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"Quase não dá para ficar parado lá fora", diz glaciologista brasileiro na Antártida
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois de algumas tentativas
e do envio de uma mensagem
de texto, o telefone via satélite
toca. A voz do glaciologista Jefferson Simões atende e está audível. O chiado de fundo, confundido com algum problema
na ligação, era na verdade o
vento que soprava do lado de
fora da barraca. "Ele está a quase 90 km/h. Quase não dá para
ficar parado lá fora direito", relata o cientista brasileiro.
Com o tradicional sotaque
gaúcho -o pesquisador da
UFRGS (Universidade Federal
do Rio Grande do Sul) é de Porto Alegre- e com o característico bom humor, ele logo emenda: "Está realmente um saco ficar aqui o dia inteiro na barraca, sem nada para fazer. A paciência é o jogo que precisa ser
jogado", afirma.
Os trabalhos científicos que
levaram a expedição brasileira,
de forma inédita, para o interior da Antártida, estão encerrados. A coleta dos cilindros de
gelo -testemunhos vivos do
passado geológico do continente branco e gelado- é que motivou a viagem do grupo.
As perfurações programadas
para irem até os 150 metros foram interrompidas quando a
máquina chegou aos 100 metros. "Vamos parar por aqui. O
tempo está muito ruim e já está
bom o que temos", disse Simões sem transmitir frustração nem nenhum sentimento
de derrota profissional.
Sopão natalino
Com o atraso na chegada do
avião que levaria o grupo de
volta para o acampamento base, que já dura cinco dias, o jeito
vai ser "comemorar" a noite de
Natal ali mesmo, no confinamento. E a ceia dos quatro pesquisadores já está pronta.
"Será um sopão reforçado. E
ainda temos algumas outras rações se for o caso", brinca Simões. O menu, portanto, não
terá nada de variado em relação
aos últimos dias.
Segundo Jefferson, a situação é incômoda, mas não existe
nada que os ponha em risco significativo, por enquanto. O estoque de comida, diz ele, é suficiente para os próximos dez
dias. "Se ficarmos aqui por mais
uma semana, aí terei que começar a racionar comida [para todos]", afirma o pesquisador.
Além dele, estão no mesmo
confinamento mais dois cientistas brasileiros e um chileno.
Em Porto Alegre, segundo
Ingrid Simões, mulher do pesquisador, a família estará toda
reunida à noite e haverá ainda
um brinde especial aos "corajosos exploradores" antárticos.
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