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BIOQUÍMICA
Cientistas da UFPR sintetizam espécie de "sinalizador químico" para acabar com inseto que danifica plantações
Feromônio pode eliminar praga da cana
MARCUS VINICIUS MARINHO
FREE-LANCE PARA A FOLHA
A solução para o controle de
animais que comem centenas de
hectares de plantações de cana-de-açúcar parece estar próxima.
Cientistas brasileiros sintetizaram
um feromônio -substância responsável pela comunicação química dos animais- da broca da
cana, com a intenção de usá-lo
contra os bichos, de forma a desconstruir seu ciclo biológico.
O grupo de Paulo Zarbin, químico da Universidade Federal do
Paraná (UFPR), sintetizou pela
primeira vez uma substância essencial para a vida da broca da cana Sphenophorus levis (também
conhecida como bicudo, gorgulho ou besouro da cana), animal
que se alimenta da planta e reduz
drasticamente a produtividade de
plantações em áreas infestadas.
Utilizando o feromônio conhecido como (S)-2-metil-4-octanol,
o inseto macho que achar uma
fonte de alimento (como a plantação de cana) pode deixar uma espécie de sinal químico para que
seus amigos também achem a comida, o que garante a sobrevivência da espécie -um fenômeno
que é conhecido na comunidade
científica como "agregação".
Através da forma sintética da
substância, produzida na UFPR,
um agricultor pode fazer o feitiço
virar contra o feiticeiro: com o feromônio como "isca", fica fácil fazer armadilhas para as quais os
insetos indesejados sejam convocados bioquimicamente. O uso
dos feromônios é considerado
uma opção mais limpa de controle da praga, já que não envolve inseticidas ou outras substâncias
que possam causar dano ao homem ou ao meio ambiente.
"A pesquisa sobre feromônios é
ponto-chave no controle de pragas. Um dos principais problemas
da plantação de cana, o Migdolus
fryanus [outra espécie de broca],
foi praticamente controlado no
Brasil com a utilização de feromônios", diz à Folha Zarbin, 33.
No caso da Sphenophorus levis,
o uso dos sinalizadores químicos
é ainda mais importante, já que
outras formas de controle biológico (como a utilização de possíveis
predadores ou parasitas dos insetos) não têm tido sucesso com a
espécie. Além disso, embora o feromônio possa ser extraído diretamente dos animais (existem
métodos para isolar deles o "cheiro"), o uso de versões sintéticas
elimina custos e cuidados extras.
Segundo o cientista, o uso de feromônios como o seu poderia ser
mais difundido no Brasil. "Infelizmente ainda não há uma política
de divulgação consolidada desse
tipo de pesquisa. No nosso caso,
demos sorte, e algumas empresas
já nos contataram com interesse
no que estamos fazendo", diz Zarbin, que pretende patentear o
produto assim que resolver os últimos problemas que detectou em
testes de campo.
"O sistema tem de ser traduzido
de maneira muito fidedigna. Apesar de funcionar bem para atrair
os insetos, o efeito ainda está menor do que o do feromônio natural. Faltam um ou dois elementos
para a atração perfeita. Temos
boas pistas, estamos bem perto de
descobrir o que falta", diz Zarbin.
A certeza do cientista tem base
em sua experiência: seu grupo já
desenvolveu e mantém a patente
de um método se síntese de um
feromônio sexual [ligado à atração química entre macho e fêmea] para a praga mais difundida
do café, a Leucoptera coffeella.
A pesquisa de Zarbin foi publicada no "Journal of the Brazilian
Chemical Society" (jbcs.sbq.org.br) que, embora escrito em inglês, é brasileiro e é o periódico de
química de maior impacto da
América Latina.
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