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São Paulo, quarta-feira, 24 de setembro de 2003

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VLS-1

Um mês após acidente, Aeronáutica divulga 1º parecer; russos deixam grupo antes da integração de cientistas brasileiros

Comissão atesta pane elétrica no foguete

DAS REGIONAIS, EM SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

A Aeronáutica divulgou ontem o primeiro parecer da comissão criada para apurar as causas do acidente com o Veículo Lançador de Satélites (VLS-1), dia 22 de agosto, em Alcântara (MA). Ele confirma que uma corrente elétrica de origem desconhecida deve ter acionado a ignição de um dos motores do foguete, dando início ao incêndio que resultou na destruição do terceiro protótipo do VLS-1 e na morte de 21 pessoas.
O anúncio foi feito pelo diretor do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), major-brigadeiro-do-ar Tiago da Silva Ribeiro. Também foi oficializada a prorrogação do prazo das investigações por mais 30 dias -o inicialmente estipulado se encerrara anteontem.
Ribeiro afirmou que a prorrogação aconteceu porque, apesar de estar estabelecido que uma corrente elétrica causara o acidente, não há ainda explicação para o que ocasionou tal corrente e, assim, a causa imediata do acidente. A possibilidade de uma nova prorrogação das investigações não está descartada.
O diretor do CTA declarou que o quarto protótipo do VLS-1 vai demorar pelo menos três anos para ser produzido e que só a reconstrução da torre custará US$ 8 milhões. Segundo Ribeiro, o Plano Plurianual (PPA) do governo federal prevê US$ 10 milhões para a reconstrução do VLS-1.
"A investigação está muito complexa. Se tivéssemos cometido um erro grosseiro, certamente já teríamos chegado a alguma conclusão. Mas nada ainda aponta para a causa. Só temos hipóteses, que ainda estão sendo objeto de apuração", declarou.

Motor A
A única coisa de que a Aeronáutica tem certeza até agora, de acordo com Ribeiro, é que houve uma descarga de corrente elétrica que teria acionado o motor A, localizado no primeiro estágio do foguete, causando o incêndio. O veículo possui quatro estágios, mas os quatro motores identificados como A, B, C e D ficam no primeiro estágio, na parte inferior.
No entanto, ainda não foi possível descobrir de onde teria vindo essa corrente elétrica. "Da linha de fogo [local onde ocorre o acionamento do VLS-1, com uma descarga elétrica de 1,2 ampère] não saiu. O que constatamos, pela análise dos destroços, é que o fogo não começou de fora. A hipótese mais provável é que tenha vindo de dentro, mas ainda não sabemos como", afirmou Ribeiro.
A única carga elétrica que havia no local na hora do acidente era muito pequena e estava sendo utilizada para energizar o segundo estágio do foguete. Conforme Ribeiro, apesar de a carga elétrica ser baixa, pode ter perdurado um período de tempo ininterrupto em contato com o combustível e provocado o acidente.
"Cinco companheiros estavam trabalhando com energia elétrica para o carregamento do fluido hidráulico que preenche os cilindros. Mas não era uma energia tão alta a ponto de acionar o motor. É aí que está o mistério", afirmou o militar.
Outro fato estranho é só o motor A ter sido acionado, mas não o D, ligado diretamente ao A por uma rede elétrica cruzada.
A hipótese de sabotagem está mesmo descartada, segundo o CTA, porque, no momento do acidente, só estavam na torre as pessoas envolvidas com o projeto.
"Tínhamos absoluto controle disso. As evidências mostram que o acidente não teve causas externas", afirmou.
Segundo ele, além da energização para o carregamento de fluido, pode ter ocorrido um curto-circuito ou algo parecido. "Só há três maneiras de acionar o motor: por corrente elétrica, atrito ou calor. Mas tem de ser um atrito muito forte, e um calor muito grande também, duas possibilidades que já foram descartadas", disse o diretor do CTA.
Parte dos destroços do acidente chegou à sede do CTA, em São José dos Campos (96 km de São Paulo), no último dia 12.
"Mas o último lote chega na quinta-feira [amanhã]. É a peça-chave da investigação, porque é a base do VLS-1 que não foi trazida até agora por dificuldades, já que com o incêndio tudo se fundiu e foi necessário serrar as partes para conseguir remover", declarou o presidente da comissão e vice-diretor do CTA, o brigadeiro-do-ar Marco Antonio Couto do Nascimento.

A comissão
Os três pesquisadores brasileiros e o representante das famílias dos mortos no incêndio só foram integrados à comissão anteontem, um dia após o término do trabalho da equipe de especialistas russos.
Segundo o CTA, o motivo da demora em integrar os membros à comissão foi a dificuldade de selecionar os representantes.
"É tudo muito burocrático. Levou um tempo para chegar aos nomes e, depois disso, cada um dos escolhidos foi contatado pelo próprio ministro da Defesa, José Viegas", disse Ribeiro.
Os membros incorporados são: Paulo Murilo Castro de Oliveira (Sociedade Brasileira de Física), Fernando Rizzo (Academia Brasileira de Ciências) e Carlos Henrique de Brito Cruz, reitor da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) e representante da SBPC (Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência) no grupo.
(ELIANE MENDONÇA)


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