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Brasileiros fazem o seu primeiro "nanopoema"
Obra de Arnaldo Antunes é escrita em fio com 1 milésimo da largura de um cabelo
Trabalho surgiu da ideia de artista plástico em parceria com físicos da Unicamp e do Laboratório Nacional de Luz Síncrotron, em Campinas
JOSÉ ALBERTO BOMBIG
ENVIADO ESPECIAL A CAMPINAS
Um fio mil vezes mais fino do
que um cabelo. Nele, uma única
palavra: "Infinitozinho", tirada
de um poema-escultura do
compositor Arnaldo Antunes.
Da união entre dois institutos da Unicamp (Universidade
Estadual de Campinas) e o
LNLS (Laboratório Nacional
de Luz Síncrotron) surgiu esse
que os pesquisadores acreditam ser o primeiro "nanopoema" brasileiro. Ou o primeiro
poema grafado com tecnologia
especial numa estrutura na escala de nanômetros. Um nanômetro vale 1-9 metro, igual a um
milionésimo de milímetro.
O experimento foi realizado
em março no Centro de Nanociência e Nanotecnologia César
Lattes do LNLS a partir de uma
ideia do poeta e músico Juli
Manzi, nome artístico do doutorando do Instituto de Artes
da Unicamp Giuliano Tosin,
que, desde 2006, desenvolve
pesquisa para a tese "Transcriações: reinventando poemas
em meios eletrônicos".
"Em uma conversa com meu
irmão Giancarlo Tosin, físico
do LNLS, fizemos uma avaliação das tecnologias recentes
que estariam ao alcance para
uma transcriação poética. O
critério era de que a tecnologia
deveria veicular conteúdo verbal de forma perceptível. A nanotecnologia parecia ser a que
melhor se encaixava em nosso
propósito", explica Manzi.
Em seguida, ele procurou o
professor Daniel Ugarte, do
Instituto de Física. Ambos definiram que a melhor alternativa era realizar furos em um nanofio de fosfeto de índio, um
material semicondutor, com
um feixe de elétrons gerado no
microscópio eletrônico de
transmissão em varredura
inaugurado neste ano no
LNLS. O aparelho foi financiado pela Fapesp (Fundação de
Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo).
Luiz Henrique Tizei, doutorando no Instituto de Física,
realizou o procedimento de escrita no nanofio desenvolvido
pelas pesquisadoras Thalita
Chiaramonte e Mônica Cotta.
A palavra-poema foi escrita
de trás para diante, a partir da
extremidade livre do nanofio,
com o microscópio modelo
JEOL2100F-URP. As medidas
são da ordem de 35 nanômetros por 440 nanômetros -um
milésimo de um fio de cabelo.
Elétrons escultores
"Tudo consiste em escavar o
nanofio com um feixe de elétrons. Poderíamos dizer que fomos esculpindo furos no nanofio. Tudo levou cerca de cinco
horas", explica o físico Tizei.
"Quando o Giuliano falou
que o poema consistia em uma
palavra, ficou bem mais fácil",
brinca Ugarte, que pesquisa a
nanotecnolgia há 20 anos. Juli
Manzi diz crer que o resultado
seja inédito no Brasil.
"Experiências similares com
poesia já foram realizadas em
outros países, como na Universidade de Cardiff, no Reino
Unido, em 2007. As imagens do
"nanopoema" serão expostas
inicialmente em banners impressos, como um poema-cartaz", conta. "Vi o trabalho [o
poema de Arnaldo Antunes] na
2ª Bienal de Artes Visuais do
Mercosul, em Porto Alegre, em
1999. Há a semelhança entre o
conteúdo do poema e o novo
ambiente gerado para a transcriação, pelas relações entre o
diminutivo e o muito pequeno.
As propriedades semânticas
pareciam caber perfeitamente
no contexto da nanoescritura."
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