São Paulo, segunda-feira, 27 de junho de 2011

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Biotecnologia precisa de dinheiro privado

Mapeamento caracteriza setor de biotecnologia no país, que sobrevive com recursos públicos sem gerar receita

Para especialistas, é preciso garantir que as empresas sobrevivam depois de saírem das chamadas incubadoras

ELIDA OLIVEIRA
DE RIBEIRÃO PRETO
SABINE RIGHETTI
DE SÃO PAULO

A biotecnologia no Brasil é representada por 237 empresas, sendo 63% delas criadas na última década. A maior parte (78%) depende de financiamento do governo.
Os dados fazem parte de um mapeamento feito pela BrBiotec (Associação Brasileira de Biotecnologia) e divulgados com exclusividade para a Folha.
A pesquisa foi feita em parceria com a Apex-Brasil (Agência Brasileira de Promoção de Exportação e Investimentos) e o Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), e será apresentada nesta semana na Bio Convention, em Washington, EUA.
Nas empresas de biotecnologia, o país se destaca na pesquisa em saúde humana (40% das companhias), saúde animal (14%), reagentes (13%), agricultura (10%) e ambiente e bioenergia (15%) ""os mais "promissores".
Eduardo Giacomazzi, diretor-executivo da BrBiotec, diz que, apesar de incipiente, o setor tem potencial para crescer. "Precisamos incentivar as empresas a olhar para o mercado externo e atrair investimentos", diz.
Isso porque o retorno do investimento em pesquisa é incerto, especialmente nas empresas pequenas e micros, que compõem 80% do setor de biotecnologia no Brasil.

SEM DINHEIRO
O problema é que cerca de 20% das empresas de biotecnologia do país trabalham sem gerar receita porque estão em fase de desenvolvimento do produto ""o que pode levar em média dez anos.
Com isso, poucas conseguem sair das chamadas incubadoras de empresas e não sobrevivem no mercado. "Há recursos para a fase inicial de pesquisa. Mas falta para investir nos testes dos produtos e para sair das incubadoras", diz José Maria Silveira, economista da Unicamp e estudioso da área.
De acordo com ele, os fundos setoriais têm um papel importante para colocar dinheiro nos polos tecnológicos e nas incubadoras. Os 16 fundos que existem hoje são mantidos com recursos federais pela Finep (Financiadora de Estudos e Projetos).
"Parte das empresas de biotecnologia não sobrevive porque é comprada por empresas maiores", explica a bióloga Marie-Anne Sluys, especialista no assunto.
Esse foi o caso da Alellyx, empresa muito atuante no genoma da xylella fastidiosa (o "amarelinho" dos laranjais). Ela foi comprada pela Monsanto em 2008.
Um dos criadores da Alellyx, o biólogo Fernando Reinach, hoje trabalha no desenvolvimento de um fundo que visa justamente investir em empresas de base tecnológica para gerar inovação.
Segundo Giacomazzi, o setor, apesar de movimentar US$ 27 trilhões no mundo, ainda atrai pouco investimento estrangeiro ao Brasil.
A Invent Biotecnologia, empresa do setor de fármacos, de Ribeirão Preto, conhece essa realidade.
"Seriam necessários de R$ 5 a R$ 6 milhões para escalonar [aumentar] a empresa, mas os recursos públicos chegam no máximo a R$ 3 milhões", diz Sandro Soares, diretor da Invent.


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