São Paulo, domingo, 26 de março de 2006

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RUMO AO ESPAÇO/O HOMEM

Nascido em Bauru (SP), Marcos Cesar Pontes começou como aprendiz de eletricista

Astronauta brasileiro vai ao espaço nesta quarta-feira

SALVADOR NOGUEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

O espaço não é realmente remoto; ele fica a uma hora de viagem, se seu carro puder ir direto para cima. Em menos de dez minutos, na noite de quarta-feira, Marcos Cesar Pontes, 43, deve ultrapassar essa muralha imaginária, tornando-se o primeiro brasileiro a chegar à órbita terrestre. Nada mau para um rapaz de Bauru (interior de São Paulo) que começou como aprendiz de eletricista.
Terceiro e último filho do casal Virgílio e Zuleika Pontes, Marcos passou sua infância com os pés no chão e os olhos no céu. Nas visitas ao Aeroclube de Bauru e à AFA (Academia da Força Aérea), onde o tio fazia manutenção de aeronaves, pegou gosto pela aviação.
Aos 14 anos, inscreveu-se para um curso de eletricista no Senai, mas seu destino em breve seria selado. Em 1980, Pontes se inscreveu para a AFA. Passou. O brevê saiu em 1984, com uma transferência para Natal. Naquele ano, conheceu sua mulher, Fátima. Ainda seria transferido para Santa Maria antes que entrasse no Instituto Tecnológico de Aeronáutica para se formar engenheiro.
Em 1996, Pontes foi indicado para fazer mestrado em Monterey, Califórnia (EUA). No ano seguinte, o irmão mais velho, Luiz Carlos, contou a ele que a AEB (Agência Espacial Brasileira) abrira um processo de seleção para um astronauta. Sim, o Brasil teria direito a um astronauta, como parte de sua participação no programa de construção da ISS (Estação Espacial Internacional).
Marcos se inscreveu e foi escolhido. Com isso, teve de se mudar para Houston, no Texas, onde fica o Centro Espacial Johnson, sede do treinamento de astronautas da agência espacial americana.
Em 2000, Pontes foi declarado apto para vôo espacial. Seus problemas, no entanto, estavam só começando. Enquanto alguns de seus colegas de turma começaram a ser escalados para missões, o Brasil mal conseguia cumprir sua parte no programa da estação.
Ficou claro que as peças originalmente selecionadas no acordo sairiam por muito mais do que os US$ 120 milhões orçados pela Nasa. Em contrapartida, com a mudança de administração em 2003, o governo se indispôs a gastar até mesmo os US$ 120 milhões estimados originalmente. Nasa e AEB então passaram a rediscutir a participação brasileira na ISS.
Para piorar, em 1º de fevereiro de 2003, o ônibus espacial americano Columbia se desintegrou no retorno à Terra, matando sete astronautas. Resultado: a Nasa teria de deixar suas naves na garagem, até mostrar que os ônibus poderiam voltar a voar com segurança - aumentando a fila de espera.
Muita gente começou a achar que Pontes passaria à história como o astronauta brasileiro que não voou. "Eu também", confessa, às vésperas de concluir a jornada. Só três dias e dez minutos de vôo o separam do espaço agora.


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