São Paulo, segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

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Biólogo descobre segredo de lagarta que imita fezes

Hormônio dá a inseto forma de excremento de ave

Ryo Futahashi/Divulgação
As versões do animal disfarçado de fezes e camuflado de verde


RICARDO BONALUME NETO
DA REPORTAGEM LOCAL

O preço da segurança pode ser humilhante, mas uma borboleta estudada por cientistas no Japão paga com prazer. Na maior parte da sua vida de larva, a lagarta da borboleta da espécie Papilio xuthus imita titica de passarinho. Os cientistas agora identificaram o hormônio responsável pelas suas mudanças de aparência.
É difícil imaginar um disfarce mais eficiente que esse para evitar virar comida de pássaro. A borboleta passa a maior parte da sua "infância" -quatro dos cinco períodos da sua fase larval-como uma lagarta branco e preta. Ela imita não um outro organismo -o processo chamado "mimetismo"- , mas as suas fezes.
Depois dessa fase altamente visível, a larva de Papilio xuthus muda de estratégia na etapa final de lagarta: torna-se verde como as folhas em que vive, no processo chamado "camuflagem" (uso da coloração para se tornar menos visível no ambiente em torno).
Ryo Futahashi, da Universidade de Tokyo, e Haruhiko Fujiwara, do Instituto Nacional de Ciências Agrobiológicas do Japão, mostraram que a causa das mudanças das fases mimética e críptica (de camuflagem) é um hormônio, apropriadamente batizado "juvenil".
Eles demonstraram o papel do hormônio num experimento em que as lagartas possivelmente não aprovariam, se tivessem consciência da coisa.
O tratamento das larvas no começo da quarta fase (ou "instar") com uma substância análoga ao hormônio "resultou em uma alta proporção de larvas tratadas reproduzindo o padrão mimético em vez do comum críptico", escrevem os cientistas em um estudo publicado na última edição da revista científica americana "Science" (www.sciencemag.org). Ou seja, continuaram parecidas com titica em vez de passarem a lembrar folhagem.
O tratamento não teve efeito quando realizado já em momento mais adiantado do "instar", mesmo com doses bem mais altas da substância.
Os pesquisadores também identificaram no DNA da lagarta os genes cuja ativação está associada com a regulação dos dois padrões de coloração do animal pelo hormônio .


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