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PERISCÓPIO
A monogamia entre animais
JOSÉ REIS
especial para a Folha
Só em poucos mamíferos (5%)
se desenvolveu a monogamia, ao
contrário das aves (92%).
Monogamia, aqui, é a situação
em que o macho se mantém unido a uma só fêmea pelo menos
durante uma estação de criação,
havendo, entretanto, uniões que
duram a vida inteira.
É muito grande a diferença entre a monogamia nos machos e
nas fêmeas.
A explicação que se costuma
dar dessa diferença é que o investimento do macho em espermatozóides é pequeno, comparado ao da fêmea em ovos.
Ela geralmente nasce com estoque limitado de óvulos e, além
disso, é fisiologicamente impedida de procriar durante o período da gestação.
A competição forçaria naturalmente os machos à poligamia
por assegurar a cada macho a sobrevivência de mais genes. As
coisas não são assim tão simples,
pois intervém a necessidade de
cuidar dos filhos, de que os machos muitas vezes participam.
Os animais de casco geralmente são polígamos, mas pequenos
antílopes africanos, que às vezes
até formam pares permanentes,
constituem exceções.
Por que assim acontece? Uma
possibilidade óbvia é a defesa do
território, que se torna exclusiva
da fêmea e das crias. Mas, nesse
caso, como explicar que vários
macacos constituam haréns e
consigam defender o território
que abriga a família?
A explicação deve, pois, ser
mais complexa. Talvez resulte
do espaçamento das fêmeas, em
vista da distribuição muito espalhada dos alimentos.
O território que teria de ser defendido para manter muitas fêmeas seria demasiadamente
grande. Assim se tem explicado
a monogamia em gibões.
Mas a explicação da dispersão
do alimento por larga área não
bastaria para dar conta da monogamia entre os pequenos antílopes.
R. Dunbar, que estuda exaustivamente esses animais, acha que
a formação de pares está mais ligada à necessidade de proteção
da fêmea contra predadores.
O macho tem de ser uma sentinela permanente enquanto a fêmea se alimenta. Esse fato é tão
evidente que os dois nunca se
alimentam ao mesmo tempo, ficando um sempre de vigia.
Nas aves, os machos são praticamente coagidos à monogamia
porque os ovos, uma vez postos,
têm de ser incubados continuamente e os filhotes, quando nascem, são voracíssimos e naturalmente precisam ser alimentados. E é de todo "interesse" do
macho criar toda a ninhada para
perpetuar a maior quantidade
possível de seus genes. Mas também entre as aves monógamas
existem as "traições", representadas por machos que formam
outros pares; mas eles só cuidam
do primeiro lar. Já se verificou
que, em certos casos, é mais interessante para a fêmea ser polígama num território de qualidade boa do que fiel num de má
qualidade.
Segundo Dunbar, não há explicação única para a evolução
da monogamia, aplicável a todas
as espécies. Ela deve ter evoluído
de várias formas conforme as
necessidades de cada espécie.
Mas E. O. Wilson, para quem os
animais são fundamentalmente
polígamos -sendo a monogamia uma condição derivada evolucionariamente-, diz que a fidelidade é uma condição especial que evolui quando a vantagem darwiniana de cooperação
na criação dos filhos sobrepuja a
vantagem de cada parceiro em
buscar companheiros extras.
Precondições ecológicas parecem-lhe explicar todos os casos
de monogamia: 1) o território
contém recursos tão escassos e
preciosos que se tornam necessários dois adultos para defendê-lo; 2) o ambiente físico é tão
difícil que se tornam necessários
dois adultos para enfrentá-lo; 3)
a criação precoce é tão útil que a
vantagem inicial permitida pelo
acasalamento monogâmico é
decisiva.
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