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Coração tem célula-mestra, diz estudo
Mamíferos têm apenas uma mesma família de células-tronco cardíacas, que dão origem aos vasos e músculos do órgão
Estudos realizados nos
Estados Unidos podem
ajudar no desenvolvimento
de terapias celulares contra
diversos tipos de doenças
EDUARDO GERAQUE
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma mesma família de células-tronco embrionárias tem
todos os ingredientes necessários para formar os vários tipos
de células que compõem o coração dos mamíferos, segundo
pesquisas apresentadas esta semana por dois grupos independentes na revista científica
"Cell" (www.cell.com).
A descoberta poderá acelerar
algumas das ainda distantes terapias celulares contra diversos tipos de males cardíacos.
"Está demonstrada a existência de um mesmo grupo de
progenitores [espécie de família de células] com capacidade
para formar todas as células
que compõem o coração. Isso
não apenas é interessante como também é relevante para o
futuro da terapia celular cardíaca", disse à Folha o pesquisador Antônio Carlos Campos
de Carvalho, que trabalha também com células-tronco na
UFRJ (Universidade Federal
do Rio de Janeiro).
Os estudos utilizaram células-tronco embrionárias, extraídas de embriões de camundongo. No Brasil, todos os tratamentos experimentais para
cardiopatias, inclusive estudos
financiados pelo Ministério da
Saúde, usam células-tronco
adultas (veja quadro à dir.), extraídas da medula óssea.
Os resultados apresentados
agora surpreenderam os próprios autores do estudo. Para
Kenneth Chien, da Escola Médica da Universidade Harvard,
"o coração é mais parecido com
o sangue [que também tem um
tipo de formação semelhante]
do que se imaginava". Em comunicado da instituição de
pesquisa em que trabalha, o
cientista admitiu ter ficado
surpreso com os seus dados.
"Apenas uma única simples célula pode dar origem a todas as
estruturas e tecidos do coração", declarou.
Outro pesquisador, Stuart
Orkin, do Instituto Médico Howard Hughes e principal autor
de um dos trabalhos afirmou
que os dois estudos vão mudar
o pensamento dos pesquisadores sobre o desenvolvimento
dos órgãos dos mamíferos.
Diferenciação espontânea
No estudo conduzido por Orkin, foram isoladas células-tronco embrionárias nas quais
um tipo específico de gene era
expresso ("ligado"). Esse grupo
celular, de forma espontânea,
se diferenciou inicialmente em
células do músculo cardíaco e
do sistema que conduz os impulsos elétricos pelo coração.
Os pesquisadores também
descobriram uma espécie de
desvio nessa mesma linha de
diferenciação celular. Em 28%
das células, um segundo gene
entrou em ação. Isso fez com
que células de músculos lisos
fossem formadas. Esse grupo é
útil para a formação dos vasos
do coração.
Resultados semelhantes,
mas com uma outra família de
célula, foram obtidos pelo outro grupo, liderado por Alessandra Moretti, pesquisadora
do Hospital Geral de Massachusetts, em Boston. O que resta saber agora é qual a relação
entre os dois grupos celulares.
Manipulação sem tumor
Os resultados que acabam de
ser apresentados ajudam a
mostrar ainda que nem sempre
o polêmico uso de células-tronco embrionárias está atrelado
ao desenvolvimento de tumores -os chamados teratomas,
uma mistura de vários tipos de
tecido. "Tudo relativo à células-tronco ainda é muito contraditório. Mas, os dois trabalhos demonstram que seria possível
manipular as células-tronco
embrionárias de forma a garantir a injeção apenas dos progenitores, evitando assim a formação dos tumores", disse Carvalho, da UFRJ.
O problema que persiste é o
ético -afinal, para obter células-tronco é preciso destruir
um embrião de alguns dias, o
que muitos consideram o equivalente moral do assassinato.
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