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Queimada causa 19% do efeito estufa, diz estudo
Cálculo feito por grupo internacional é o 1º a estimar o peso do fogo no clima
Sudeste asiático e Amazônia lideram emissão por queima de floresta; evitar incêndios é forma mais rápida de mitigar o clima, diz físico
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Deixar de queimar propositalmente as florestas tropicais,
savanas e áreas agrícolas -como canaviais- pode baixar a
contribuição da humanidade
ao aquecimento global em 19%.
A cifra, publicada em um artigo de revisão na revista científica "Science" desta semana,
escancara a importância das
queimadas no fluxo de energia
global. Os cientistas não sabiam que o fogo tinha tanta importância assim.
O físico da USP (Universidade de São Paulo) Paulo Artaxo
conta que na estimativa, feita
com o auxílio de modelos computacionais, entraram gás carbônico, metano e óxido nitroso
-gases emitidos pela queima
de biomassa que ajudam a aprisionar na atmosfera o calor irradiado pela Terra.
No contexto geral, segundo o
registro via satélite anual das
queimadas propositais, Brasil,
Malásia e Indonésia são os países que mais precisam avançar
em políticas públicas que controlem o fogo deliberado. "É a
forma mais barata e mais rápida para controlar o aquecimento global", afirma Artaxo.
Na liderança
Os cálculos dos cientistas
mostram onde estão as fontes
de queimadas que mais bombeiam gases de efeito estufa.
Entre 1997 e 2006, os trópicos
asiáticos contribuíram com
54% das emissões. Dos trópicos
americanos, principalmente da
Amazônia, saíram 32%. A África fecha a conta com a contribuição de 14%.
Mas é na Amazônia, mais especificamente em Mato Grosso, que está a maior intensidade de focos de calor do planeta.
Entre 2000 e 2005, segundo
um estudo americano publicado em 2006, Mato Grosso tinha
duas vezes mais queimadas que
qualquer outra região.
O agravante, diz Artaxo, é
que a redução das queimadas
na Amazônia, por exemplo, não
vai melhorar a temperatura do
planeta de forma direta, logo no
ano seguinte. A escala de tempo
é de décadas. "O carbono que
vai para a atmosfera hoje vai
sendo acumulado", diz.
O fato de o fogo ser um componente "bastante significativo" para as mudanças climáticas globais não tem implicação
apenas para as futuras gerações. Sendo o planeta um ambiente altamente inflamável,
por causa da quantidade de carbono que existe nele, algumas
alterações já ocorrem hoje.
"As florestas úmidas não têm
uma experiência histórica com
o fogo na frequência com que
ele está aparecendo hoje nesses
ambientes", afirma Jennifer
Balch, do Centro Nacional para
Análises Ecológicas e Sínteses,
EUA, coautora da pesquisa.
De acordo com a cientista
americana, durante uma seca
extrema, 39 mil quilômetros
quadrados da Amazônia (15%
da área do Estado de São Paulo)
entraram em combustão.
David Bowman, da Universidade da Tasmânia (Austrália), é
outro cientista que participou
do trabalho sobre o impacto
das queimadas em todos os
ecossistemas do globo. Para ele,
a relação entre seus resultados
e o mundo hoje é total.
"Os trágicos incêndios em
Victoria (Austrália) enfatizam
a potencial alteração nos regimes de fogo, que ocorre em paralelo com as mudanças climáticas antropogênicas", diz.
Em fevereiro, no Estado australiano, mais de cem pessoas
morreram na região por causa
dos incêndios. Setecentas casas
ficaram destruídas.
No vermelho
O fogo, que está cada vez
mais presente por causa das
mudanças climáticas, costuma
causar grandes prejuízos.
No fenômeno El Niño de
1997-1998, na Ásia tropical, as
estimativas mostram uma conta de US$ 9 bilhões. Na América
Latina, mais seca e por isso
mais inflamável, os débitos ficaram em US$ 12,5 bilhões
-pouco menos que os US$ 13,4
bilhões dados pelo governo
americano para socorrer a GM.
Diante das mortes, das secas
e do aquecimento global em
pleno curso, os cientistas esperam que os países tropicais passem a considerar mais corretamente o peso das queimadas.
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