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ASTRONOMIA
Sonda Beagle-2 atravessa a atmosfera marciana em sete minutos para iniciar experimentos em busca de vida
Nave européia tenta hoje pouso em Marte
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
Previsão para hoje em Isidis Planitia: tempo bom. Não há registro
de nuvens de gelo nem de tempestades de areia nos últimos dias,
durante as primeiras horas da
manhã. Em outras palavras, o cenário é o melhor possível para um
pouso bem-sucedido da sonda
britânica Beagle-2, que tenta hoje
escrever mais um capítulo da exploração de Marte.
Os riscos, entretanto, sempre
existem. "Essas condições devem
permanecer até a semana que
vem, embora a possibilidade de
um evento transitório de poeira
local não possa ser excluído", afirma relatório preparado pela companhia Malin Space Science
Systems, com base nas imagens
da Mars Global Surveyor.
Enquanto três naves não-tripuladas se preparam para fazer um
pouso na superfície de Marte entre nesta semana e no mês que
vem, os cientistas acompanham a
evolução de pequenas tempestades de areia no planeta vermelho.
Até agora as observações sugerem
a presença de apenas umas poucas regiões turbulentas, mas se sabe que muitas vezes essas tempestades chegam a atingir escala global. E nunca dá para prever quando isso pode acontecer.
Já houve, na turbulenta história
da exploração marciana, casos de
sondas de superfície que deixaram de funcionar em meio a uma
tempestade de areia. O módulo de
pouso soviético da missão Mars-3
fez um pouso suave em 1971, mas
deixou de transmitir apenas 20 segundos depois, enquanto o planeta era varrido por fortes ventos e
poeira para todos os lados.
"Tempestades de poeira intensas podem danificar instrumentos analíticos sensíveis", diz Victor Baker, da Universidade do
Arizona. No entanto, o pesquisador diz acreditar que o fato de haver sondas já em órbita do planeta
ajudará a reduzir os riscos. "Há
naves que podem visualizar o início dessas tempestades, e também
há modelos climáticos que podem prever seu desenvolvimento.
Estou certo de que elas estão sendo usadas agora para minimizar
qualquer dano possível."
De fato, a sonda americana
Mars Global Surveyor está coletando regularmente imagens das
regiões de pouso das naves que
estão para chegar em solo marciano. A primeira delas atinge o solo
hoje -espera-se que chegue inteira. É o primeiro esforço europeu na exploração de Marte.
A missão da ESA (agência espacial européia) na verdade é dupla.
Além do módulo de pouso Beagle-2, também deve hoje entrar
em órbita do planeta a nave Mars
Express, em outra manobra arriscada, que será iniciada logo após o
pouso da companheira. A primeira chance de confirmar se a Beagle-2 chegou em segurança ao solo estava prevista para as 3h15. A
senha a ser enviada pela sonda é
uma melodia do grupo pop Blur.
Os mistérios marcianos estão
longe de esgotados. Um estudo na
revista britânica "Nature"
(www.nature.com) de James
Head, da Universidade Brown
(EUA), sugere que o planeta, assim como a Terra, também tenha
eras glaciais periódicas. O fenômeno seria intenso em Marte, pela maior oscilação do ângulo de
inclinação do eixo do planeta.
A idéia será testada pelo Beagle-2 e, ainda mais, pelos Mars Exploration Rovers, jipes da Nasa
(agência espacial americana) que
descerão em Marte em janeiro.
"Esses rovers vão mostrar muito
sobre a história da água em Marte,
que nos dirá muito sobre onde a
água esteve e sua relação com o
clima", afirma a equipe.
No caso do Beagle-2, cujo nome
foi tomado emprestado da embarcação que serviu ao naturalista
Charles Darwin, no século 19, o
objetivo é ir à caça de sinais de vida. A pequena sonda não é móvel,
mas tem uma pequena broca capaz de escavar até um metro de
profundidade e analisar amostras
de solo. O objetivo será encontrar
traços de compostos orgânicos
em Marte -um sinal indireto de
atividade biológica no planeta.
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