|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VLS-1
Centro de Lançamento de Alcântara recebe visita da imprensa e militares
anunciam a investigação de duas hipóteses para ignição do 1º estágio do lançador
Impacto ou descarga pode ter incendiado o foguete
RUBENS VALENTE
ENVIADO ESPECIAL A ALCÂNTARA
FÁTIMA LESSA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM ALCÂNTARA
Integrantes da comissão técnica
criada pela Aeronáutica para investigar as causas do incêndio que
matou 21 pessoas e destruiu o
VLS-1 (Veículo Lançador de Satélites), na sexta-feira, disseram ontem já ter certeza de que o fogo começou após uma ignição inesperada no motor do primeiro estágio, na parte inferior do foguete,
mas ainda não sabem o que provocou o acionamento.
Os técnicos concederam entrevista coletiva perto dos destroços
do foguete e da torre móvel em
que estava instalado, na base de
Alcântara (a 22 km de São Luís).
Ontem, pela primeira vez desde o
acidente, a Aeronáutica autorizou
a entrada de jornalistas na base.
O coordenador da Operação
São Luís, major-brigadeiro Tiago
da Silva Ribeiro, apontou duas hipóteses para explicar o acionamento da ignição: choque (pancada) e uma onda eletromagnética.
Ambas podem ter sido causadas
por uma série de fatores.
A Operação São Luís tinha por
objetivo lançar em órbita, pela
primeira vez, um satélite brasileiro por meio de um foguete construído no país e lançado de uma
base nacional. Esse feito realizaria
a chamada Missão Espacial Completa Brasileira (MECB). As duas
tentativas anteriores de lançar o
foguete VLS-1, em 1997 e 1999,
também resultaram em fracasso.
"Estamos pesquisando como
foi essa ignição intempestiva do
primeiro estágio", disse o brigadeiro. "Um motor [de foguete]
tem um ignitor e um iniciador. O
iniciador é um explosivo primário que pode ser acionado por
corrente elétrica, por uma estática, remotamente, talvez por um
raio que pudesse ter caído na região ou uma onda de rádio, e por
um choque direto. Como ele é um
explosivo primário, com o choque ele também se inicia."
Duas hipóteses
"[Há] dois fenômenos possíveis: o impacto e o choque [elétrico]. A origem do impacto e do
choque pode ser imensa, até cair
um martelo em cima pode deflagrar o processo", disse o engenheiro Luiz Roberto Del Monaco,
do CTA (Centro Técnico Aeroespacial), de São José dos Campos
(SP), da comissão de investigação.
"A corrente elétrica pode ter
origem em raios, em emissão eletromagnética ou em indução por
uma fonte de energia diretamente
aplicada no local ou no sistema,
num fio, num condutor elétrico
levando uma corrente com uma
tensão ter acionado [o motor]",
disse o engenheiro.
Del Monaco explicou que a onda eletromagnética, em tese, pode
ser gerada também a partir de comunicação por ondas. "Como se
recebe [sinal] através de uma antena? São ondas eletromagnéticas
se propagando através do espaço,
alguém transmitindo e alguém recebendo. Alguém transmitindo
em altíssima potência pode induzir corrente elétrica novamente, o
que deflagra o processo."
O engenheiro do CTA Mauro
Dolinsky, vice-diretor da Operação São Luís e membro da equipe
de investigação, no entanto,
adiantou que há pelo menos uma
séria dificuldade técnica para a
identificação correta da causa. Ele
revelou que os dados necessários
para uma análise mais precisa do
que ocorreu não foram todos armazenados. "Infelizmente, os sistemas de registro não estavam todos ligados. Nós não estávamos
numa operação de lançamento."
Ele disse que a investigação pode acabar sem oferecer resposta
definitiva. "Podemos até não chegar a uma coisa conclusiva. Podemos dizer [ao final da apuração]:
"Olha, pode ter sido isto ou isto"."
Indagado se uma onda eletromagnética pode ter sido gerada
criminosamente, num ato de sabotagem, Dolinsky afirmou que
não cabe à comissão dizer se foi
sabotagem ou não.
Um jornalista quis saber se um
satélite seria capaz de, direcionado para o foguete, provocar tal
efeito. O engenheiro Del Monaco
qualificou a possibilidade como
"pouco provável". Dolinsky e Ribeiro disseram que o leque das investigações é amplo: "Qualquer
coisa que falemos agora, em termos de causa, é muito prematura", disse o brigadeiro.
O diretor do Deped (Departamento de Pesquisa e Desenvolvimento) da Aeronáutica, brigadeiro Sérgio Pedro Bandini, disse
que a comissão de investigação
pretende reconstruir na base o foguete incendiado, para avaliação.
"Vai ser um trabalho de detetive
espacial", disse o brigadeiro.
A comissão, presidida pelo coronel-aviador Antonio Cerri, tem
prazo inicial de 30 dias para apresentar resultados. Anteontem, em
São Luís, Cerri disse que avaliará
"todas as possibilidades".
Verbas
O coordenador da Operação
São Luís, major-brigadeiro Tiago
da Silva Ribeiro, estimou em "três
ou quatro anos" o tempo necessário para reposição dos quadros no
projeto. Morreram 11 pessoas
com formação superior e dez técnicos de nível médio. "Temos de
ter uma ação clara e rápida para a
contratação de pessoal", disse.
Os militares enfatizaram aos
jornalistas que o incêndio no mato gerado pelo acidente não ultrapassou uma área de 50 metros. Segundo Bandini, é preciso "acalmar a população" de Alcântara.
Bandini disse que não há riscos
para os moradores. O local do acidente fica a 9 km da cidade.
Texto Anterior: Lula diz que programa espacial vai continuar Próximo Texto: Saiba mais: Investigador é piloto e oficial condecorado Índice
|