São Paulo, segunda-feira, 26 de novembro de 2007

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Para grupo de pesquisa, índole violenta é uma doença mental

DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

"Esse conhecimento tem de ser referenciado para políticas públicas", diz o secretário estadual da Saúde Osmar Terra, sobre o projeto de seu grupo com adolescentes homicidas. E colocar o problema da violência no foco da saúde, dizem os cientistas, implica em tratar as agressores crônicos como doentes mentais. "Estamos "medicalizando" questões sociais", diz Renato Flores.
Para os cientistas, a pesquisa pode identificar pontos para o Estado atuar, como o ambiente inadequado para desenvolvimento de crianças. "Acho que isso vai servir para fazer a prevenção", diz Jaderson da Costa. Não se trata, porém, de tratar o crime como problema de natalidade, como propõe o governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, defendendo o aborto como forma de evitar o nascimento de crianças sem amparo. "Acredito em medidas como pré-natal e assistência na primeira infância. A falta disso pode estar na gênese de muitos casos de violência", diz Costa.
Tratar o comportamento violento como uma seqüela adquirida na infância, porém, traz questões éticas. Um adolescente deve, afinal, ser culpado pela própria índole, tendo escolhido o caminho da violência? "Nessa questão o livre arbítrio está indo pelo ralo: as pessoas não escolhem ser violentas", diz Flores, que defende uma reavaliação da tradição jurídica sobre punição. "O que as neurociências dizem é que alguma coisa vai ter que mudar."
Mas e se a isenção de culpa se chocar com a segurança? Se a ciência mostrar que transtornos como a psicopatia não são curáveis, o que deve ser feito? "Acho que quando o psicopata comete um crime grave ele não pode sair da prisão", diz Terra.
Alguns agressores, porém, podem ser "tratáveis". Para isso, Flores defende o controle externo. "O que funciona é dizer ao paciente: "Vou ficar no teu pé, tu tens que vir na consulta [do psicólogo], e se tu aprontar nós vamos estar te olhando'", diz o cientista. "E controle social externo é melhor feito por nós do que pela polícia, porque nós queremos que o cara se se dê bem." (RG)

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