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Ideia de "mata virgem" passa por uma revisão
DO ENVIADO A PORTO VELHO
Se novos dados confirmarem a antiguidade da agricultura nativa na calha do Madeira, deve ganhar ainda
mais força uma hipótese defendida por arqueólogos que
trabalham na Amazônia.
Trata-se da ideia de que o
termo "floresta virgem" pode
ser profundamente enganoso. A mata seria, na verdade,
uma "floresta cultural", manejada pelos indígenas ao
longo de milhares de anos
para que as espécies de seu
interesse prosperassem.
Quem se embrenha na mata da ilha Dionísio, um dos
locais estudados pela equipe
da Scientia, não precisa de
muito para crer na ideia.
Após caminhar por alguns
minutos por uma floresta estonteamente diversa, onde
nenhuma árvore é igual à vizinha, você parece cruzar os
limites de um círculo invisível dentro do qual, de repente, uma única espécie reina.
É um urucurizal -como o
nome diz, uma concentração
da palmeira conhecida como
urucuri. O fruto é comestível.
"Uns gostam, outros nem
tanto. O pessoal come quando cai da árvore", conta Vanderlei Alves Santos, assistente de campo das escavações
que, empolgado com o trabalho, enfrenta o vestibular para o curso de arqueologia da
Universidade Federal de
Rondônia no mês que vem.
"Há um debate grande se
coisas como o urucurizal são
naturais ou surgiram pelo
manejo da floresta", diz Kipnis. "O risco é você criar uma
espécie de viés de confirmação. Se procurar sinais de
uma floresta antrópica [ou
seja, gerada pelo homem] em
locais onde sabidamente
houve ocupação no passado,
vai acabar achando, claro."
Uma ideia para contornar
isso seria calcular a "assinatura" visual de certos tipos de
árvore -as "culturais" e as
de uma mata mais virgem,
por exemplo- quando vista
do espaço, via satélite. "Aí
você poderia detectar as
áreas e ir lá escavar para ver
se há sítios mesmo", explica.
Em outra ilha, enquanto
escava, o arqueólogo Eduardo Bespalez aponta uma
enorme sumaúma, espécie
de mata intacta. "Essa aí viu
o pessoal dançando no terreiro", brinca.
(RJL)
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