|
Próximo Texto | Índice
Telescópio vê surgimento de estrela supermagnética
Sonda espacial que enxerga raios-X flagra transformação inédita na astronomia
Astro de campo magnético 100 bilhões de vezes mais forte que o do Sol nasce a partir de estrela "queimada" com rotação hiper-rápida
Gregg Dinderman/Sky & Telescope
| Ilustração mostra como seria um magnetar observado de perto |
DA REPORTAGEM LOCAL
Um grupo de astrônomos
americanos anunciou na semana passada ter conseguido observar um fenômeno totalmente inesperado pela física. Enquanto monitoravam uma estrela de nêutrons -estrela
"queimada", que explodiu após
queimar todo seu combustível
nuclear- cientistas a flagraram
se transformando em um
"magnetar", o tipo de objeto
cósmico com o campo magnético mais forte que se conhece.
"Estamos vendo um tipo de
estrela de nêutron literalmente
se transformar em outro, bem
na frente dos nossos olhos", diz
o astrofísico Fotis Gavriil, do
Centro Goddard da Nasa (agência espacial americana), de
Greenbelt (EUA), em comunicado à imprensa. Gavriil e colegas relataram sua descoberta
na última sexta-feira, em estudo no site revista "Science"
(www.sciencexpress.org).
A estrela de nêutrons que o
grupo do cientista estava observando com o RXTE (telescópio espacial Rossi, detector
de raios X) era do tipo "pulsar",
que gira extremamente rápido.
A transformação era inesperada pelos cientistas porque pulsares e magnetares são tipos de
estrelas de nêutrons com comportamentos bem diferentes.
Um pulsar tem esse nome
porque emite pulsos de ondas
de rádio. É como observar um
farol giratório em uma ilha distante; cada vez que o feixe de
luz passa por nossos olhos, vemos sua torre acender e apagar.
Um pulsar, porém, tem uma taxa de giro muito mais rápida
-dando dezenas ou centenas
de voltas por segundo- e emite
ondas de rádio em vez de luz.
Já um magnetar é uma estrela de nêutrons bem diferente,
que não possui rotação tão rápida nem emite ondas de rádio
no mesmo padrão observado
pelos pulsares. Sua característica mais distinta é a abundante emissão de raios X e raios gama -tipos de radiação extremamente energética-, propelidos por um campo magnético
incrivelmente forte. Enquanto
uma estrela como o Sol tem um
campo magnético de cerca de
0,001 tesla (unidade de medida
para magnetismo), o campo de
um magnetar possui algo da ordem de 1 bilhão de teslas.
A descoberta de Gavriil foi
importante porque os cientistas não sabiam muito bem como um magnetar surge.
"Magnetares são, na verdade,
objetos muito raros", explica a
astrofísica Victoria Kaspi, da
Universidade McGill, de Montreal (Canadá), que também
participou do estudo. "A existência deles só ficou estabelecida nos últimos dez anos, e nós
conhecemos apenas um punhado deles em toda a galáxia."
Enquanto o número de pulsares catalogados está na casa
dos 1.800, o número de magnetares não passa de 12. Segundo
Kaspi, a observação do RXTE
que identificou uma fonte de
raios X em um pulsar fornece o
primeiro indício de que há uma
relação estreita entre magnetares e pulsares.
Evolução estelar
"Essa fonte pode estar evoluindo para se tornar um magnetar, ou pode estar apenas exibindo propriedades similares
às de um magnetar", diz a astrofísica. "Só que ainda não sabemos. Estamos muito ansiosos para descobrir."
A estrela de nêutrons na qual
o RXTE detectou o estranho
comportamento, a 20 mil anos
luz da Terra, ainda não foi batizada. É identificada pelo código
"PSR J1846" e fica no meio dos
restos de uma supernova -explosão estelar- registrada com
o código Kes 75. O que os cientistas acharam estranho é que
seu campo magnético era baixo
demais para que ela estivesse se
transformando num magnetar.
Kaspi afirma que será importante a partir de agora acompanhar com zelo o comportamento desta e de outras estrelas de
nêutrons para ter certeza se os
magnetares nascem a partir
dos pulsares ou se apenas apresentam comportamento hipermagnético de vez em quando.
"O campo magnético de PSR
J1846 pode ser muito mais forte do que apontou a medição,
sugerindo que muitas estrelas
de nêutrons jovens classificadas como pulsares possam ser
magnetares disfarçados", diz.
Próximo Texto: Biólogo descobre segredo de lagarta que imita fezes Índice
|