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Adiar acordo legal no clima pode ser até vantagem, diz ONU
Para chefe da Convenção do Clima, não há razão para não fechar tratado completo, mas acordo político forte em Copenhague reduziria tempo de implementação
RENATE KRIEGER
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA, EM BONN
A onze dias do início da conferência do clima, o secretário-executivo da Convenção do Clima das Nações Unidas, Yvo de
Boer, disse ontem que "não há
plano B para Copenhague". "Só
há um plano A. E A quer dizer
ação", disse de Boer, falando a
jornalistas em Bonn, na Alemanha, sede da Convenção.
Na reunião internacional que
acontece na capital dinamarquesa entre 7 e 18 de dezembro,
De Boer diz esperar, "preto no
branco", um conjunto de decisões que esclareça definitivamente quatro pontos: as metas
de redução de emissões poluentes dos países ricos, os
compromissos dos países em
desenvolvimento e o financiamento de ações para combater
o aquecimento global nos países menos desenvolvidos
-além de clareza sobre como
será disponibilizada a verba.
Depois que esse "conjunto de
decisões" for definido na Dinamarca, afirma, "será necessário
um curto prazo para finalizar o
tratado, se os países decidirem
que é isso o que querem". Uma
decisão como essa não seria um
retrocesso, segundo De Boer
-pelo contrário, ela tem até
certas vantagens. "Quem
acompanhou o processo de
Kyoto sabe como o protocolo
demorou para entrar em vigor.
Se as decisões forem adotadas
assim, isso significaria ações
imediatas para mitigação,
adaptação, tecnologia, financiamento, capacitação e desmatamento", disse o holandês.
Ao mesmo tempo, Yvo de
Boer afirmou que não vê razões
para adiar um acordo final sobre o clima para 2010. "Todos
os países industrializados, menos os Estados Unidos, propuseram metas de redução de
suas emissões poluentes. Os
países ricos estão reconhecendo a necessidade de financiamento significativo. E os grandes países em desenvolvimento
ou já têm uma estratégia climática nacional, ou estão para
anunciar uma", disse, antes da
divulgação da meta americana.
De Boer disse ainda não ver
contradição em ter um acordo
político que possa ser posto em
prática imediatamente, na
mesma linha das declarações
do presidente norte-americano, Barack Obama, que na semana passada falou num acordo político com "efeito operacional imediato". "Primeiro,
não acho que algum país vá recuar das metas individuais. Segundo, se a Conferência das
Partes [de Copenhague] toma
uma decisão para, digamos, estabelecer um novo mecanismo
de tecnologia, eu sei que isso é
suficiente para iniciar ações
imediatas", afirmou.
Ricos e pobres
O diplomata ainda criticou as
metas de redução apresentadas
pelos países ricos. "São insuficientes para manter o aumento
da temperatura mundial abaixo de 2C", afirmou, atacando
também países que colocam
condições para reduzir emissões -a exemplo da União Europeia, que só aumentará seus
cortes de 20 para 30% até 2020
se outros fizerem o mesmo.
De Boer citou também as
propostas de redução do Brasil
e da Coreia do Sul. "Precisamos
de detalhes para saber como os
países em desenvolvimento
medirão suas reduções internacionalmente. Mas as metas
mostram o empenho desses
países para agir."
Para o secretário-executivo,
a presença de Barack Obama
(da qual ele ainda não sabia) será "decisiva para um bom resultado em Copenhague". "Não
vejo razão para os EUA não assinarem um instrumento internacional legalmente vinculante. O que os EUA disseram é
que não queriam uma meta imposta internacionalmente. Mas
quem acompanhou o processo
do Protocolo de Kyoto sabe que
as metas não foram impostas."
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