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O que uma pessoa pode fazer com o seu próprio genoma
DO COLUNISTA DA FOLHA
Minha vida nada mudou depois de ficar sabendo que descendo de uma africana do haplogrupo L2A, por parte das
mitocôndrias, e de algum europeu do haplogrupo R1B, pelo lado do cromossomo Y. Menos
ainda por ter em meu genoma
89,5% de seqüências de extração européia, 6,4% ameríndia e
4% africana.
Análises de marcadores genéticos de ancestralidade estão
ao alcance de qualquer um, no
Brasil, desde que disposto a pagar R$ 1.800 pelo serviço. Recebe-se um pacote por Sedex com
cotonetes para esfregar na parte de dentro da bochecha e tubinhos para acondicioná-los.
Tudo volta por correio para o
prestador do serviço.
O perfil acima, por exemplo,
foi produzido pelo laboratório
GENE (MG), de Sergio Pena.
Partilha com o do próprio geneticista -ativo no movimento
contra cotas raciais - o cromossomo Y de tipo (haplogrupo) R1B. Mas não o DNA mitocondrial, em seu caso de fonte
ameríndia (haplogrupo A).
Já na mescla dos outros 45
cromossomos de nossas células, contempla-se um retrato
similar do Brasil: um genoma
88% europeu, 5,9% ameríndio,
6,1% africano. A informação genética é pouco mais do que isso
-uma curiosidade.
Pior resultado colheu David
Ewing Duncan, que escreveu
para a revista "Wired" sobre os
serviços de SNPs das empresas
23andMe, deCODEme e Navigenics. No quesito risco para
ataque cardíaco, recebeu três
resultados díspares: alto, médio e baixo.
O cliente que se vire para tirar alguma conclusão a partir
de informação dessa qualidade.
Com exceção da Navigenics,
que se recusa a testar condições
sem relevância clínica (como
calvície ou ancestralidade) e
põe ênfase no aspecto médico
da genômica pessoal, as outras
companhias deixam tudo por
conta do freguês.
A 23andMe, no entanto,
mantém um serviço útil pela
internet. É uma relação de todas as pesquisas que vão sendo
publicadas na literatura médica sobre associações entre genes ou outras seqüências de
DNA com doenças. Uma lista
inteligente, porém: especialistas avaliam a qualidade da pesquisa e lhes dão de uma a quatro estrelas.
Quem achar que US$ 1.000 é
caro por um serviço parcial como a análise de SNPs pode
sempre esperar que caia o preço do genoma completo. Jorge
Conde, da Knome, acredita que
chega perto dos US$ 10 mil em
dois ou três anos.
Outra possibilidade é conseguir uma vaga no Projeto Genoma Pessoal ou no programa do
Instituto Coriell de Pesquisa
Médica, de Nova Jersey (EUA).
Cada um deles pretende analisar os genomas de cerca de 100
mil pessoas.
(ML)
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