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MEDICINA
Proteína isolada de vírus paulista deve acelerar diagnóstico da doença
USP elabora teste para hantavírus
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Pesquisadores brasileiros estão
desenvolvendo uma versão nacional do teste de laboratório capaz de identificar a presença no
organismo do hantavírus, parasita causador de uma séria síndrome pulmonar e cardiovascular.
A proteína, identificada pelos
cientistas depois de mais de seis
anos de trabalho, vem de uma
versão regional do vírus, denominada Araraquara. "É a nossa "Tabajara'", brinca Luiz Tadeu Moraes Figueiredo, pesquisador da
USP em Ribeirão Preto que coordena o esforço. Com o procedimento, que já está sendo patenteado pelos cientistas, será possível expandir a rede de laboratórios que faz o diagnóstico com
amostras de sangue de pacientes.
"Hoje em dia, só dois laboratórios no Brasil fazem isso. O Instituto Adolfo Lutz, em São Paulo, e
o Instituto Evandro Chagas, em
Belém", diz Figueiredo. "Eles fazem isso com amostras de uma
proteína que vem dos CDC [Centros para Controle e Prevenção de
Doenças dos EUA] e da Argentina, mas é pouco. Se conseguirmos
produzir a proteína aqui, poderemos distribuir para todo lugar."
O que os cientistas brasileiros fizeram foi identificar uma proteína do hantavírus similar à importada que fizesse o corpo reagir à
presença do micróbio. Eles identificaram o código genético responsável pela produção dessa proteína e então o introduziram numa
bactéria, para que ela servisse de
fábrica natural da substância.
As razões para a adoção desse
procedimento foram duas. Primeiro, é muito perigoso manipular o vírus em laboratório. "Não
tínhamos estrutura para isso", diz
Figueiredo. Com uma bactéria
produzindo a proteína, o trabalho
dos pesquisadores ficou bem
mais seguro. A segunda razão foi
a taxa de produção da substância,
bem mais alta nas bactérias.
A partir da produção da proteína, o teste é feito de forma simples. Basta fazê-la reagir com o
sangue do paciente e ver se há anticorpos para ela na amostra. Em
caso positivo, é sinal de que a pessoa já havia sido exposta ao vírus.
"É um método comum. Em um
dia você pode fazer o teste e saber
o resultado", afirma o cientista.
O hantavírus pode ficar até dois
meses incubado no organismo
antes dos primeiros sintomas.
Depois que eles começam, no entanto, o paciente pode morrer em
poucos dias. Tanto que, mesmo
com testes rápidos de laboratório,
a instrução para os médicos é internar o paciente assim que surge
a suspeita, deixando os exames
apenas como confirmação.
A hantavirose ataca principalmente o pulmão, causando crescente insuficiência respiratória.
No Brasil, a doença fez vítimas recentemente em Brasília e seu entorno. Desde o primeiro caso registrado, em maio, já foram 11 os
mortos por hantavirose.
Vacina
A inovação brasileira foi feita
em meio a um grande projeto de
estudos de vírus financiado pela
Fapesp (Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado de São Paulo).
Só em Ribeirão Preto, foi investido R$ 1,6 milhão, em estudos e na
criação de um laboratório de segurança de nível 3, especialmente
para manipular o hantavírus.
E a descoberta pode levar a vôos
mais altos. No futuro, os cientistas
querem investigar a possibilidade
de a proteína servir como uma vacina. "Vamos testar em animais
para ver se eles, ao serem inoculados com a proteína, desenvolvem
anticorpos contra o vírus."
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