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Chimpanzés são capazes de ato generoso, diz estudo
Grupo da Alemanha demonstrou altruísmo sem nepotismo entre esses macacos
Cientistas compararam
ações altruístas de bebês
humanos de um ano e meio
e de macacos; desempenho
dos dois grupos foi parecido
Enrique Marcarian - 15.fev.2006/Reuters
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Chimpanzé come amendoins em zoológico da Argentina |
DA REDAÇÃO
Houve um período em que os
antropólogos e estudiosos da
evolução humana achavam que
a capacidade de altruísmo desinteressado (ou, como diriam
nossas avós, de "fazer o bem
sem olhar a quem") fosse atributo exclusivo de uma espécie,
o Homo sapiens. Essa crença
acaba de cair por terra.
Cientistas do Instituto Max
Planck de Antropologia Evolutiva, na Alemanha, apresentam
em um estudo publicado ontem a evidência mais forte até
agora de que os chimpanzés,
primos-irmãos dos humanos,
são capazes de ajudar os outros
sem ganhar nada em troca.
O estudo, que comparou a
generosidade de crianças alemãs de 18 meses e a de chimpanzés semicativos de Uganda,
sai na edição de julho do periódico científico "PLoS Biology"
(www.plosbiology.org).
Desde Charles Darwin os estudiosos da evolução se batem
em torno do altruísmo. Afinal,
se a seleção natural beneficia o
mais apto a sobreviver, não deveria haver motivo para a generosidade (que muitas vezes implica em custo ou risco de vida
para quem a pratica) na natureza. Darwin chegou a confessar que o altruísmo era um
mistério para ele.
Nos anos 1970, a ciência
achou que tinha resolvido a
questão: o altruísmo demonstrado pelos animais, inclusive
os macacos, sempre beneficiava parentes (portanto, mesmo
que houvesse prejuízo para o
indivíduo, os genes da família
se beneficiariam) ou tinha uma
expectativa de retorno imediato ("uma mão lava a outra"). O
altruísmo genuíno permanecia
um bastião da humanidade.
Nos últimos anos, primatologistas têm observado aqui e ali
evidências de altruísmo genuíno também entre os chimpanzés. Para tirar a teima, o grupo
do Max Planck, liderado por
Felix Warneken, bolou três experimentos bem criativos.
No primeiro, 36 chimpanzés
e 36 bebês viam um humano
desconhecido ter um objeto
roubado por outro humano e
colocado atrás de uma grade,
ao alcance do altruísta em potencial. Mesmo sem ganhar nenhuma recompensa, bebês e
macacos pareciam se apiedar
do estranho ao vê-lo tentando
pegar o bibelô e, na maioria das
vezes, alcançavam-no para ele.
No segundo experimento,
barreiras eram colocadas para
dificultar o acesso ao objeto,
criando, assim, um "custo" para o ato generoso. Mesmo assim, a boa ação era praticada.
Mas o terceiro experimento,
feito só com chimpanzés, foi a
prova dos noves: um macaco
precisava abrir uma porta para
que outro, sem nenhum parentesco, pudesse entrar numa
jaula em busca de comida.
Mesmo sabendo que não iam
ganhar nada, 80% dos animais
ajudavam. "O resultado do experimento três surpreendeu
até a mim, o maior crente em
empatia e altruísmo entre os
primatas", escreveu Frans De
Waal, da Universidade Emory
(EUA), famoso por seus estudos com chimpanzés.
Conclusão de Warneken e
colegas: "As raízes do altruísmo
humano podem ser mais profundas do que se imaginava,
chegando até o ancestral comum entre humanos e chimpanzés". E mais: "Os grupos
culturais humanos podem ter
criado mecanismos sociais únicos para preservar e fomentar
o altruísmo. Mas eles cultivaram essa propensão em vez de
tê-la implantado na psique".
(CLAUDIO ANGELO)
NA INTERNET - Veja vídeos com os
experimentos
www.folha.com.br/071761
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