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Periscópio
Estrogênio e Alzheimer
José Reis
especial para a Folha
Na revista "Scientific American"
(226, 6, 11) Marguerite Holloway
publica reportagem sobre experimentos
em ratos e camundongos que parecem
implicar o estrogênio (hormônio sexual
feminino) na amnésia característica do
mal de Alzheimer. Os personagens da
história são, além do hormônio feminino, a acetilcolina e o fator de crescimento
nervoso (NGF).
O estrogênio vem ampliando cada vez
mais sua esfera de influência. Além de
sua ação reprodutiva, ele participa de vários aspectos da diferenciação sexual do
cérebro em desenvolvimento, e sua deficiência parece associada à osteoporose e
ao infarto ligado à menopausa. Agora
surgem indícios de que sua falta contribui para a deficiência de memória e outros sintomas do mal de Alzheimer.
O NGF atua em células do sistema nervoso, estimulando o crescimento de suas
ramificações (axônio e dentritos) e favorecendo a manutenção da saúde dosneurônios (células nervosas).
Os neurotransmissores são substâncias que efetuam a comunicação química
entre os neurônios. Um dos mais importantes deles pertence ao sistema da acetilcolina. A deficiência desse neurotransmissor é muito importante para a instalação da amnésia no mal de Alzheimer.
Na Universidade Columbia, Nova
York, o grupo de pesquisa chefiado por
C. Dominique Toran-Allerand descobriu que em certos neurônios há coexistência de receptores para estrogênio e
NGF numa área que fica na base do cérebro anterior. Daí se pode inferir que talvez os dois elementos atuem juntos para
a sobrevivência desses neurônios.
A parte basal do cérebro anterior contém, em todos os mamíferos, neurônios
colinérgicos, o que permite extrapolar
das experiências em roedores para os seres humanos. Os neurônios colinérgicos,
produzindo acetilcolina, são vitais para a
memória. Nas pessoas vítimas de Alzheimer, aqueles neurônios não mais produzem acetilcolina, o que explica a amnésia
nessa doença.
Vários experimentadores estão usando
o NGF para tratar a doença de Alzheimer, tendo em vista que em sua presença
os neurônios colinérgicos não degeneram. Mas Toran-Allerand sugere que o
NGF nem sempre é suficiente. As experiências revelam que às vezes os receptores para estrogênio e NGF se encontram
presentes nas mesmas células, podendo
pois agir conjuntamente sobre elas.
Se o estrogênio é necessário para a sobrevivência e o desenvolvimento dos
neurônios colinérgicos da base do cérebro anterior, as mulheres que entram na
menopausa e sofrem drástica redução do
teor de estrogênio devem tornar-se mais
propensas à Alzheimer do que as demais
mulheres. Várias pesquisas parecem sustentar essa hipótese.
Em consequência dessa suposição, diversos centros de tratamento de mulheres com Alzheimer passaram a usar sistematicamente o estrogênio como parte
do tratamento. Afirmam os responsáveis, ainda sem provas abundantes e
bem controladas, que o tratamento acarreta reversão em vários aspectos desse tipo de demência, inclusive na memória
de curto prazo. Outros especialistas retrucam que o que ocorre é apenas alteração do humor, fato conhecido já há algum tempo. Por sua vez Miriam K. Anderson, da Escola de Medicina Albert
Einstein, observou que as mulheres com
infarto miocárdico ligado à menopausa,o qual se associa à baixa do estrogênio,são cinco vezes mais propensas ao
desenvolvimento da Alzheimer do que
as isentas de história cardíaca.
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