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RUMO AO ESPAÇO/O HOMEM
Nascido em Bauru (SP), Marcos Cesar Pontes começou como aprendiz de eletricista
Astronauta brasileiro vai ao espaço nesta quarta-feira
SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL
O espaço não é realmente remoto; ele fica a uma hora de viagem,
se seu carro puder ir direto para
cima. Em menos de dez minutos,
na noite de quarta-feira, Marcos
Cesar Pontes, 43, deve ultrapassar
essa muralha imaginária, tornando-se o primeiro brasileiro a chegar à órbita terrestre. Nada mau
para um rapaz de Bauru (interior
de São Paulo) que começou como
aprendiz de eletricista.
Terceiro e último filho do casal
Virgílio e Zuleika Pontes, Marcos
passou sua infância com os pés no
chão e os olhos no céu. Nas visitas
ao Aeroclube de Bauru e à AFA
(Academia da Força Aérea), onde
o tio fazia manutenção de aeronaves, pegou gosto pela aviação.
Aos 14 anos, inscreveu-se para
um curso de eletricista no Senai,
mas seu destino em breve seria selado. Em 1980, Pontes se inscreveu para a AFA. Passou. O brevê
saiu em 1984, com uma transferência para Natal. Naquele ano,
conheceu sua mulher, Fátima.
Ainda seria transferido para Santa
Maria antes que entrasse no Instituto Tecnológico de Aeronáutica
para se formar engenheiro.
Em 1996, Pontes foi indicado
para fazer mestrado em Monterey, Califórnia (EUA). No ano seguinte, o irmão mais velho, Luiz
Carlos, contou a ele que a AEB
(Agência Espacial Brasileira) abrira um processo de seleção para
um astronauta. Sim, o Brasil teria
direito a um astronauta, como
parte de sua participação no programa de construção da ISS (Estação Espacial Internacional).
Marcos se inscreveu e foi escolhido. Com isso, teve de se mudar
para Houston, no Texas, onde fica
o Centro Espacial Johnson, sede
do treinamento de astronautas da
agência espacial americana.
Em 2000, Pontes foi declarado
apto para vôo espacial. Seus problemas, no entanto, estavam só
começando. Enquanto alguns de
seus colegas de turma começaram
a ser escalados para missões, o
Brasil mal conseguia cumprir sua
parte no programa da estação.
Ficou claro que as peças originalmente selecionadas no acordo
sairiam por muito mais do que os
US$ 120 milhões orçados pela Nasa. Em contrapartida, com a mudança de administração em 2003,
o governo se indispôs a gastar até
mesmo os US$ 120 milhões estimados originalmente. Nasa e
AEB então passaram a rediscutir a
participação brasileira na ISS.
Para piorar, em 1º de fevereiro
de 2003, o ônibus espacial americano Columbia se desintegrou no
retorno à Terra, matando sete astronautas. Resultado: a Nasa teria
de deixar suas naves na garagem,
até mostrar que os ônibus poderiam voltar a voar com segurança
- aumentando a fila de espera.
Muita gente começou a achar
que Pontes passaria à história como o astronauta brasileiro que
não voou. "Eu também", confessa, às vésperas de concluir a jornada. Só três dias e dez minutos de
vôo o separam do espaço agora.
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