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ARTIGO
É importante para o Brasil lançar astronautas ao espaço?
LUIZ GYLVAN MEIRA FILHO
ESPECIAL PARA A FOLHA
Na minha opinião, sim.
O Brasil não pode e não deve ficar à margem de qualquer desenvolvimento científico ou tecnológico que ocorra no mundo. Precisa ter um envolvimento, ainda
que pequeno, em todas as aventuras do mundo moderno, para decidir quais devem ser desenvolvidas com maior profundidade.
O setor espacial está repleto de
exemplos nesse sentido, e que resultaram na escolha de desenvolvimento de satélites e foguetes
importantes para o Brasil. Outro
exemplo é o Centro de Previsão
de Tempo e Estudos Climáticos
do Inpe, que tanto contribui para
nossa agricultura e outros setores.
A pergunta que se costuma fazer sobre a prioridade relativa entre programas básicos nos setores
de educação e saúde versus o investimento em programas na
fronteira da tecnologia como o
programa espacial, incluídos aí os
vôos tripulados como o do tenente-coronel Marcos Cesar Pontes,
tem uma resposta simples: as
duas coisas são importantes. Os
investimentos em alta tecnologia
são essenciais para garantir o
bem-estar das futuras gerações.
Se o Brasil de Getúlio Vargas
não tivesse investido na instalação da Companhia Siderúrgica
Nacional, estaríamos hoje condenados a ser uma sociedade puramente agrária, com todas as dificuldades disso decorrentes.
O que fascina no caso de vôos
tripulados são, por um lado, os
experimentos de microgravidade
que, potencialmente, podem ajudar a medicina, como no caso do
crescimento de cristais de proteína realizado em 1997 por Glaucius
Oliva em um ônibus espacial.
Além disso, e talvez mais importantes, são as perspectivas de
novos conhecimentos ainda não
imaginados, por imprevisíveis,
mas que a experiência recente
mostra que costumam ocorrer.
Ouço por vezes o argumento de
que os recursos destinados ao
programa de vôos tripulados deveriam ser aplicados em outros
setores do Programa Nacional de
Atividades Espaciais. Essas críticas são compreensíveis, quando
provêm de técnicos brasileiros
que sabem do potencial de desenvolvimento tecnológico de nosso
país e gostariam de contribuir
mais e mais rápido. Ocorre que,
em geral, os investimentos no setor espacial estão aquém do seu
potencial de realizações.
Seria razoável para o Brasil que
fossem investidos cerca de 550
milhões de reais por ano no setor
espacial. A experiência internacional mostra que o retorno dos
investimentos no setor espacial
supera com folga aquele associado a outras tecnologias, exceto a
de supercomputadores.
O setor espacial brasileiro tem
hoje condições de absorver investimentos dessa ordem, com retorno a curto prazo, em razão dos investimentos já realizados em instalações e capacitação de pessoal
técnico. O caminho a ser seguido
não é, portanto, abandonar novas
fronteiras e sim garantir que o
programa espacial como um todo
seja desenvolvido com maiores
recursos e assim realizar o seu potencial de contribuição para a
construção do país do futuro.
Deixo os meus votos de sucesso
para o tenente-coronel Pontes em
sua nova missão e fico com a certeza de que, em seu regresso ao
Brasil, muito ajudará em abrir novas fronteiras para o nosso programa espacial. Espero que sua
primeira tarefa seja auxiliar na escolha de seus sucessores como astronautas brasileiros.
Luiz Gylvan Meira Fillho, físico, é professor visitante do Instituto de Estudos
Avançados da USP. Presidia a Agência
Espacial Brasileira quando o país assinou
a participação na ISS, em 1997
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