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Equipe do Japão cria ciborgue farejador
Cientistas de Tóquio injetaram, em óvulo de rã, genes de receptores capazes de reconhecer cheiros específicos
Organismo vivo registra
presença de pequena
quantidade de molécula
e transmite os dados
para um computador
LUCIANO GRÜDTNER BURATTO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Cientistas japoneses modificaram geneticamente os
óvulos de uma rã para que
fossem capazes de detectar
odores com alta precisão.
Mais ainda, eles conectaram as células vivas a um robô, demonstrando a viabilidade de se fabricar um sensor de cheiros ciborgue.
A equipe queria desenvolver um "nariz artificial" portátil (de fácil transporte), sensível (que detecte um odor
mesmo em baixas concentrações) e seletivo (que não confunda um cheiro com outro).
Embora outros tipos de detectores de odor já tenham sido desenvolvidos -"narizes" à base de semicondutores, por exemplo-, poucos
reúnem as três propriedades
em níveis adequados.
Uma possibilidade seria o
uso de organismos vivos, já
que muitos possuem as características desejadas. Algumas bactérias, por exemplo,
movem-se em meio líquido
(portabilidade) de acordo
com a presença de certas
substâncias (seletividade),
mesmo quando em baixa
quantidade (sensibilidade).
ANFÍBIO
Nobuo Misawa e sua equipe da Universidade de Tóquio decidiram testar a abordagem usando óvulos da rã-de-unhas-africana (Xenopus
laevis). Os óvulos, de 1 mm,
são facilmente manipuláveis, permitindo tanto a modificação genética quanto a
medição de alterações elétricas em seu interior.
A grande sacada dos pesquisadores foi cooptar receptores celulares para detectar
moléculas de seu interesse.
Células produzem proteínas que ficam em sua membrana. Algumas dessas proteínas agem como uma fechadura (receptor), que é
aberta quando uma determinada molécula (ligante) se
conecta a ela.
Ao ser ativado, o receptor
permite a entrada de átomos
carregados (íons positivos)
na célula, alterando sua carga elétrica. Essas alterações
são registradas por eletrodos
implantados nos óvulos.
O registro elétrico é amplificado e enviado a um computador, que transforma o sinal analógico da corrente celular em sinal digital. A informação binária pode então ser
usada para controlar qualquer aparato eletrônico.
No estudo, publicado na
revista "PNAS", o grupo japonês acoplou a detecção de
certo odor pelos óvulos a um
movimento de um robô.
Quando uma certa quantidade do aroma fosse identificada no fluido do "nariz artificial", a cabeça do robô girava de um lado para o outro.
Outros odores, mesmo com
estrutura molecular muito
semelhante, não conseguiam mover a cabeça.
O sistema reúne as características desejáveis em um
"nariz artificial": é portátil,
porque o arranjo dos óvulos e
dos eletrodos é pequeno e
não requer micromanipuladores e microscópios; é sensível, porque detecta moléculas numa concentração a
partir de duas partes por bilhão; e é seletivo, porque é
ativado por um só odor.
Mas o trabalho tem suas limitações. O sistema reconhece somente odores dissolvidos em fluido; gases pouco
solúveis estão fora. E, por enquanto, somente odores ligados a receptores conhecidos
podem ser identificados.
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