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FUTURO
Estudo nos EUA, realizado com macacos, procura desenvolver um método para
evitar rejeição, pelo sistema de defesa do corpo humano, de órgãos implantados
Transplante sem rejeição
MARCELO FERRONI
da Reportagem Local
A rejeição a órgãos transplantados pelo corpo humano pode deixar de ocorrer, ou pelo menos ser
controlada sem o uso constante de
drogas, se uma nova abordagem
proposta por pesquisadores dos
EUA der resultados positivos em
novos experimentos.
O método, testado em macacos
rhesus, mostrou-se efetivo mesmo
após dez meses do fim do uso de
uma droga contra a rejeição. Para
este ano, estão previstos os primeiros testes em seres humanos.
"Essa abordagem funciona muito bem em macacos, cujo organismo geralmente se comporta como
o de humanos no que diz respeito à
rejeição", disse Allan Kirk, principal investigador do estudo, em entrevista por e-mail à Folha.
"No entanto há um enorme número de variáveis que precisamos
estudar antes que a terapia seja
bem-sucedida em humanos. Estou
convencido de que o princípio é
válido e que deverá funcionar,
mas, como toda a pesquisa, há
muito o que ser compreendido."
Kirk, do Centro Naval de Pesquisa Médica, em Maryland, nos EUA,
realizou a pesquisa ao lado de uma
equipe de outros 15 cientistas de
centros norte-americanos. Os resultados foram publicados na edição de junho da revista "Nature
Medicine".
O método surgiu a partir do estudo da forma como o organismo
reage ao detectar a presença de um
corpo estranho.
Em uma das etapas do processo
de rejeição, duas células relacionadas ao sistema de defesa do organismo se unem e, assim, ativam as
chamadas células-T "assassinas",
que atacam o corpo estranho (veja
quadro ao lado).
O que os pesquisadores fizeram
foi injetar nos macacos uma substância chamada hu5C8, que atacou
um dos compostos que atuava como um "engate" na ligação entre
as células. Sem a ligação, o sistema
imunológico não pôde produzir
formas de combate ao órgão transplantado.
Segundo a publicação, "o efeito
(do uso da substância hu5C8) persistiu por mais de dez meses após o
fim da terapia, e nenhuma droga
adicional foi necessária para atingir a duração prolongada do órgão
transplantado".
Em um artigo na mesma edição
da "Nature Medicine", Polly Matzinger, dos Institutos Nacionais de
Alergia e Doenças Infecciosas, dos
EUA, discute o estudo de Kirk.
Segundo ela, apesar de promissor, há detalhes que ainda precisam ser desvendados pelos cientistas envolvidos.
Em um deles, Matzinger ressalta
que os macacos, mesmo após o uso
da droga, continuaram a produzir,
em níveis baixíssimos, anticorpos
contra o corpo estranho.
Apesar de seu pequeno número,
diz ela, "o efeito pode acabar se
tornando um problema".
O próprio processo de como a
substância hu5C8 neutraliza o "engate" entre as células "permanece
como especulação", escreveram
Kirk e seus colaboradores.
A busca pelo fim da rejeição
Atualmente, as drogas usadas
contra a rejeição a órgãos transplantados, como a ciclosporina,
procuram inibir o sistema imunológico humano.
Os principais problemas do método, no entanto, é que as drogas
precisam ser usadas durante toda a
vida e, segundo Matzinger, a supressão do sistema de defesa faz
com que os pacientes vivam constantemente com o risco de contrair
doenças infecciosas e tumores, entre outros efeitos colaterais.
Outros estudos publicados recentemente também procuram
combater a rejeição de órgãos com
o uso de novas substâncias.
É o caso do estudo realizado por
Uwe Staerz, do Centro Nacional
Judaico Médico e de Pesquisas, nos
Estados Unidos.
O método, publicado na edição
de março do ano passado da revista "Nature Biotechnology", procura "desligar" as células que atacam
o corpo estranho ao introduzir no
corpo humano um anticorpo produzido artificialmente.
O restante do sistema imunológico não seria afetado pela nova
substância, segundo Staerz. Além
disso, o paciente não precisaria
usar o composto pelo resto da vida. Espera-se que sejam realizados
testes em seres humanos no ano
que vem.
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