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VLS-1
Um mês após acidente, Aeronáutica divulga 1º parecer; russos deixam grupo antes da integração de cientistas brasileiros
Comissão atesta pane elétrica no foguete
DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS
A Aeronáutica divulgou ontem
o primeiro parecer da comissão
criada para apurar as causas do
acidente com o Veículo Lançador
de Satélites (VLS-1), dia 22 de
agosto, em Alcântara (MA). Ele
confirma que uma corrente elétrica de origem desconhecida deve
ter acionado a ignição de um dos
motores do foguete, dando início
ao incêndio que resultou na destruição do terceiro protótipo do
VLS-1 e na morte de 21 pessoas.
O anúncio foi feito pelo diretor
do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), major-brigadeiro-do-ar
Tiago da Silva Ribeiro. Também
foi oficializada a prorrogação do
prazo das investigações por mais
30 dias -o inicialmente estipulado se encerrara anteontem.
Ribeiro afirmou que a prorrogação aconteceu porque, apesar
de estar estabelecido que uma
corrente elétrica causara o acidente, não há ainda explicação
para o que ocasionou tal corrente
e, assim, a causa imediata do acidente. A possibilidade de uma nova prorrogação das investigações
não está descartada.
O diretor do CTA declarou que
o quarto protótipo do VLS-1 vai
demorar pelo menos três anos para ser produzido e que só a reconstrução da torre custará US$ 8
milhões. Segundo Ribeiro, o Plano Plurianual (PPA) do governo
federal prevê US$ 10 milhões para
a reconstrução do VLS-1.
"A investigação está muito
complexa. Se tivéssemos cometido um erro grosseiro, certamente
já teríamos chegado a alguma
conclusão. Mas nada ainda aponta para a causa. Só temos hipóteses, que ainda estão sendo objeto
de apuração", declarou.
Motor A
A única coisa de que a Aeronáutica tem certeza até agora, de acordo com Ribeiro, é que houve uma
descarga de corrente elétrica que
teria acionado o motor A, localizado no primeiro estágio do foguete, causando o incêndio. O veículo possui quatro estágios, mas os
quatro motores identificados como A, B, C e D ficam no primeiro
estágio, na parte inferior.
No entanto, ainda não foi possível descobrir de onde teria vindo
essa corrente elétrica. "Da linha
de fogo [local onde ocorre o acionamento do VLS-1, com uma descarga elétrica de 1,2 ampère] não
saiu. O que constatamos, pela
análise dos destroços, é que o fogo
não começou de fora. A hipótese
mais provável é que tenha vindo
de dentro, mas ainda não sabemos como", afirmou Ribeiro.
A única carga elétrica que havia
no local na hora do acidente era
muito pequena e estava sendo utilizada para energizar o segundo
estágio do foguete. Conforme Ribeiro, apesar de a carga elétrica
ser baixa, pode ter perdurado um
período de tempo ininterrupto
em contato com o combustível e
provocado o acidente.
"Cinco companheiros estavam
trabalhando com energia elétrica
para o carregamento do fluido hidráulico que preenche os cilindros. Mas não era uma energia
tão alta a ponto de acionar o motor. É aí que está o mistério", afirmou o militar.
Outro fato estranho é só o motor A ter sido acionado, mas não o
D, ligado diretamente ao A por
uma rede elétrica cruzada.
A hipótese de sabotagem está
mesmo descartada, segundo o
CTA, porque, no momento do
acidente, só estavam na torre as
pessoas envolvidas com o projeto.
"Tínhamos absoluto controle
disso. As evidências mostram que
o acidente não teve causas externas", afirmou.
Segundo ele, além da energização para o carregamento de fluido, pode ter ocorrido um curto-circuito ou algo parecido. "Só há
três maneiras de acionar o motor:
por corrente elétrica, atrito ou calor. Mas tem de ser um atrito muito forte, e um calor muito grande
também, duas possibilidades que
já foram descartadas", disse o diretor do CTA.
Parte dos destroços do acidente
chegou à sede do CTA, em São José dos Campos (96 km de São
Paulo), no último dia 12.
"Mas o último lote chega na
quinta-feira [amanhã]. É a peça-chave da investigação, porque é a
base do VLS-1 que não foi trazida
até agora por dificuldades, já que
com o incêndio tudo se fundiu e
foi necessário serrar as partes para conseguir remover", declarou
o presidente da comissão e vice-diretor do CTA, o brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto do Nascimento.
A comissão
Os três pesquisadores brasileiros e o representante das famílias
dos mortos no incêndio só foram
integrados à comissão anteontem, um dia após o término do
trabalho da equipe de especialistas russos.
Segundo o CTA, o motivo da
demora em integrar os membros
à comissão foi a dificuldade de selecionar os representantes.
"É tudo muito burocrático. Levou um tempo para chegar aos
nomes e, depois disso, cada um
dos escolhidos foi contatado pelo
próprio ministro da Defesa, José
Viegas", disse Ribeiro.
Os membros incorporados são:
Paulo Murilo Castro de Oliveira
(Sociedade Brasileira de Física),
Fernando Rizzo (Academia Brasileira de Ciências) e Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Unicamp (Universidade Estadual de
Campinas) e representante da
SBPC (Sociedade Brasileira para o
Progresso da Ciência) no grupo.
(ELIANE MENDONÇA)
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