São Paulo, domingo, 26 de agosto de 2001

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Periscópio

Estrogênio e Alzheimer

José Reis
especial para a Folha

Na revista "Scientific American" (226, 6, 11) Marguerite Holloway publica reportagem sobre experimentos em ratos e camundongos que parecem implicar o estrogênio (hormônio sexual feminino) na amnésia característica do mal de Alzheimer. Os personagens da história são, além do hormônio feminino, a acetilcolina e o fator de crescimento nervoso (NGF).
O estrogênio vem ampliando cada vez mais sua esfera de influência. Além de sua ação reprodutiva, ele participa de vários aspectos da diferenciação sexual do cérebro em desenvolvimento, e sua deficiência parece associada à osteoporose e ao infarto ligado à menopausa. Agora surgem indícios de que sua falta contribui para a deficiência de memória e outros sintomas do mal de Alzheimer.
O NGF atua em células do sistema nervoso, estimulando o crescimento de suas ramificações (axônio e dentritos) e favorecendo a manutenção da saúde dosneurônios (células nervosas).
Os neurotransmissores são substâncias que efetuam a comunicação química entre os neurônios. Um dos mais importantes deles pertence ao sistema da acetilcolina. A deficiência desse neurotransmissor é muito importante para a instalação da amnésia no mal de Alzheimer.
Na Universidade Columbia, Nova York, o grupo de pesquisa chefiado por C. Dominique Toran-Allerand descobriu que em certos neurônios há coexistência de receptores para estrogênio e NGF numa área que fica na base do cérebro anterior. Daí se pode inferir que talvez os dois elementos atuem juntos para a sobrevivência desses neurônios.
A parte basal do cérebro anterior contém, em todos os mamíferos, neurônios colinérgicos, o que permite extrapolar das experiências em roedores para os seres humanos. Os neurônios colinérgicos, produzindo acetilcolina, são vitais para a memória. Nas pessoas vítimas de Alzheimer, aqueles neurônios não mais produzem acetilcolina, o que explica a amnésia nessa doença.
Vários experimentadores estão usando o NGF para tratar a doença de Alzheimer, tendo em vista que em sua presença os neurônios colinérgicos não degeneram. Mas Toran-Allerand sugere que o NGF nem sempre é suficiente. As experiências revelam que às vezes os receptores para estrogênio e NGF se encontram presentes nas mesmas células, podendo pois agir conjuntamente sobre elas.
Se o estrogênio é necessário para a sobrevivência e o desenvolvimento dos neurônios colinérgicos da base do cérebro anterior, as mulheres que entram na menopausa e sofrem drástica redução do teor de estrogênio devem tornar-se mais propensas à Alzheimer do que as demais mulheres. Várias pesquisas parecem sustentar essa hipótese.
Em consequência dessa suposição, diversos centros de tratamento de mulheres com Alzheimer passaram a usar sistematicamente o estrogênio como parte do tratamento. Afirmam os responsáveis, ainda sem provas abundantes e bem controladas, que o tratamento acarreta reversão em vários aspectos desse tipo de demência, inclusive na memória de curto prazo. Outros especialistas retrucam que o que ocorre é apenas alteração do humor, fato conhecido já há algum tempo. Por sua vez Miriam K. Anderson, da Escola de Medicina Albert Einstein, observou que as mulheres com infarto miocárdico ligado à menopausa,o qual se associa à baixa do estrogênio,são cinco vezes mais propensas ao desenvolvimento da Alzheimer do que as isentas de história cardíaca.


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