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Corte de verbas soterra pesquisa climática polar
Cientista diz que país terá de desativar estações meteorológicas antárticas
Projeto agora ameaçado
coleta dados na região há 25 anos; diretor do
Inpe diz que não vai
deixar estudo acabar
CLAUDIO ANGELO
EDITOR DE CIÊNCIA
Um corte de verbas do
CNPq (Conselho Nacional de
Desenvolvimento Científico
e Tecnológico) ameaça interromper a coleta de dados climáticos que o Brasil faz na
Antártida há 25 anos.
As três estações meteorológicas mantidas pelo país
poderão ser desativadas, depois que o projeto de meteorologia do Programa Antártico Brasileiro perdeu uma disputa por verbas e foi suspenso pelo órgão, em abril.
"Vou para lá no fim do ano
desmontar tudo, paciência",
queixa-se o chefe do projeto,
Alberto Setzer, meteorologista do Inpe (Instituto Nacional
de Pesquisas Espaciais).
As estações coletam dados
como temperatura, precipitação e velocidade do vento.
Elas são importantes não
só para orientar a logística
das operações brasileiras,
que dependem de monitoramento constante do tempo
mal-humorado da região, como também para integrar as
séries de dados internacionais que permitem acompanhar como o clima está mudando na Antártida.
Essa informação é crucial
para os modelos computacionais que avaliam o impacto do aquecimento global no
degelo e no nível do mar.
Uma das estações brasileiras
tem uma série de dados contínua desde 1940 -é uma das
mais longas da Antártida.
No ano passado, Setzer havia concorrido com um pedido de R$ 840 mil num edital
de R$ 14 milhões aberto pelo
CNPq para financiar a pesquisa antártica.
Até então, a média de gastos com o projeto de meteorologia era cerca de R$ 16 mil
por ano. "É o que eles gastam
com copinhos descartáveis
nas operações", diz.
O projeto foi rejeitado duas
vezes. Setzer reclama que nenhum dos três cientistas que
julgaram a proposta era da
área de clima ou Antártida.
"Esse é um argumento
constante que a gente ouve,
mas o julgamento científico
não precisa ser feito por especialistas na área", disse à Folha José Oswaldo Siqueira,
diretor do CNPq.
Segundo ele, o projeto de
Setzer foi bem pontuado,
mas ficou abaixo da nota de
corte para o financiamento.
"Recebi 67 propostas, que
somavam R$ 42 milhões, tinha só R$ 14 milhões e pude
contratar 18 propostas."
"É algo indesejável, mas
temos de seguir a 8.666",
afirmou Siqueira, referindo-se à Lei de Licitações.
O diretor do Inpe, Gilberto
Câmara, disse que o instituto
não vai deixar a coleta de dados acabar. "É uma questão
de responsabilidade. Quando você tem uma série histórica de dados, tem de manter. Não tem perigo de esse
dado ser interrompido."
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