São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2004

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ESPAÇO

Sonda Opportunity revela cenário jamais visto no planeta vermelho e robô Spirit está "a caminho da recuperação"

Novo jipe pousa com segurança em Marte

Divulgação JPL/Nasa
Visão panorâmica, em preto e branco, enviada pelo jipe Opportunity dos arredores do local de pouso, em Meridiani Planum, Marte


SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

A euforia voltou a tomar conta do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato), em Pasadena, Califórnia, com a confirmação do pouso bem-sucedido do jipe Opportunity na superfície de Marte.
O veículo agora repousa sobre Meridiani Planum, uma das regiões menos acidentadas do planeta vermelho. E o cenário revelado nas primeiras imagens enviadas é completamente diferente de tudo que já foi fotografado por sondas na superfície marciana.
"O Opportunity desceu em uma paisagem bizarra, alienígena", disse Steve Squyres, investigador principal dos instrumentos científicos dos jipes da Nasa (agência espacial americana).
O terreno é mais escuro e menos pedregoso do que o encontrado em todas as missões anteriores, incluindo aí a cratera Gusev, atualmente sendo investigada pelo jipe Spirit, do outro lado do planeta. E nas primeiras imagens os cientistas já notaram um brotamento rochoso que se converteu imediatamente em potencial alvo para uma olhada de mais perto.
Embora a descida tenha sido livre de acidentes, houve muita tensão entre as equipes de técnicos e engenheiros. O vento estava um pouco mais forte do que o previsto, e por essa razão o pouso aconteceu com alguns segundos de atraso com relação às previsões originais, às 3h05 de ontem (horário de Brasília). O local de pouso também acabou sendo afetado, e o Opportunity parou a 24 quilômetros do ponto previsto, mas ainda dentro da elipse demarcada pelos cientistas para a descida.
Diferentemente do que aconteceu na descida do Spirit, o módulo do Opportunity não desceu com a pétala-base já voltada para o chão, o que exigiu uma manobra nunca antes realizada -além de simplesmente se abrir, como uma flor, o módulo precisou fazê-lo de modo a deixar o jipe na posição correta, "cabeça para cima".

Dois jipes, uma missão
Assim como seu irmão Spirit, o Opportunity também buscará sinais de que Marte teve água corrente na superfície em seu passado. Com seus instrumentos, o jipe pretende investigar um mineral abundante na região, chamado hematita, que normalmente se forma na presença de água.
Com a presença simultânea dos dois robôs, haverá trabalho ininterrupto no JPL. Afinal, os jipes estão em lados opostos do planeta vermelho, o que quer dizer que, enquanto é dia na cratera Gusev, onde está o Spirit, é noite em Meridiani Planum, e vice-versa. O dia marciano é similar ao terrestre, com 24 horas e 39 minutos, e, enquanto durar a missão, será com base nos horários de Marte que os cientistas irão trabalhar.
Esse ritmo frenético foi ameaçado na quarta-feira passada por uma misteriosa falha do jipe Spirit, que passou a não enviar dados para a Terra, sem razão aparente.
Depois de dois dias, foi possível restabelecer contato com o robô e anteontem a Nasa anunciou que havia confirmado o diagnóstico do problema -uma falha nos sistemas de memória do computador de bordo estava fazendo com que ele se reiniciasse sem parar.
Os técnicos agora trabalham num pacote de instruções que tire o Spirit desse ciclo. Ainda há um longo caminho pela frente, mas o otimismo voltou a reinar no JPL.
"Nas últimas 48 horas, estivemos numa montanha-russa", disse Ed Weiler, vice-administrador para ciência espacial da Nasa. "Ressuscitamos um jipe e vimos o nascimento de um outro."
O módulo de pouso do Spirit rendeu homenagem aos astronautas do ônibus espacial Columbia, mortos em fevereiro de 2003. O Opportunity deve realizar homenagem similar -a quem, ninguém sabe. Ao ser questionado a respeito, o administrador da Nasa, Sean O'Keefe, disse não poder anunciar nada naquele momento. "Fiquem ligados", brincou.



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