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Usina pode ganhar com gás emitido em represas
Metano exalado por hidrelétricas pode ser queimado para gerar mais energia
Técnica ajuda a combater
efeito estufa, permite lucrar
com créditos de carbono e
pode ampliar produção de
usinas na Amazônia em 60%
RAFAEL GARCIA
DA REPORTAGEM LOCAL
A emissão de gases-estufa
pelos reservatórios de hidrelétricas na Amazônia pode deixar
de ser um problema para se tornar solução. Dois grupos de
pesquisa - um no Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) e outro no Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas da
Amazônia)- já elaboraram
maneiras de capturar o gás metano (CH4) liberado pela água
que passa nas turbinas e queimá-lo para gerar mais energia.
A idéia é impedir que o metano concentrado no fundo dos
lagos chegue até as turbinas e
seja liberado na atmosfera no
momento em que a água perde
pressão, da mesma maneira
que uma garrafa de refrigerante ou de champanhe borbulha
logo depois de ser aberta.
Os dois métodos elaborados
para captura e queima de metano já estão patenteados e, segundo os cientistas, podem
ampliar em mais de 50% a capacidade de produção das hidrelétricas amazônicas localizadas em zona tropical úmida,
dependendo da usina. Para
duas delas -Balbina, no norte
do Amazonas, e Tucuruí, no
leste do Pará- já há estimativas de quanto a estratégia pode
vir a render.
"Em Ballbina passam cerca
de 65 mil toneladas de metano
por ano, conforme medimos
em 2005", diz Alexandre Kemenes, responsável pelo projeto no Inpa. "Se esse mecanismo
[de captura e queima de metano] fosse usado para aumentar
o potencial da usina, poderia
acrescentar a ela cerca 80 megawatts, cerca de 60% mais."
Em Tucuruí, que teve o potencial analisado pelo grupo de
Fernando Manuel Ramos, do
Inpe, a taxa de aproveitamento
é menor, pois a usina solta menos metano por megawatt gerado. O total das emissões lá,
porém, se equipara em escala,
já que a represa paraense é
bem maior. "A estimativa é que
a gente poderia aumentar em
até 35% a produção de energia
em Tucuruí só queimando metano que ela emite hoje através
das turbinas e nos reservatórios", diz o pesquisador. "E isso
com investimentos relativamente modestos, considerando o tamanho de Tucuruí."
Ainda não está claro quanto
pode ser o potencial da técnica
para usinas de outras regiões.
Hidrelétricas em áreas de cerrado, por exemplo, tendem a
emitir menos, mas para as duas
centrais mencionadas e para
outras três da Amazônia -Samuel, em Rondônia, Curuá-Una, no leste do Pará e Petit
Saut, na Guiana Francesa- o
caso deve ser outro.
"Se todo o metano que passa
pelas turbinas dessas cinco hidrelétricas fosse aproveitado, a
gente teria um aumento de
1.640 megawatts no potencial
hidrelétrico instalado", diz Kemenes. As represas amazônicas tendem a produzir mais
metano, em geral, porque a
massa de plantas afogadas que
apodrecem e soltam carbono
ao se decompor é muito maior
que a de outros biomas.
Além do aporte na geração
há a possibilidade de captar receita com créditos de carbono,
que entram na forma de investimento estrangeiro de países
ricos que querem compensar
suas emissões de gases estufa.
"Os números são enormes, da
ordem de grandeza da própria
usina hidrelétrica", diz Ramos.
Kemenes já se arriscou a fazer um estimativa. "Todo esse
processo diminuiria a contribuição de metano em 65%;
convertendo isso para crédito
de carbono, só Balbina arrecadaria cerca de US$ 20 milhões
por ano", afirma.
Aspirador de piscina
Segundo o grupo do Inpe,
que trabalha com a idéia há
mais tempo, a tecnologia para
reter o metano e usá-lo é relativamente simples (veja ilustração acima, à direita). A idéia
consiste em barrar a entrada de
águas profundas nas turbinas
da usina e depois bombeá-la
para a superfície, onde o gás é
retirado para a queima.
Não é muito difícil explicar
como se faz para transportar a
água rica em metano para uma
câmara na superfície. "Você já
viu um daqueles aspiradores de
piscina?", pergunta Ramos,
procurando um exemplo. "Não
existe nenhum item de tecnologia para fazer isso que já não
tenha sido desenvolvido, que
não seja de gaveta."
Após capturar o gás, a queima seria feita nos moldes de
uma termelétrica comum, mas
aproveitaria boa parte da infra-estrutura já construída para a
hidrelétrica. "A gente geraria
energia onde já existem os linhões para distribuí-la ou,
quando muito, ampliar esses linhões", diz o cientista do Inpe.
"Isso é mais barato e dispensa a
obtenção das licenças ambientais para fazer novos linhões, o
que é bem complicado."
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