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Para grupo de pesquisa, índole violenta é uma doença mental
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
"Esse conhecimento tem de
ser referenciado para políticas
públicas", diz o secretário estadual da Saúde Osmar Terra, sobre o projeto de seu grupo com
adolescentes homicidas. E colocar o problema da violência
no foco da saúde, dizem os
cientistas, implica em tratar as
agressores crônicos como
doentes mentais. "Estamos
"medicalizando" questões sociais", diz Renato Flores.
Para os cientistas, a pesquisa
pode identificar pontos para o
Estado atuar, como o ambiente
inadequado para desenvolvimento de crianças. "Acho que
isso vai servir para fazer a prevenção", diz Jaderson da Costa.
Não se trata, porém, de tratar o
crime como problema de natalidade, como propõe o governador do Rio de Janeiro, Sérgio
Cabral, defendendo o aborto
como forma de evitar o nascimento de crianças sem amparo. "Acredito em medidas como
pré-natal e assistência na primeira infância. A falta disso pode estar na gênese de muitos
casos de violência", diz Costa.
Tratar o comportamento
violento como uma seqüela adquirida na infância, porém, traz
questões éticas. Um adolescente deve, afinal, ser culpado pela
própria índole, tendo escolhido
o caminho da violência? "Nessa
questão o livre arbítrio está indo pelo ralo: as pessoas não escolhem ser violentas", diz Flores, que defende uma reavaliação da tradição jurídica sobre
punição. "O que as neurociências dizem é que alguma coisa
vai ter que mudar."
Mas e se a isenção de culpa se
chocar com a segurança? Se a
ciência mostrar que transtornos como a psicopatia não são
curáveis, o que deve ser feito?
"Acho que quando o psicopata
comete um crime grave ele não
pode sair da prisão", diz Terra.
Alguns agressores, porém,
podem ser "tratáveis". Para isso, Flores defende o controle
externo. "O que funciona é dizer ao paciente: "Vou ficar no
teu pé, tu tens que vir na consulta [do psicólogo], e se tu
aprontar nós vamos estar te
olhando'", diz o cientista. "E
controle social externo é melhor feito por nós do que pela
polícia, porque nós queremos
que o cara se se dê bem." (RG)
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