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Dinos brasileiros sofrem "explosão demográfica"
L. Adolfo/Folha Imagem
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Crianças em museu de Peirópolis (distrito de Uberaba, MG) observam restos fossilizados de titanossauro recém-descrito, que teria mais de 15 m de comprimento |
Novo fóssil, de um herbívoro de mais de 15 m, é descrito por dupla da Unesp
Animal, representado por
duas vértebras, não ganhou
nome de espécie mas seria
o maior do Brasil; espécies
descritas têm salto após 96
REINALDO JOSÉ LOPES
DA REPORTAGEM LOCAL
Faz 65 milhões de anos que
eles se extinguiram, mas, paradoxalmente, os dinossauros
brasileiros estão passando agora por uma explosão demográfica, pelo menos em número de
espécies descritas. E, entre eles,
nenhum grupo está florescendo tanto, em termos de conhecimento científico, quanto o
dos titanossauros, herbívoros
pescoçudos que foram os maiores animais terrestres de todos
os tempos.
Recentemente, a lista passou
bem perto de ficar ainda maior,
com um gigante mais avantajado que todos os já conhecidos.
Não se trata do já célebre Maxakalisaurus topai, um titanossauro apresentado ao público
há menos de um mês por pesquisadores do Museu Nacional
da UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro). O M. topai ganhou, além do nome
científico, o apelido de maior
dinossauro brasileiro, com 13
m de comprimento. Mas um
conterrâneo e "primo" dele tinha pelo menos 15 metros de
comprimento (e talvez chegasse a 20), revela uma dupla de
paleontólogos paulistas.
A existência do monstro foi
relatada por Rodrigo Miloni
Santucci, do DNPM (Departamento Nacional de Produção
Mineral), e Reinaldo José Bertini, da Unesp (Universidade
Estadual Paulista) de Rio Claro,
em artigo na revista científica
alemã "Neues Jarbuch für Geologie und Paläontologie".
A região de origem do bicho,
o distrito de Peirópolis, perto
de Uberaba (MG), é a mesma
do M. topai. Um dos revisores
anônimos do estudo, no entanto, considerou que o material
fossilizado -duas vértebras-
não era suficiente para, pelo
menos por enquanto, dar à
criatura um nome de espécie.
"Foi muito frustrante. As
vértebras são completamente
distintas, únicas e muito diagnósticas", declarou à Folha
Reinaldo Bertini, que já é "pai"
de duas outras espécies de titanossauro. Ele e Santucci haviam planejado batizar o gigante, que também é um titanossauro, de Uberabasaurus magnificens ("lagarto magnífico de
Uberaba"). Por enquanto, diz o
paleontólogo, a dupla ficará em
compasso de espera em relação
ao material. "Talvez formalizemos algo breve, em outra revista. O mais importante foi dizer
que estudamos o material, que
traz alguns pontos interessantes para discussão", afirma.
Apesar de estar representado por apenas duas vértebras
portentosas, o bicho revela alguns detalhes interessantes. A
óbvia robustez dos ossos sugere um andar lento e pausado,
como o de um elefante, e os paleontólogos encontraram uma
estranha assimetria nas vértebras. "Seria algo patológico? Se
o fosse, poderia trazer seqüelas
à coluna vertebral do animal",
especula Bertini, ressaltando
que esse tipo de assimetria não
era incomum em saurópodes
(o nome genérico para os dinos
herbívoros pescoçudos). Como
os demais bichos de Uberaba,
ele deve ter vivido há cerca de
70 milhões de anos.
Família numerosa
Com mais esse achado, um
"boom" tupiniquim de titanossauros parece estar definitivamente configurado. Max Cardoso Langer, paleontólogo da
USP de Ribeirão Preto, lembra
que, até 1996, só duas espécies
de dinossauro (uma delas incerta) tinham sido descritas no
país. De lá para cá, a conta saltou para 15, um terço das quais
são titanossauros.
O que esses bichos, que apresentavam grande variedade de
tamanho (alguns eram relativamente pequenos, com uns 10
metros) e tinham grandes escudos ósseos no couro, podem ter
tido de especial?
"O nicho de grandes herbívoros no Cretáceo [a fase final da
Era dos Dinossauros] da América do Sul era basicamente
ocupado, e muito bem, por titanossauros", diz o pesquisador.
"Dos 90 gêneros conhecidos de
saurópodes, algo como 30 são
titanossauros, e se você se restringe ao Cretáceo, eles passam
a ser 30 dos 45. Fica claro que
eles eram, em geral, diversos
como um todo", explica Langer.
Some-se a isso o fato de que talvez não houvesse competidores de outras famílias por aqui
na época, e fica explicado porque tantas espécies desses herbívoros andam saindo das rochas do Triângulo Mineiro.
Por outro lado, o paleontólogo Ismar de Souza Carvalho, da
UFRJ, diz acreditar que o
"boom" de titanossauros pode
ser uma ilusão criada pela área
mais estudada, a bacia Bauru
(que inclui os Estados de São
Paulo e Minas Gerais, entre outros), e pela idade que a acompanha. "Se os trabalhos forem
mais diversificados geograficamente e temporalmente, os
grupos de dinossauros serão
outros", avalia.
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