São Paulo, quinta-feira, 26 de novembro de 2009

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Adiar acordo legal no clima pode ser até vantagem, diz ONU

Para chefe da Convenção do Clima, não há razão para não fechar tratado completo, mas acordo político forte em Copenhague reduziria tempo de implementação

RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BONN

A onze dias do início da conferência do clima, o secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, Yvo de Boer, disse ontem que "não há plano B para Copenhague". "Só há um plano A. E A quer dizer ação", disse de Boer, falando a jornalistas em Bonn, na Alemanha, sede da Convenção.
Na reunião internacional que acontece na capital dinamarquesa entre 7 e 18 de dezembro, De Boer diz esperar, "preto no branco", um conjunto de decisões que esclareça definitivamente quatro pontos: as metas de redução de emissões poluentes dos países ricos, os compromissos dos países em desenvolvimento e o financiamento de ações para combater o aquecimento global nos países menos desenvolvidos -além de clareza sobre como será disponibilizada a verba.
Depois que esse "conjunto de decisões" for definido na Dinamarca, afirma, "será necessário um curto prazo para finalizar o tratado, se os países decidirem que é isso o que querem". Uma decisão como essa não seria um retrocesso, segundo De Boer -pelo contrário, ela tem até certas vantagens. "Quem acompanhou o processo de Kyoto sabe como o protocolo demorou para entrar em vigor. Se as decisões forem adotadas assim, isso significaria ações imediatas para mitigação, adaptação, tecnologia, financiamento, capacitação e desmatamento", disse o holandês.
Ao mesmo tempo, Yvo de Boer afirmou que não vê razões para adiar um acordo final sobre o clima para 2010. "Todos os países industrializados, menos os Estados Unidos, propuseram metas de redução de suas emissões poluentes. Os países ricos estão reconhecendo a necessidade de financiamento significativo. E os grandes países em desenvolvimento ou já têm uma estratégia climática nacional, ou estão para anunciar uma", disse, antes da divulgação da meta americana.
De Boer disse ainda não ver contradição em ter um acordo político que possa ser posto em prática imediatamente, na mesma linha das declarações do presidente norte-americano, Barack Obama, que na semana passada falou num acordo político com "efeito operacional imediato". "Primeiro, não acho que algum país vá recuar das metas individuais. Segundo, se a Conferência das Partes [de Copenhague] toma uma decisão para, digamos, estabelecer um novo mecanismo de tecnologia, eu sei que isso é suficiente para iniciar ações imediatas", afirmou.

Ricos e pobres
O diplomata ainda criticou as metas de redução apresentadas pelos países ricos. "São insuficientes para manter o aumento da temperatura mundial abaixo de 2C", afirmou, atacando também países que colocam condições para reduzir emissões -a exemplo da União Europeia, que só aumentará seus cortes de 20 para 30% até 2020 se outros fizerem o mesmo.
De Boer citou também as propostas de redução do Brasil e da Coreia do Sul. "Precisamos de detalhes para saber como os países em desenvolvimento medirão suas reduções internacionalmente. Mas as metas mostram o empenho desses países para agir."
Para o secretário-executivo, a presença de Barack Obama (da qual ele ainda não sabia) será "decisiva para um bom resultado em Copenhague". "Não vejo razão para os EUA não assinarem um instrumento internacional legalmente vinculante. O que os EUA disseram é que não queriam uma meta imposta internacionalmente. Mas quem acompanhou o processo do Protocolo de Kyoto sabe que as metas não foram impostas."


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