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Governo suspende desmatamento em 36 municípios
Medida para conter destruição, que acelerou na Amazônia, já era prevista em dezembro mas só passa a valer a partir de hoje
Propriedades nas regiões
da "lista suja" terão de ser
cadastradas e monitoradas; ministros divergem sobre causa de pico na derrubada
MARTA SALOMON
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
O governo federal suspendeu
autorizações para desmatamento em 36 municípios da
Amazônia Legal, responsáveis
por metade do abate de árvores
recente na região. "Estamos
declarando uma moratória",
resumiu a ministra Marina Silva (Meio Ambiente) após reunião de emergência com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e outros seis ministros para
reagir ao aumento recorde da
devastação da floresta nos últimos cinco meses de 2007.
A "moratória" já estava prevista em decreto assinado pelo
presidente Lula em dezembro,
mas entrará em vigor com a publicação de portaria da ministra do Meio Ambiente na edição de hoje do "Diário Oficial".
Serão listados 36 municípios
(6% dos municípios amazônicos) considerados prioritários
no combate ao desmate, a
maioria em MT e no PA.
Nos municípios da lista, as
propriedades rurais terão de
ser recadastradas e passarão a
ser monitoradas. O objetivo é
punir não apenas a derrubada
ilegal, mas também quem comercializar ou transportar produtos de áreas desmatadas.
Em novo alerta divulgado anteontem, o Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais)
mostra o corte de 3.235 km2 de
matas entre outubro e dezembro de 2007. O número, registrado pelo sistema Deter, é
amostra parcial: o desmate real
foi estimado em 7.000 km2, 4,7
vezes a cidade de São Paulo.
O principal objetivo do governo é chegar a 31 de julho de
2008 com uma taxa anual de
desmatamento igual ou menor
à registrada em 2007, quando
foram abatidos 11.224 km2 de
florestas. O ritmo verificado
nos últimos cinco meses do
ano passado e que entra na taxa
a ser divulgada no segundo semestre indica uma interrupção
da queda registrada desde
2004/2005. "É uma tarefa dura", calculou Marina.
Com a nova portaria, áreas
desmatadas ilegalmente terão
a produção embargada. "Antes,
o indivíduo desmatava ilegalmente, recorria do pagamento
da multa, produzia e vendia o
produto. Não havia punição
real. Agora, os proprietários
que descumprirem o embargo
terão os nomes divulgados e toda a cadeia produtiva será co-responsável", diz João Paulo
Capobianco, secretário-executivo do MMA.
Novas licenças de desmatamento dependerão do recadastramento das propriedades e
respeito à reserva legal de 80%
de florestas. Licenças que tiverem sido concedidas por autoridades locais anteriormente e
ainda estiverem válidas terão
de ser analisadas caso a caso,
diz o presidente do Ibama, Bazileu Margarido. "Creio que
não existam licenças válidas."
O presidente Lula também
pretende se reunir com os governadores dos Estados onde
houve alta no desmatamento
(MT, PA, RO e AM), além dos
prefeitos dos 36 municípios para discutir o assunto.
Causa em questão
Na entrevista coletiva que se
seguiu à reunião de emergência
do Planalto, Marina e o ministro Reinhold Stephanes (Agricultura) não conseguiram ocultar suas divergências.
Stephanes discordou da hipótese lançada pela colega na
véspera ao apontar a soja e a pecuária como prováveis causas
do desmate recente. "Há quatro anos não aumenta a área de
produção de soja no país", disse
o ministro -menos contundente em relação à pecuária.
Marina disse que o aumento
do preço de commodities explica o aumento da devastação, ao
lado do período pré-eleitoral e
da estiagem longa.
O presidente Lula disse ontem no Rio ter designado uma
equipe de ministros para ir à
Amazônia na próxima semana.
Segundo ele, desmatar é um
"crime" contra a economia. "Na
hora que o mundo percebe que
vai haver desmatamento na
Amazônia para produzir soja,
cana ou gado, certamente nós,
que hoje somos competitivos,
vamos sofrer uma concorrência mais séria."
Colaborou a Sucursal do Rio
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