São Paulo, domingo, 25 de maio de 2008

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O que uma pessoa pode fazer com o seu próprio genoma

DO COLUNISTA DA FOLHA

Minha vida nada mudou depois de ficar sabendo que descendo de uma africana do haplogrupo L2A, por parte das mitocôndrias, e de algum europeu do haplogrupo R1B, pelo lado do cromossomo Y. Menos ainda por ter em meu genoma 89,5% de seqüências de extração européia, 6,4% ameríndia e 4% africana.
Análises de marcadores genéticos de ancestralidade estão ao alcance de qualquer um, no Brasil, desde que disposto a pagar R$ 1.800 pelo serviço. Recebe-se um pacote por Sedex com cotonetes para esfregar na parte de dentro da bochecha e tubinhos para acondicioná-los. Tudo volta por correio para o prestador do serviço.
O perfil acima, por exemplo, foi produzido pelo laboratório GENE (MG), de Sergio Pena. Partilha com o do próprio geneticista -ativo no movimento contra cotas raciais - o cromossomo Y de tipo (haplogrupo) R1B. Mas não o DNA mitocondrial, em seu caso de fonte ameríndia (haplogrupo A).
Já na mescla dos outros 45 cromossomos de nossas células, contempla-se um retrato similar do Brasil: um genoma 88% europeu, 5,9% ameríndio, 6,1% africano. A informação genética é pouco mais do que isso -uma curiosidade.
Pior resultado colheu David Ewing Duncan, que escreveu para a revista "Wired" sobre os serviços de SNPs das empresas 23andMe, deCODEme e Navigenics. No quesito risco para ataque cardíaco, recebeu três resultados díspares: alto, médio e baixo.
O cliente que se vire para tirar alguma conclusão a partir de informação dessa qualidade. Com exceção da Navigenics, que se recusa a testar condições sem relevância clínica (como calvície ou ancestralidade) e põe ênfase no aspecto médico da genômica pessoal, as outras companhias deixam tudo por conta do freguês.
A 23andMe, no entanto, mantém um serviço útil pela internet. É uma relação de todas as pesquisas que vão sendo publicadas na literatura médica sobre associações entre genes ou outras seqüências de DNA com doenças. Uma lista inteligente, porém: especialistas avaliam a qualidade da pesquisa e lhes dão de uma a quatro estrelas.
Quem achar que US$ 1.000 é caro por um serviço parcial como a análise de SNPs pode sempre esperar que caia o preço do genoma completo. Jorge Conde, da Knome, acredita que chega perto dos US$ 10 mil em dois ou três anos.
Outra possibilidade é conseguir uma vaga no Projeto Genoma Pessoal ou no programa do Instituto Coriell de Pesquisa Médica, de Nova Jersey (EUA). Cada um deles pretende analisar os genomas de cerca de 100 mil pessoas. (ML)


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