o que eu preciso pelo Fedex.
Pago o dobro, mas é melhor do
que gastar 8, 10 vezes mais", desabafou Gerhard Malnic, presidente da Fesbe. "Tem dia que
passa, tem dia que não passa,
depende da interpretação do
fiscal. Agora, por exemplo, estou esperando uns anticorpos
que ficaram presos. Me pergunto se ele sabe o que é isso."
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